|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
folhateen explica
Virada eleitoral pode modificar rumo da luta contra o terrorismo
Mentira sobre atentado derrota o governo da Espanha
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Espanha é um país que costuma dar boas
lições ao mundo. Deu novamente algumas
na semana passada.
A história é relativamente simples. O governo do premiê José María Aznar mentiu. Disse
que os terroristas bascos eram os responsáveis pelo atentado nos trens de Madri que matou 201 pessoas no último dia 11 de março.
Mas os atentados foram, em verdade, perpetrados por um grupo de marroquinos ligado à Al Qaeda e ao terrorismo islâmico.
Os espanhóis sabiam como punir o governo
pela mentira. No domingo seguinte, haveria
eleições legislativas. Como a Espanha é uma
monarquia parlamentarista, o partido que fizesse a maioria passaria a governar o país.
O Partido Popular, de Aznar, era o favorito,
segundo todas as pesquisas. Se tivesse dado
certo, o novo premiê seria Mariano Rajoy, do
PP, que é de centro-direita.
Mas deu tudo errado. No sábado, por volta
das 20h, o Ministério do Interior precisou dizer que estavam presos cinco suspeitos ligados ao islamismo radical.
Horas depois, às 9h de domingo, os espanhóis começaram a votar. Derrotaram o PP,
que perdeu 35 deputados em relação à legislativa de 2000. A eleição foi ganha pelo PSOE
(Partido Socialista Operário Espanhol), que
elegeu 39 deputados a mais que há quatro
anos, e o novo premiê será o dirigente desse
partido, José Luis Rodríguez Zapatero.
O PSOE é hoje um partido social-democrata. Não quer mais a revolução socialista que
pregava ao ser criado, em 1879. Foi o mais forte partido espanhol durante a República
(1931-1939), sobretudo em seus quatro últimos anos, marcados pela Guerra Civil, na
qual ele e a esquerda foram derrotados. Saiu
da clandestinidade em 1977 e governou, com
o premiê Felipe González (1982-1996).
A moral da história não é apenas eleitoral e
nem essencialmente espanhola. Aznar aderiu,
no ano passado, à idéia de George W. Bush de
invadir o Iraque para neutralizar os arsenais
químicos e bacteriológicos que poderiam cair
em mãos de terroristas.
Acontece que esses arsenais não foram encontrados. E, ainda por cima, a presença militar dos EUA no Iraque acirrou as tensões no
mundo islâmico, o que indiretamente favoreceu a causa do terrorismo.
Aznar não quis discutir o Iraque durante a
campanha eleitoral. Ele e seu partido foram,
no fundo, as primeiras vítimas ocidentais da
guerra de Bush. O próprio Bush, com eleições
presidenciais neste ano, e seus aliados
-Tony Blair, no Reino Unido, ou Silvio Berlusconi, na Itália- têm, a partir de agora, motivos de sobra para se preocupar.
Texto Anterior: Game On: O lado obscuro (e pra lá de charmoso) da força Próximo Texto: Estante: Velhos e bons poemas de amor Índice
|