São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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folhateen explica

Queda nos salários influencia a mudança na hora de comer

Padrão de alimentação do brasileiro tem piora em 2002

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quantas vezes por mês ou por ano um jovem recorre aos salgadinhos ou ao macarrão instantâneo -popularmente conhecido como "miojo"- para espantar a fome? Poucas, muitas?
Uma pesquisa do Instituto Nielsen mostra como o consumo desses itens disparou no país. No interior de São Paulo, as vendas dos salgadinhos em pacotes, como batata frita e amendoim, cresceram quase 124% nos primeiros meses do ano. Em todo o Estado (incluindo a capital paulista), as vendas aumentaram mais de 77%.
O macarrão instantâneo é o quarto produto mais comprado no Estado -entre todos os disponíveis nos supermercados atualmente, informa a pesquisa. Ao mesmo tempo, os fornecedores de produtos congelados afirmam que a procura pela carne de porco disparou neste ano. Só a Sadia -a maior empresa de alimentação do país- vendeu tanta carne suína em 2002 que sua receita com a venda do produto cresceu 78% de janeiro a março.
A questão é: estamos comendo mal? Ou, na prática, isso não acontece porque a procura por itens como a carne magra (frango) e verduras também cresceu?
Os números mostram que estamos mesmo comendo pior. A venda de frango das indústrias para as lojas caiu, em média, 20% no início deste ano. E a elevação no preço das verduras fez cair a procura pelo produto ultimamente. "Não dá para as pessoas comprarem a mesma coisa que compravam há um ano. Isso porque a renda do brasileiro caiu muito", explica João Carlos Lazzarini, especialista em varejo. "Com isso, a qualidade da alimentação tende a piorar".
O brasileiro tem recebido menos salário a cada mês e isso tem reflexo direto na alimentação. A renda mensal é corroída por causa da elevação da inflação, e o resultado é fazer trocas temporárias na despensa de casa.
Na pesquisa da Nielsen, há um dado importante. Os supermercados perceberam neste ano um crescimento de 20% na venda de chá gelado, água e suco pronto. Enquanto isso, o consumo de refrigerante caiu nos primeiros meses do ano. "O refrigerante perdeu espaço porque não está sendo associado à imagem de algo saudável", diz Martinho Moreira, diretor da D'Avó Supermercados.
Para ele, todas essas mudanças indicam uma tendência nos hábitos das pessoas. "A questão que fica é como enfrentar períodos de crise econômica, com salários estagnados, sem acabar com a nossa qualidade de vida".


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