São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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CORAÇÕES SELVAGENS

Conheça histórias de namoros proibidos resolvidas com a razão

Amores difíceis

AUGUSTO PINHEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Casos de jovens que enfrentam proibições dos pais são situações mais que comuns em qualquer família. Felizmente, a maioria não age como a estudante Suzane von Richthofen, 19, que pretendeu solucionar o problema eliminando os próprios pais. A saída é dialogar.
O Folhateen ouviu alguns jovens que já experimentaram dificuldades com a família quando o assunto é namoro e a avaliação de especialistas.
Os estudantes Paula, 21, e Roberto, 19, que namoram há um ano e meio, enfrentam juntos uma situação complicada. A mãe dele é contra o relacionamento porque Paula é negra. "Tem aquele negócio de neonazismo na família", diz Roberto.
Apesar do preconceito, os dois resolveram manter o relacionamento, e Paula frequenta a casa de Roberto. "Eu sei que estou desrespeitando uma idéia dela, mas ele é meu namorado", diz Paula. Roberto condena veementemente o preconceito da mãe e diz categórico: "Acho que ela devia prestar mais atenção ao que o filho dela sente pela namorada".
A psiquiatra Maria Inês Quintana, da Unifesp, acha que a atitude de Roberto é positiva. "Ele está se posicionando. E não há nenhum problema de caráter ou personalidade da namorada, apenas puro preconceito da mãe", diz.
O psicólogo Elias Korn, também da Unifesp, concorda: "Acho muito importante que os adolescentes possam sustentar as suas opiniões, principalmente em um caso de preconceito. Ele tem todo o direito de discordar e de estabelecer um debate".
Outra filha que resolveu enfrentar a opinião dos pais, mas acabou contando com o apoio deles depois de muita conversa, foi a estudante Carla, 19. Ela namora há um ano e meio um rapaz que, segundo ela, fumava maconha. "Logo que começamos a namorar, falei que não aceitaria essa vida para mim."
Quando os pais descobriram o envolvimento do rapaz com a droga, pediram para que ela acabasse o namoro. Mas Carla continuou disposta a ajudar o parceiro e atualmente apóia o tratamento que ele faz contra as drogas. "Hoje meus pais aceitam o namoro porque eu expliquei tudo sobre o tratamento. Eles ligam para perguntar como ele está", diz.
Para Korn, Carla "teve um olhar mais amplo, no sentido de perceber que o namorado precisava de ajuda". E destaca: "Existe um preconceito de que quem usa maconha é marginal ou que vai se tornar criminoso. Isso é uma generalização muito perigosa", diz, lembrando que "os princípios da conversa e do diálogo sempre são favoráveis à mudança".
No caso da estudante Joana, 18, os pais, que adoravam seu namorado, começaram a fazer pressão para que ela acabasse o namoro depois que Tony (o namorado) brigou com o irmão dela. "O Tony achava que eu tinha beijado outro cara e ficou no meu pé com essa história. Eu acabei contando para o meu irmão, que brigou com ele", lembra.
Então, Joana ficou "revoltada" e saiu de casa. Pegou o edredon, o material escolar e algumas roupas e foi para a casa de uma amiga, onde ficou dois dias. Depois, mudou-se para a casa da tia-avó. "Eu rompi com eles, nem conversava", conta. "Foi bom porque eu estava sempre com meu namorado, mas foi ruim porque eu estava longe dos meus pais."
Como a mãe era diretora de uma das unidades do seu colégio, Joana conta que "todo mundo" ficava pedindo para ela voltar para casa. "Eu quase não assistia às aulas, fui mal nos estudos e acabei ficando em recuperação em todas as matérias", conta a garota.
Ela só voltou para casa depois que a mãe ligou chorando e pediu desculpas. "Eu senti que tinha que dar o braço a torcer também, que eu também não estava muito certa", diz.
O namoro de Joana durou mais oito meses. Ela conta que tirou uma lição de tudo isso: "Meus pais me amam mais que qualquer cara".
Para Korn, "diante de um estado onde não há espaço para conversa, acho que ir morar com a tia-avó é uma solução bastante viável, positiva".
Jonia Lacerda Felício, supervisora de psicologia do Instituto de Psiquiatria do HC, finaliza: "O adolescente não é mais criança, tem direito de ser ouvido. Os pais têm de entender que têm de negociar para o bem da autonomia dos filhos e, se a negociação está completamente empacada, uma saída é chamar terceiros para ajudar".


Os nomes dos personagens desta reportagem são fictícios


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