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MÚSICA
CD de estréia dos galeses do McLusky chega ao Brasil
Terremotos de três minutos
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das boas surpresas do ano
passado foi o excepcional álbum
"McLusky Do Dallas", da um tanto
obscura banda galesa McLusky.
Agora, a Sum atualiza seu catálogo ao lançar o primeiro disco do
grupo, "My Pain and Sadness Is
More Sad and Painful than Yours",
e o quarto single tirado de
"McLusky Do Dallas", "Alan Is a
Cowboy Killer".
McLusky é um (power) trio formado em 1999 por Mat Harding
(bateria), John Chaple (baixo) e
Andy Falkous (vocal e guitarra).
O som feroz da banda impressiona por se distanciar das fórmulas reproduzidas até a náusea por 90%
das bandas punk de hoje. Irônico e
provocativo, McLusky consegue
criar canções que mal ultrapassam a
barreira dos três minutos, mas que
possuem uma dinâmica ímpar.
Mesmo assim, chovem comparações com os Pixies na imprensa de
todo o mundo. Três motivos dão
suporte a esse paralelo: 1)
"McLusky Do Dallas" tem produção de Steve Albini, o produtor do
ótimo "Surfer Rosa", da banda
americana; 2) os vocais desajustados de Falkous, que muitas vezes
atropelam as canções, guardam semelhança com os de Black Francis;
e 3) o tratamento agridoce e irônico
dado às músicas e às letras também
ressoam composições dos Pixies.
Por outro lado, existe uma insubordinação às "boas maneiras" do
rock tão forte em McLusky, que reduzi-lo a um grupo que emula Pixies é um injustiça tremenda. Até
porque, para ouvidos mais velhos e
mais atentos, as referências que forjam o som da banda vão mais longe.
É impossível ouvir Falkous tocando e cantando e não pensar que ele é
fruto de uma fusão genética improvável, que incorpora a raiva e a irreverência de John Lydon ao cantar e
a propensão à dissonância e à desconstrução de Keith Levene ao tocar guitarra. Lydon e Levene eram,
ao lado do baixista Jah Wobble, os
principais mentores do P.I.L., um
dos grupos que mais alargou as
fronteiras do pós-punk em discos
como "Public Image Ltd." (1978) e
"Metal Box" (1979).
Lançado em 2000 pelo minúsculo
selo Fuzzbox, o primeiro álbum da
banda -cuja tradução do impagável título é "minha dor e tristeza são
mais tristes e doloridas que as
suas"- é um ensaio para a porrada
que McLusky desferiria dois anos
depois em "McLusky Do Dallas".
O disco é irregular, embrionário, e
a banda ainda não conseguiu chegar a um conceito fechado sobre a
sua sonoridade. Isso não impede,
entretanto, que se encontrem belas
pedras brutas ao longo do álbum.
A primeira grande faixa é
"Friends Stoning Friends", com lindo vocal feminino e guitarra melódica que realmente lembra Pixies.
Na sequência, vem a sarcástica
"Whiteliberalonwhiteliberalaction", impulsionada por um riff repetitivo e envolvente, que é totalmente desconstruído com dissonâncias e barulheira no refrão.
Mostrando o lado melódico da
banda, a balada "Flysmoke" emociona com o seu refrão que diz que
só os solitários saem. Pela dinâmica
e pela ironia fina, marcam presença
também "(Sometimes) I Have to
Concentrate" e "You Are My Sun".
Lançado no fim do ano passado, o
single "Alan Is a Cowboy Killer" é
mediano. A faixa título é ótima, mas
vem ao lado de uma gravação ao vivo regular e de duas faixas de estúdio que também não empolgam
muito.
(GUILHERME WERNECK)
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