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comportamento
Corpo fechado
Adolescentes que se sentem gordinhos ou magros demais usam
truques para não expor o corpo nas praias cheias de gente sarada
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sol escaldante, céu
azul, mar gelado, corpos à mostra. O que
para muitos é o paraíso para outros é quase
um pesadelo. Seja porque se
sentem gordos ou magros, muitos jovens sofrem na hora de
expor os corpos na praia.
Insatisfeitos com as próprias
curvas, se escondem por baixo
de camisetas, de shorts enormes, de saias ou simplesmente
evitam o confronto e a competição de beldades na areia.
É o que faz Ísis Abreu, 16, que
tem casa no litoral, mas não vai
à praia. "Prefiro ficar na piscina. Só tomo sol de biquíni em
casa, com a minha família. Na
praia, vou de shorts e de camiseta", diz a estudante, que se
acha gordinha e tem vergonha
de mostrar o corpo na praia.
"Vivo de dieta", desabafa.
Já a estudante Aline Oliveira,
14, não se acha gorda, mas é
"supergrilada" com a barriga.
"Tenho uma pochetinha que
não sai de jeito nenhum", diz a
garota, que faz ioga e musculação com personal trainer.
Na praia, Aline não dispensa
uma camiseta. "Nunca mostro
a barriga. Me sinto mal ao lado
de amigas que têm o corpo perfeito", acredita. Ela tem 1m64 e
parou de se pesar há alguns meses. "Prefiro nem saber."
De tanta vergonha de aparecer, a produtora Maria, 22, (nome fictício) pediu para não ser
identificada na reportagem.
"Minhas primas todas lêem o
jornal. Ia ficar muito chato".
Para lidar com o constrangimento de usar biquíni, ela adotou uma nova peça no look
praia: uma sainha curta que
não sai do corpo nem na hora
do mergulho no mar. "Sou
completamente neurótica porque o meu bumbum é grande",
confessa. Se tira a camiseta,
Maria sempre deixa algo no colo, para não expor a barriga.
Comparação
Em São Paulo, ela prefere
usar saias e vestidos e evita calças justas. "O problema é a
praia. Acho meio agressivo.
Sempre fico reparando nos corpos das pessoas e me comparando. Às vezes, me sinto bem.
Mas às vezes, fico pior."
Se recebe um convite para
piscina na casa de algum amigo,
ela nem leva o biquíni. "Fico do
lado de fora, tomando cerveja",
diz a garota que, se tivesse dinheiro sobrando, faria uma lipoaspiração.
Foi justamente o que fez a estudante Mellany Archilha, 22,
quando tinha 16. A encanação
com o corpo era tão grande que
ela conseguiu convencer os
pais. "Minha mãe já tinha feito
e, quando ela viu que eu estava
infeliz, concordou."
Se os quilinhos a mais, ou
apenas a sensação de estar acima do peso, são problema para
uns, para outros a questão é
justamente o contrário: a magreza. Altos e magros, muitos
jovens também não gostam de
se expor numa praia cheia de
gente sarada.
Magreza
É o caso de Marcelo Silveira,
21. Com 1.85m e 68 quilos, ele
prefere pegar praia de camiseta. "Sou magro, mas não sou tão
raquítico quanto eu penso. Sei
que é uma bobagem essa encanação, mas não consigo mudar.
Tenho muita vergonha", diz o
garoto, que analisa os corpos
dos outros freqüentadores da
praia para criar coragem e tirar
a roupa. "Se tiver alguém pior
do que eu, fico mais à vontade."
Até a academia era um problema. "Eu ficava encanado de
ver todo mundo sarado e eu
carregando graminhas", diz.
Luciana Beltrame, 21, usa a
mesma tática de Marcelo quando vai à praia. Ela espera os
amigos tirarem a roupa primeiro para então ficar de biquíni.
"Me comparo com as outras
pessoas", diz a garota, que já
pensou em colocar silicone para ficar mais cheinha.
Nem as modelos, que ditam
os padrões de beleza seguidos
por toda a população, estão livres desse tormento. Chimeni
Harbs, 18, que estampa a capa e
esta página do Folhateen também já sofreu com isso.
"Quando eu era mais nova
me achava muito magrela, tinha vergonha de usar biquíni.
Meus amigos viviam tirando
sarro. Hoje o problema é outro.
No trabalho, me pedem para
emagrecer mais. Acho que as
pessoas têm que ser felizes
com o que têm", conclui.
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