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Parece TwitterMas é poesia; livro com coletânea de "poetas marginais" tem estilo de microblog
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você acha que os 140 caracteres do Twitter são
poucos para se expressar, precisa ler os poetas que fizeram parte da chamada "geração marginal" ou "geração 70".
Poemas de cinco deles -Ana
Cristina Cesar, Cacaso, Paulo
Leminski, Torquato Neto e
Waly Salomão- estão reunidos
na recém-lançada coletânea
"Destino: Poesia".
O estilo dessa turma, que fez
sucesso nos anos 70, tem mesmo muito em comum com a comunicação curta e espontânea
que se pratica nos microblogs
de hoje.
No estilo, uma linguagem coloquial e concisa, com muita gíria, humor e espontaneidade.
Nos temas, o amor, é claro,
mas também o banal e corriqueiro, a surpresa das coisas
simples do cotidiano e uma boa
dose de protesto.
Folheando o livreto, organizado pelo crítico Italo Moriconi, nota-se que nada disso perdeu o viço.
"Eles não são datados. Um
poeta como o Cacaso, que tematiza muito a ditadura [militar], pode ter seus poemas lidos
como metáforas", diz Italo.
Para o organizador, essa geração ajudou a firmar no Brasil
uma relação entre poesia e música popular que se mantém até
hoje. Especialmente Torquato
Neto, letrista de "Go Back", dos
Titãs, e Waly Salomão, de "Vapor Barato", gravada por Gal
Costa e O Rappa.
E agora é a hora de circularem pela internet. "Nesse circuito onde circula uma linguagem mais solta eles têm muita
comunicação, uma contemporaneidade forte."
(TARSO ARAUJO)
Ana_Cristina_Cesar
olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo/ e sentir separado dentre os dentes/ um
filete de sangue/ nas gengivas
Cacaso
LAR DOCE LAR
Minha pátria é minha infância: Por isso vivo no exílio
Paulo_Leminski
Das coisas/ que eu fiz a metro/ todos saberão quantos
quilômetros/ são
Aquelas/ em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos/ não?
Torquato_Neto
(...) eu sou como eu sou/ presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou/ vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim
Waly_Salomão
O que eu menos quero pro meu dia/ polidez, boas maneiras./
Por certo,
um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido. (...)
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