São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Fora da ordem

Tios e sobrinhos podem se transformar em primos, irmãos e amigos, conforme a criação e a diferença de idade que houver entre eles; conheça histórias

Letícia Moreira/Folha Imagem
Marion, 22, e seu tio Daniel, 24, se veem como primos

DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Você tem que me respeitar porque eu sou sua tia!", diz Nina de Luccas. "E você tem que me respeitar porque eu sou mais velha!", responde a sobrinha Marion Dória.
Opa, como assim a sobrinha é mais velha? Deu um nó na sua cabeça? Não só na sua. "O pessoal às vezes pensa que é mentira", diz Marion. "O mais difícil é explicar a razão de termos quase a mesma idade."
Para quem está acostumado a conviver com famílias convencionais, pode ser mesmo difícil entender que Marion Dória, 22, seja sobrinha de Nina de Luccas, 22, mas tenha nascido alguns meses antes dela.
Resumindo: Nina tem uma irmã cerca de 20 anos mais velha, filha do primeiro casamento de seu pai. E essa irmã é mãe de Marion, o que faz dela, por tabela, sobrinha de Nina.
Na hora de contar essa história, Daniel de Luccas, 24, irmão de Nina e tio de Marion, às vezes opta por simplificar. "Falo que ela é minha prima", afirma.
No final das contas, é mais ou menos essa a relação que os três mantêm. "Considero ele um primo", diz Marion. "A gente sai juntos, para filosofar."
É compreensível que Daniel e Marion se vejam como primos ou amigos, em vez de como tio e sobrinha. "Do ponto de vista da psicologia, o conceito de família não leva em conta apenas laços de sangue, depende do papel que a pessoa ocupa na vida do outro", explica Rosa Macedo, terapeuta de família e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
No caso de Letícia Nascimento, 23, a relação com seu tio Fabiano Pereira, 15, é a de irmãos. "Ele cresceu na minha casa e mora comigo", diz.
Fabiano é filho do avô de Letícia, mas a mãe da garota o adotou após a morte do pai biológico. "Eu sei que ele é irmão da minha mãe, mas não o vejo como um tio", diz a garota.
Os amigos dos dois fazem brincadeiras com a situação. "Perguntam se eu já pedi a bênção do meu tio, quando saio com alguém", conta Letícia.
Criado pela meia-irmã e tendo como irmã sua sobrinha, Fabiano diz que suas relações familiares já o confundiram. "Quando eu era pequeno, acreditava que tinha dois pais e duas mães", diz. "Por isso, no Dia dos Pais e no Dia das Mães eu dava dois presentes."

De cabeça para baixo
No caso de Stefano D'Angelo, 17, a história é ainda mais extrema. Sua tia, Ana Clara, tem hoje cinco anos -é filha do casamento de seu avô com uma mulher 20 anos mais nova.
"Ela reclama que eu a chame de tia, mas estou acostumado a chamar meus tios assim", diz o garoto, que já teve que tomar conta da menina enquanto seus avós jantavam fora.
Conversando com a reportagem, Stefano conta outros casos de sua família. Tem tios em todas as faixas etárias. "Minha família é de cabeça para baixo."
E como fica a cabeça dele, nessa história toda? "Aprendi que qualquer formação funciona, desde que as pessoas se amem", sintetiza o rapaz.


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