São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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comportamento

Corpo fechado

Adolescentes que se sentem gordinhos ou magros demais usam truques para não expor o corpo nas praias cheias de gente sarada

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sol escaldante, céu azul, mar gelado, corpos à mostra. O que para muitos é o paraíso para outros é quase um pesadelo. Seja porque se sentem gordos ou magros, muitos jovens sofrem na hora de expor os corpos na praia.
Insatisfeitos com as próprias curvas, se escondem por baixo de camisetas, de shorts enormes, de saias ou simplesmente evitam o confronto e a competição de beldades na areia.
É o que faz Ísis Abreu, 16, que tem casa no litoral, mas não vai à praia. "Prefiro ficar na piscina. Só tomo sol de biquíni em casa, com a minha família. Na praia, vou de shorts e de camiseta", diz a estudante, que se acha gordinha e tem vergonha de mostrar o corpo na praia. "Vivo de dieta", desabafa.
Já a estudante Aline Oliveira, 14, não se acha gorda, mas é "supergrilada" com a barriga. "Tenho uma pochetinha que não sai de jeito nenhum", diz a garota, que faz ioga e musculação com personal trainer.
Na praia, Aline não dispensa uma camiseta. "Nunca mostro a barriga. Me sinto mal ao lado de amigas que têm o corpo perfeito", acredita. Ela tem 1m64 e parou de se pesar há alguns meses. "Prefiro nem saber."
De tanta vergonha de aparecer, a produtora Maria, 22, (nome fictício) pediu para não ser identificada na reportagem. "Minhas primas todas lêem o jornal. Ia ficar muito chato".
Para lidar com o constrangimento de usar biquíni, ela adotou uma nova peça no look praia: uma sainha curta que não sai do corpo nem na hora do mergulho no mar. "Sou completamente neurótica porque o meu bumbum é grande", confessa. Se tira a camiseta, Maria sempre deixa algo no colo, para não expor a barriga.

Comparação
Em São Paulo, ela prefere usar saias e vestidos e evita calças justas. "O problema é a praia. Acho meio agressivo. Sempre fico reparando nos corpos das pessoas e me comparando. Às vezes, me sinto bem. Mas às vezes, fico pior."
Se recebe um convite para piscina na casa de algum amigo, ela nem leva o biquíni. "Fico do lado de fora, tomando cerveja", diz a garota que, se tivesse dinheiro sobrando, faria uma lipoaspiração.
Foi justamente o que fez a estudante Mellany Archilha, 22, quando tinha 16. A encanação com o corpo era tão grande que ela conseguiu convencer os pais. "Minha mãe já tinha feito e, quando ela viu que eu estava infeliz, concordou."
Se os quilinhos a mais, ou apenas a sensação de estar acima do peso, são problema para uns, para outros a questão é justamente o contrário: a magreza. Altos e magros, muitos jovens também não gostam de se expor numa praia cheia de gente sarada.

Magreza
É o caso de Marcelo Silveira, 21. Com 1.85m e 68 quilos, ele prefere pegar praia de camiseta. "Sou magro, mas não sou tão raquítico quanto eu penso. Sei que é uma bobagem essa encanação, mas não consigo mudar. Tenho muita vergonha", diz o garoto, que analisa os corpos dos outros freqüentadores da praia para criar coragem e tirar a roupa. "Se tiver alguém pior do que eu, fico mais à vontade."
Até a academia era um problema. "Eu ficava encanado de ver todo mundo sarado e eu carregando graminhas", diz.
Luciana Beltrame, 21, usa a mesma tática de Marcelo quando vai à praia. Ela espera os amigos tirarem a roupa primeiro para então ficar de biquíni. "Me comparo com as outras pessoas", diz a garota, que já pensou em colocar silicone para ficar mais cheinha.
Nem as modelos, que ditam os padrões de beleza seguidos por toda a população, estão livres desse tormento. Chimeni Harbs, 18, que estampa a capa e esta página do Folhateen também já sofreu com isso.
"Quando eu era mais nova me achava muito magrela, tinha vergonha de usar biquíni. Meus amigos viviam tirando sarro. Hoje o problema é outro. No trabalho, me pedem para emagrecer mais. Acho que as pessoas têm que ser felizes com o que têm", conclui.


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