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POLÍTICA
Para cientista político, a frustração com a política desperta o interesse dos jovens pelo anarquismo
Crise de representação
DA REPORTAGEM LOCAL
Um sentimento generalizado de frustração com a política e os políticos
tem despertado novamente o interesse dos estudantes pelo anarquismo. Essa
é a opinião do cientista político e filósofo
Francisco Foot Hardman, professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Autor do livro "Nem Pátria Nem Patrão", ele estudou a influência do anarquismo nos movimentos sindicais brasileiros.
"Nós vivemos uma crise, independente
da crise do governo Lula e do PT, de representação. Acho que boa parte das pessoas,
inclusive nos países ricos, tem uma certa
desilusão em relação à participação política. Suponho que o anarquismo atraia pessoas que estão desiludidas com o princípio
da representação", diz.
Para ele, o interesse pelo anarquismo tende a crescer entre os jovens. "Acho que o
que interessa aos jovens no anarquismo é a
idéia de autogoverno e de que você pode
determinar a condução do seu próprio destino. Acho que isso atrai as pessoas e pode
atrair muito os jovens."
Guerra Civil Espanhola
Se hoje são os estudantes que estão levantando a bandeira, historicamente, foram os
operários que difundiram e lutaram pelos
ideais libertários. "Na Guerra Civil Espanhola eles chegaram a tomar o poder na
Catalunha e depois foram destruídos. Tinham muita força, mas não se dispunham
a constituir governo. A partir dali, aquela
energia se dispersou e veio então a repressão dos fascistas que levou à derrocada",
diz o professor.
Até hoje, a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) é lembrada e estudada por jovens de
coletivos anarquistas. Em 1936, um levante
militar comandado pelo general espanhol
Francisco Franco com o intuito de destituir
o governo republicano deflagrou um conflito que duraria até 1939. Anarquistas, socialistas e outros grupos de esquerda lutaram para deter as tropas franquistas, mas
fracassaram e a ditadura foi instaurada.
Foi a partir dos anos 60 que o anarquismo
passou a ser assimilado pelo movimento
estudantil. "O forte dessas tendências libertárias no mundo atual está associado à juventude, aos estudantes, a setores que eu
diria serem de classe média urbana", diz.
Nos anos 80, foi a vez do movimento
punk pregar o fim da autoridade. Até hoje,
ele é responsável por atrair jovens para os
coletivos. Recentemente, os movimentos
anti-globalização -que tiveram início em
Seattle, EUA, em 1999, e se propagaram por
vários países, inclusive o Brasil- também
resgataram e aproximaram das novas gerações os princípios anarquistas.
Além da Unicamp, Hardman já lecionou
em universidades em São Paulo e na Paraíba. Em todos os lugares, percebeu o interesse dos alunos pelas idéias anarquistas.
"Acho que é um interesse quase comportamental, parece que para parcela da juventude existe um interesse numa certa postura de negação dos princípios de autoridade.
(LETICIA DE CASTRO)
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