São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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esporte

Super surfe

Ondas do tamanho de prédios com a velocidade de um carro na estrada; é o town in, estilo de surfe em ondas gigantes

Divulgação/Midiabacana
Eraldo Gueiros desce onda em Jaws, na ilha de Maui, no Havaí

JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É verão. Enquanto as praias do país estão cheias de aventureiros tentando se equilibrar nas pranchas das escolinhas de surfe, outros surfistas viajam o mundo atrás de ondas de até 24 metros.
Foi justamente para fugir da lotação -ou "crowds", na gíria do surfe- que, no início dos anos 90, o americano Laird Hamilton passou a procurar ondas em alto-mar. Junto com os amigos Darrick Doerner e Buzzy Kerbox, ele encontrou verdadeiras paredes de água no meio do oceano, impossíveis de serem surfadas com a força e a habilidade humanas apenas. Para posicionar o surfista nas ondas de mais de dez metros, passaram a utilizar um bote inflável -que hoje deu lugar ao jet-ski. Hamilton e seus parceiros criaram assim o town in, ou surfe de ondas gigantes.
Apesar de o fenômeno não ocorrer no Brasil, o país tem sido destaque no esporte, como demonstraram as duplas Yuri Soledade e Rodrigo Resende, e Eraldo Gueiros e Everaldo Pato, no Nelscott Reef Town in Classic. No evento realizado no último final de semana na cidade americana de Lincoln, Oregon, as duplas ficaram em segundo e terceiro lugares respectivamente.
Praticado em duplas, o êxito no esporte depende tanto do surfista como da habilidade do piloto do jet-ski, essencial para casos de emergência. "No surfe em ondas grandes o risco de vida está sempre presente", afirma Eraldo.
Longe de ser um problema, a proximidade com o perigo parece adicionar um tempero extra à pratica do town in. Carlos Burle, também parceiro de Eraldo na prática do esporte, concorda. Quando entra numa onda, o que vale é "o prazer de se sentir supervivo e lidar diretamente com a morte", revela.
Nessas ondas que mais parecem um tsunami, os surfistas chegam à velocidade de 100 km/h e têm que suportar um impacto comparável ao das Cataratas do Iguaçu. "É como se fosse uma cachoeira gigante na sua cabeça", descreve Eraldo.
Maya Gabeira, filha do deputado Fernando Gabeira, conta que teve que passar por uma adaptação difícil no início. "Minhas pernas queimavam e eu ficava cansada muito rápido!", conta. Além das sessões diárias de surfe, a carioca de 20 anos pratica ioga, nada e pedala para adquirir a resistência necessária para segurar a onda. Ano passado, Maya foi eleita a melhor "big rider", ou surfista de ondas gigantes, ao vencer o Billabong XXL Big Wave Awards.

Equipamento
Além de muito preparo físico e mental, o town in também exige equipamentos de segurança. Carlos Burle passa a lista do que é necessário: "Pranchas de regaste, pés de pato, coletes, flutuadores, ferramentas e equipamentos de comunicação. O jet-ski é especialmente preparado e ainda precisamos fazer cursos de regaste e primeiros socorros". Além disso, alguns surfistas usam um pequeno tubo de oxigênio amarrado na perna, para respirar caso sejam arrastados para muito fundo.
Os destemidos surfistas ainda têm que ficar em constante alerta, à procura das ondas pelo mundo, já que o fenômeno não tem época e lugar certo para acontecer. Causadas por ondulações oceânicas, as superondas geralmente acontecem durante o inverno e quebram por, no máximo, dez dias por ano.
E muitos desses picos estão infestados de tubarões e ficam sobre bancadas rasas de coral. E aí, vai encarar?


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