São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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comportamento

Bolso vazio, armário cheio

Seja por meio da grana dos pais ou do próprio salário, jovens consumistas se entopem de roupas e acessórios

ALAN DE FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

C amisas e vestidos de marcas famosas no armário. Fim da mesada muito antes de acabar o mês. Vontade de comprar um jeans uma semana depois de ter adquirido um novo. Se você se identificou com alguma dessas características, pode-se dizer que você está inserido no grupo de consumidores vorazes, capaz de gastar muito dinheiro em uma blusa ou em um tênis.
As razões para a prática dessas atitudes variam de pessoa para pessoa. Para Maria Letícia Zarzur, 14, ou Tita, como ela gosta de ser chamada, o importante é seguir as últimas tendências da moda. "Acontece que estar na moda é o meu estilo", declara. Por conta disso, quando vê uma roupa de que gosta no shopping ou em lojas como a Daslu, quer logo tê-la em seu armário para a próxima festa ou para o passeio com as amigas.
"São os meus pais que compram as roupas para mim. Quando eles não querem me dar o dinheiro, eu proponho uma troca. Tipo: "Ah, se eu fizer isso, vocês compram o vestido?", conta a estudante.
Sua mãe, Fátima Zarzur, tenta brecar o impulso da filha: "Se eu deixar, ela compra qualquer bobagem", afirma. No entanto, reconhece que muitas vezes cede aos pedidos da garota. "Há a pressão dos amigos, a vaidade de querer mostrar o que tem para entrar em um determinado grupo... É complicado."
Segundo o professor de psicologia da PUC Carlos Eduardo Carvalho Freire, o adolescente, como costuma andar em grupo, tem a necessidade de ter destaque. "Agradar ao olhar do outro é importante, dá ao adolescente a sensação de existir", afirma o psicoterapeuta (leia ao lado).
Outro fator é a vaidade. O estudante Bruno Fonseca, 14, por exemplo, embora afirme que o nome da marca não seja importante, prefere as roupas de grife. "É uma questão de vaidade mesmo, para eu me sentir bem. Além disso, chama a atenção das outras pessoas, principalmente das garotas."
Estudante de um colégio de classe alta de São Paulo, ele diz que seus colegas têm comportamento parecido com o dele.
Por essa razão, a mãe do garoto, Sandra Maria Costa da Fonseca, entende o comportamento do filho. "A preferência por grifes se deve ao fato de ele estar inserido em um grupo social no qual as marcas são priorizadas. O que faço é orientá-lo a ter controle sobre o orçamento que oferecemos a ele."

Fúteis?
E se alguns dependem das mesadas, dos limites impostos pelo cartão ou da boa vontade dos pais, outros gastam praticamente todo o salário que recebem em jeans, calçados e outros acessórios. É o caso de Diego César Bianchini, 20.
Vendedor de um shopping em Maringá (PR) ele costuma usar todo seu salário -entre R$ 700 a R$ 900 mensais- em roupas. "Minha maior compra foi de R$ 750, quando, de uma só vez, levei uma calça e um boné", conta. "Sim, sou consumista assumido. Diria até fútil", diz, sem censura alguma. Suas marcas preferidas são Colcci, Carmim e Dolce & Gabbana.
O termo futilidade é geralmente atribuído a esses ávidos consumidores. Mas eles preferem não dar ouvidos às críticas. De acordo com a estudante Rossanna Petrosino, 21, os pais dela reclamam bastante de seu excessivo gasto. "Sou a mais nova e única mulher dos filhos. Então, o susto para eles foi grande", conta. A moça é daquelas que não consegue comprar um presente para alguém antes de comprar um para si mesma. "Meus amigos dizem que eu só vivo no shopping!"
Rossanna já gastou de uma só vez R$ 800 em calças da M. Officer. Ela ganha cerca de R$ 20 por dia do pai, mas geralmente apela para a mãe, pois gasta demais e sem perceber. "Ela é a minha quebra-galho", conta.


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