|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA
Programa da MTV americana põe jovens iraquianos e americanos para conversar
Idéias em conflito
JULIE SALAMON
DO "NEW YORK TIMES"
A MTV americana está oferecendo a
jovens telespectadores uma dose
do mundo real, em minúsculas
porções. Em "Chat the Planet: Baghdad 2-Way", transmitido na semana passada nos
EUA, nove universitários de Bagdá e 12 de
Ohio conversaram em um programa de TV
via satélite sobre assuntos como política e
guerra e família. Uma lição foi aprendida:
as aparências enganam. Os universitários
pareciam muito semelhantes em termos de
vestimenta, corte de cabelo e cortesia.
Mas os iraquianos, todos falando inglês,
puseram de lado a idéia de que suas preocupações cotidianas se assemelham às dos
norte-americanos. Yvonne, 21, uma estudante de odontologia, disse: "Não consigo
ir à faculdade em segurança. Não posso
sair. Sou mulher. Tenho medo de ser seqüestrada e estuprada. Tenho medo de ser
levada e nunca mais devolvida".
Seth Kijat, 22, aluno do terceiro ano na
Universidade Kent State, em Kent, Ohio,
disse: "Nossa preocupação é acordar em
tempo para as aulas e encontrar oportunidade para sair com os amigos".
O programa não foi exibido em Bagdá,
como estava planejado, porque os participantes iraquianos poderiam se tornar alvo
de ameaças de morte.
No programa, a guerra foi o tópico dominante. Sura, 24, programadora de computador, disse que os EUA não tinham o direito de invadir seu país. "Nenhuma força pode fazer isso a um país. E se uma força externa considera que Bush é um criminoso e
deseja ocupar os EUA?"
Tony Cox, 20, disse que "é preciso compreender que Bush não está enfileirando
gente diante de fossas coletivas para fuzilamento". Acrescentou que "aceitaria uma
ocupação caso o líder que acaba de ser deposto fosse um tirano homicida".
Kujat ofereceu resposta diferente. "Eu
odiaria. Provavelmente me sentiria exatamente como vocês se sentem."
Quanto às eleições no Iraque, marcadas
para janeiro, Ahmed, 21, estudante de
odontologia, questionou a validade da democracia ao estilo norte-americano para o
seu país. "Aprendemos que toda sociedade
precisa criar sua própria democracia", disse. "Não podemos só aplicar a democracia
norte-americana e esperar que funcione."
Os estudantes norte-americanos passaram três dias discutindo as questões antes
de sua conversa de duas horas e meia com
os iraquianos, que foi editada e exibida como um programa de 22 minutos.
Tradução Paulo Migliacci
Texto Anterior: Sexo e saúde - Jairo Bouer: Menino não quer tomar banho Próximo Texto: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: Rock contra George W. Bush Índice
|