São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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POLÍTICA

Para cientista político, a frustração com a política desperta o interesse dos jovens pelo anarquismo

Crise de representação

DA REPORTAGEM LOCAL

Um sentimento generalizado de frustração com a política e os políticos tem despertado novamente o interesse dos estudantes pelo anarquismo. Essa é a opinião do cientista político e filósofo Francisco Foot Hardman, professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Autor do livro "Nem Pátria Nem Patrão", ele estudou a influência do anarquismo nos movimentos sindicais brasileiros.
"Nós vivemos uma crise, independente da crise do governo Lula e do PT, de representação. Acho que boa parte das pessoas, inclusive nos países ricos, tem uma certa desilusão em relação à participação política. Suponho que o anarquismo atraia pessoas que estão desiludidas com o princípio da representação", diz.
Para ele, o interesse pelo anarquismo tende a crescer entre os jovens. "Acho que o que interessa aos jovens no anarquismo é a idéia de autogoverno e de que você pode determinar a condução do seu próprio destino. Acho que isso atrai as pessoas e pode atrair muito os jovens."

Guerra Civil Espanhola
Se hoje são os estudantes que estão levantando a bandeira, historicamente, foram os operários que difundiram e lutaram pelos ideais libertários. "Na Guerra Civil Espanhola eles chegaram a tomar o poder na Catalunha e depois foram destruídos. Tinham muita força, mas não se dispunham a constituir governo. A partir dali, aquela energia se dispersou e veio então a repressão dos fascistas que levou à derrocada", diz o professor.
Até hoje, a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) é lembrada e estudada por jovens de coletivos anarquistas. Em 1936, um levante militar comandado pelo general espanhol Francisco Franco com o intuito de destituir o governo republicano deflagrou um conflito que duraria até 1939. Anarquistas, socialistas e outros grupos de esquerda lutaram para deter as tropas franquistas, mas fracassaram e a ditadura foi instaurada.
Foi a partir dos anos 60 que o anarquismo passou a ser assimilado pelo movimento estudantil. "O forte dessas tendências libertárias no mundo atual está associado à juventude, aos estudantes, a setores que eu diria serem de classe média urbana", diz.
Nos anos 80, foi a vez do movimento punk pregar o fim da autoridade. Até hoje, ele é responsável por atrair jovens para os coletivos. Recentemente, os movimentos anti-globalização -que tiveram início em Seattle, EUA, em 1999, e se propagaram por vários países, inclusive o Brasil- também resgataram e aproximaram das novas gerações os princípios anarquistas.
Além da Unicamp, Hardman já lecionou em universidades em São Paulo e na Paraíba. Em todos os lugares, percebeu o interesse dos alunos pelas idéias anarquistas. "Acho que é um interesse quase comportamental, parece que para parcela da juventude existe um interesse numa certa postura de negação dos princípios de autoridade. (LETICIA DE CASTRO)


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