São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA

Programa da MTV americana põe jovens iraquianos e americanos para conversar

Idéias em conflito

JULIE SALAMON
DO "NEW YORK TIMES"

A MTV americana está oferecendo a jovens telespectadores uma dose do mundo real, em minúsculas porções. Em "Chat the Planet: Baghdad 2-Way", transmitido na semana passada nos EUA, nove universitários de Bagdá e 12 de Ohio conversaram em um programa de TV via satélite sobre assuntos como política e guerra e família. Uma lição foi aprendida: as aparências enganam. Os universitários pareciam muito semelhantes em termos de vestimenta, corte de cabelo e cortesia.
Mas os iraquianos, todos falando inglês, puseram de lado a idéia de que suas preocupações cotidianas se assemelham às dos norte-americanos. Yvonne, 21, uma estudante de odontologia, disse: "Não consigo ir à faculdade em segurança. Não posso sair. Sou mulher. Tenho medo de ser seqüestrada e estuprada. Tenho medo de ser levada e nunca mais devolvida".
Seth Kijat, 22, aluno do terceiro ano na Universidade Kent State, em Kent, Ohio, disse: "Nossa preocupação é acordar em tempo para as aulas e encontrar oportunidade para sair com os amigos".
O programa não foi exibido em Bagdá, como estava planejado, porque os participantes iraquianos poderiam se tornar alvo de ameaças de morte.
No programa, a guerra foi o tópico dominante. Sura, 24, programadora de computador, disse que os EUA não tinham o direito de invadir seu país. "Nenhuma força pode fazer isso a um país. E se uma força externa considera que Bush é um criminoso e deseja ocupar os EUA?"
Tony Cox, 20, disse que "é preciso compreender que Bush não está enfileirando gente diante de fossas coletivas para fuzilamento". Acrescentou que "aceitaria uma ocupação caso o líder que acaba de ser deposto fosse um tirano homicida".
Kujat ofereceu resposta diferente. "Eu odiaria. Provavelmente me sentiria exatamente como vocês se sentem."
Quanto às eleições no Iraque, marcadas para janeiro, Ahmed, 21, estudante de odontologia, questionou a validade da democracia ao estilo norte-americano para o seu país. "Aprendemos que toda sociedade precisa criar sua própria democracia", disse. "Não podemos só aplicar a democracia norte-americana e esperar que funcione."
Os estudantes norte-americanos passaram três dias discutindo as questões antes de sua conversa de duas horas e meia com os iraquianos, que foi editada e exibida como um programa de 22 minutos.


Tradução Paulo Migliacci

Texto Anterior: Sexo e saúde - Jairo Bouer: Menino não quer tomar banho
Próximo Texto: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: Rock contra George W. Bush
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.