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Álvaro Pereira Júnior - cby2K@uol.com.br
Mangue beat, mecânica quântica, saudade
"The Strangest Man", de Graham Farmelo, é
uma biografia de Paul Dirac, físico esquisito
e genial. Traz anedotas sobre a vida bizarra
de Dirac (até os 30 anos nunca tinha visto uma mulher
nua, virou professor titular em Cambridge e se esqueceu de avisar a família etc. etc.) e insiste: o revolucionário de hoje é o conservador saudosista de amanhã.
Lembrei-me disso ao ler, na sexta passada, uma entrevista de Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A, à
Ilustrada. Zero Quatro, hoje funcionário público em
Pernambuco, sente saudade da época das grandes
gravadoras. Acha que a Sony foi crucial para divulgar
o movimento de que participava, o mangue beat. Não
gosta de música circulando livre na internet.
Albert Einstein, que revolucionou a ciência ao despedaçar noções de espaço e tempo, nunca deu o passo
seguinte, o da mecânica quântica. O caráter essencialmente probabilístico da física quântica perturbava Einstein. "Deus não joga dados", dizia. Morreu sem
se convencer. Estava errado.
Dirac é da geração seguinte a Einstein. Quando formulou uma teoria que sugeria "elétrons positivos",
quase ninguém levou a sério. Um de seus mentores,
Niels Bohr, chegou a perguntar: você acredita mesmo
nisso aí? Os "elétrons positivos", pósitrons, foram detectados. Dirac estava certo.
De novo, Zero Quatro. Não se trata de concordar
com ele ou discordar. Eu mesmo já escrevi coisa parecida: no universo musical, a web é uma maravilha só
para o ouvinte. Música parece que vai dar cada vez
menos dinheiro, atividade de nicho e amadora.
O que sobra da entrevista de Zero Quatro é a ironia:
ele era dos caras que vieram chacoalhar o establishment, que traziam modernidade do lugar mais improvável: "Somos do mangue, mas temos computadores! Somos cyber! Lemos a "Wired'!".
Mas, hoje, Zero Quatro sente saudade. Como Einstein torturado pelos dados de Deus. Como Bohr ironizando Dirac.
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LEIA NO PAPEL
"The Strangest Man - The Hidden Life of Paul Dirac, the Mystic of the Atom", Graham Farmelo
Pauleira principalmente se você não tem uma basesinha de ciência. As histórias são hilárias.
OUÇA EM STREAMING
"If You Ever Get Famous" The Duke and the King
"Se um dia você ficar famoso/ Nãose esqueça de mim". Ouve lá, demais me fala: is.gd/3qbhs.
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A volta de Arnaldo Antunes
Como o vírus influenza, a música de Arnaldo Antunes muda pouco e sempre causa o mal.
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