São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2006

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EMOMANIA

Estilo de vida para uns, bobagem para outros, o emo cresce cada vez mais, despertando paixão e fúria entre os adolescentes

Entre o amor e o ódio

Leonardo Wen/Folha Imagem
Nelson e Felipe 15, que curtem o estilo emo


LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles estão em todos os lugares. Nos shoppings, em escolas públicas ou particulares, em casas de show, nas baladas e nas lojas de música.
Com suas franjas compridas, colares de bolas e um ar de desencanto e melancolia com o mundo, os emos se multiplicam e, no último ano, viraram uma febre entre os adolescentes. Quem não é, tem algum amigo ou pelo menos conhece alguém que tenha aderido ao estilo.
Victor Souza tem 18 anos e se considera um emo veterano. Ele curte as músicas e adotou o visual há mais ou menos dois anos. Para ele, a atual "febre emo" tem seus pontos negativos. "Tem muita gente que só se veste nesse estilo, mas não conhece o som, a história. Quando você pergunta as bandas que eles gostam, só sabem falar das mais famosas, são "posers'", diz.
Felipe Lemos, 15, concorda. "O chato é que você acaba sendo tachado de "modinha". Eu não sou, porque conheço o estilo há muito tempo", diz.
Quando começou a ouvir as músicas, Felipe também adotou o visual. Ele usa camisetas sobrepostas, pulseira e franja comprida com o cabelo espetado atrás. "Eu gosto de ser diferente, mas não acho legal que todo mundo fique me olhando e falando mal", conta Felipe.
Ouvir gracinhas e brincadeiras preconceituosas por conta do visual e do jeito emotivo e melancólico já faz parte do dia-a-dia dessa turma. "Geralmente a gente é zoado, porque as pessoas têm preconceito", diz Nelson Pavone Jr., 15, que descobriu o emo há dois anos.
Para ele, o emo vai além da música. "Você percebe quem é pelo estilo de roupa, pelo jeito de falar, que não é arrogante. É uma pessoa sensível, que se esforça para não magoar as pessoas", completa.
Assim, são avessos a confrontos e brigas e não costumam se deixar levar pela provocação. "Levo tudo na brincadeira, não estou nem aí", conta Felipe.
Mesmo assim, a provocação é forte. Tanto que Camila Gonçalves, a Senhorita Solitária, 15, deu um tempo no visual emo. "A sociedade está discriminando muito, então eu estou evitando. As pessoas fazem brincadeiras, falam que o jeito de se vestir é ridículo. Você escuta isso o dia inteiro na escola, então eu estou preferindo não usar os acessórios, para o pessoal não ficar zoando", diz Camila, que tem 15 anos e virou emo no ano passado.
No site de relacionamentos Orkut, é possível encontrar comunidades raivosas contra os emos. Rafael Smokovitz, 20, criou a comunidade "Eu Odeio a Modinha Emocore", em homenagem a uma amiga que, segundo ele, virou emo "do dia para a noite". "O que incomoda é as pessoas se rotularem, é uma modinha que não acaba", diz.
A fúria é tamanha que já há até pessoas que usam broches dizendo "Odeio Emo."
Na Galeria do Rock, reduto dos roqueiros no centro de São Paulo, os embates entre emos, metaleiros, punks e fãs de hardcore também são freqüentes. "A gente se sente até meio intruso por aqui, virou a "Emolândia'", diz o metaleiro Thiago Lima, 18.

Som e emoção
Mas o emo é muito mais do que franjas compridas, roupas coloridas e extravagantes e melancolia. A origem de tudo está na música, o emocore. Derivado do hardcore, o estilo acrescentou melodia às guitarras distorcidas e passou a tratar de assuntos do coração, no lugar das músicas de protesto, que predominam no hardcore.
Entre os fãs do estilo, há também aqueles que cultuam a música, mas não aderem ao visual. Juliana Alves, 18, gostava de hardcore e expandiu para o emo, que acompanha há cerca de dois anos. "Eu acho que a roupa é conseqüência. Não acho que emo seja uma maneira de agir. É uma música e eu curto porque acho bonito", diz a estudante, que acompanha a carreira das bandas brasileiras e não perde um show de hardcore no Hangar 110.
Sobre a fama de tristonhos e chorosos que os emos ganharam (e que muitos cultivam), ela explica: "Emo vem de "emotional hardcore", mas não significa que, por gostar dessa música, a pessoa é necessariamente chorosa. Eu, por exemplo, sou até divertida demais", garante.


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