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CORAÇÕES SELVAGENS
Conheça histórias de namoros proibidos resolvidas com a razão
Amores difíceis
AUGUSTO PINHEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Casos de jovens que enfrentam proibições dos pais são situações mais que
comuns em qualquer família. Felizmente, a maioria não age como a estudante
Suzane von Richthofen, 19, que pretendeu solucionar o problema eliminando
os próprios pais. A saída é dialogar.
O Folhateen ouviu alguns jovens que
já experimentaram dificuldades com a
família quando o assunto é namoro e a
avaliação de especialistas.
Os estudantes Paula, 21, e Roberto, 19,
que namoram há um ano e meio, enfrentam juntos uma situação complicada. A
mãe dele é contra o relacionamento porque Paula é negra. "Tem aquele negócio
de neonazismo na família", diz Roberto.
Apesar do preconceito, os dois resolveram manter o relacionamento, e Paula
frequenta a casa de Roberto. "Eu sei que
estou desrespeitando uma idéia dela,
mas ele é meu namorado", diz Paula. Roberto condena veementemente o preconceito da mãe e diz categórico: "Acho
que ela devia prestar mais atenção ao que
o filho dela sente pela namorada".
A psiquiatra Maria Inês Quintana, da
Unifesp, acha que a atitude de Roberto é
positiva. "Ele está se posicionando. E não
há nenhum problema de caráter ou personalidade da namorada, apenas puro
preconceito da mãe", diz.
O psicólogo Elias Korn, também da
Unifesp, concorda: "Acho muito importante que os adolescentes possam sustentar as suas opiniões, principalmente
em um caso de preconceito. Ele tem todo
o direito de discordar e de estabelecer
um debate".
Outra filha que resolveu enfrentar a
opinião dos pais, mas acabou contando
com o apoio deles depois de muita conversa, foi a estudante Carla, 19. Ela namora há um ano e meio um rapaz que,
segundo ela, fumava maconha. "Logo
que começamos a namorar, falei que não
aceitaria essa vida para mim."
Quando os pais descobriram o envolvimento do rapaz com a droga, pediram
para que ela acabasse o namoro. Mas
Carla continuou disposta a ajudar o parceiro e atualmente apóia o tratamento
que ele faz contra as drogas. "Hoje meus
pais aceitam o namoro porque eu expliquei tudo sobre o tratamento. Eles ligam
para perguntar como ele está", diz.
Para Korn, Carla "teve um olhar mais
amplo, no sentido de perceber que o namorado precisava de ajuda". E destaca:
"Existe um preconceito de que quem usa
maconha é marginal ou que vai se tornar
criminoso. Isso é uma generalização
muito perigosa", diz, lembrando que "os
princípios da conversa e do diálogo sempre são favoráveis à mudança".
No caso da estudante Joana, 18, os pais,
que adoravam seu namorado, começaram a fazer pressão para que ela acabasse
o namoro depois que Tony (o namorado) brigou com o irmão dela. "O Tony
achava que eu tinha beijado outro cara e
ficou no meu pé com essa história. Eu
acabei contando para o meu irmão, que
brigou com ele", lembra.
Então, Joana ficou "revoltada" e saiu
de casa. Pegou o edredon, o material escolar e algumas roupas e foi para a casa
de uma amiga, onde ficou dois dias. Depois, mudou-se para a casa da tia-avó.
"Eu rompi com eles, nem conversava",
conta. "Foi bom porque eu estava sempre com meu namorado, mas foi ruim
porque eu estava longe dos meus pais."
Como a mãe era diretora de uma das
unidades do seu colégio, Joana conta que
"todo mundo" ficava pedindo para ela
voltar para casa. "Eu quase não assistia às
aulas, fui mal nos estudos e acabei ficando em recuperação em todas as matérias", conta a garota.
Ela só voltou para casa depois que a
mãe ligou chorando e pediu desculpas.
"Eu senti que tinha que dar o braço a torcer também, que eu também não estava
muito certa", diz.
O namoro de Joana durou mais oito
meses. Ela conta que tirou uma lição de
tudo isso: "Meus pais me amam mais
que qualquer cara".
Para Korn, "diante de um estado onde
não há espaço para conversa, acho que ir
morar com a tia-avó é uma solução bastante viável, positiva".
Jonia Lacerda Felício, supervisora de
psicologia do Instituto de Psiquiatria do
HC, finaliza: "O adolescente não é mais
criança, tem direito de ser ouvido. Os
pais têm de entender que têm de negociar para o bem da autonomia dos filhos
e, se a negociação está completamente
empacada, uma saída é chamar terceiros
para ajudar".
Os nomes dos personagens desta reportagem são
fictícios
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