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Alimentação malfeita faz adolescentes entrarem para grupo de risco nutricional
Comer para viver
Ciete Silvério/Folha Imagem
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Claudia Somekh, 15, devora um hambúrguer com carne de soja |
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma fase em que ninguém põe muita fé
no que os pais vivem falando, aquela história de que é preciso comer mais frutas e verduras parece conversinha para boi dormir.
Também quando se trata do que entra pela
boca, a adolescência é a era dos extremos: os
meninos se entopem de junk food; as meninas deixam de comer para tentar ficar com o
corpo de Gisele Bündchen.
Sem controle, acham que nada de mal pode
acontecer a eles e que a saúde vai durar para
sempre. Além disso, a sobrecarga de atividades, como escola, cursos de idioma, esportes,
cursinho etc., dificulta mesmo a vida: quem
tem tempo para sentar-se à mesa e fazer uma
refeição completa todos os dias?
"Fast food é bom quando se está com pressa. Nada substitui uma refeição", diz o estudante Leonardo Lontro de Carvalho, 18, exceção no universo teen, em que sanduíche e batata frita reinam absolutos.
Não é à toa que os adolescentes são considerados um grupo de risco nutricional, ou seja,
costumam estar defasados em relação às suas
necessidades diárias de energia, ferro, vitaminas, carboidratos e proteínas, que aumentam
nessa fase por causa das mudanças no corpo.
"A adolescência é aquela época de rebeldia
geral, que se reflete também na alimentação.
Eles começam a comer fora com os amigos
em redes de fast food, na barraquinha de cachorro-quente da esquina, até como forma de
identificação com o grupo, e acabam diminuindo a quantidade de proteína na alimentação e aumentando só a caloria e as gorduras. É uma espécie de rebeldia alimentar", diz
Jocelen Mastrodi Salgado, professora de nutrição da Esalq-USP, que está lançando o livro
"A Alimentação que Previne Doenças - do
Pré-Escolar à Adolescência" (ed. Madras).
A estudante Julia Veiga Oliveira, 17, diz que
adora junk food. "Nunca comi salada, vomitava quando comia brócolis, detesto fruta.
Quando eu tinha 14 anos e engordei, fiz um
regime e perdi sete quilos. Aí uma hora desencanei e pensei: "Isso não é vida". Mas com
certeza um dia isso pode mudar", reflete.
De acordo com Jocelen, não é preciso radicalizar: ninguém tem de deixar de lado o velho e bom hambúrguer e só comer coisas verdes. "Eu não sou contra lanches. Mas, em vez
de comer um "dogão", por que não um sanduíche nutritivo?", pergunta.
A questão é: comer bem não deve ser uma
obrigação, muito menos um favor para os
pais, e sim um investimento no futuro do corpo. Pesquisas mostram que vários tipos de
alimento não só não fazem mal como previnem doenças. São os chamados alimentos
funcionais, assunto para muitos estudos.
Exemplos: quem come peixe três vezes por
semana reduz o risco de sofrer doenças cardiovasculares; azeite e alguns tipos de óleo e
de margarina ajudam a reduzir o mau colesterol; a soja é rica em isoflavona, que auxilia
na prevenção de osteoporose e de câncer de
mama e de útero; brócolis, couve e tomate
também atuam na prevenção de alguns tipos
de câncer.
Além disso, há várias dicas fáceis que ajudam a melhorar a qualidade dos alimentos
ingeridos, como retirar a pele das aves, a gordura das carnes e não usar saleiro à mesa, pois
o sal retém líqüidos e favorece a hipertensão.
É difícil, mas procure tomar líqüidos uma
hora antes ou uma hora depois das refeições:
isso evita barriga, segundo a professora. Prefira suco a refrigerante: as bebidas gaseificadas
alteram o metabolismo do cálcio, diminuindo o seu aproveitamento pelo organismo, podendo levar à osteoporose no futuro.
E não despreze o arroz com feijão de casa:
essa é uma combinação perfeita, pois cada
um contém tipos de proteína que não estão
presentes no outro.
Para ter uma alimentação equilibrada, mesmo que seja preciso substituir a refeição por
um lanche, lembre-se de que não podem faltar no prato alimentos compostos por carboidratos (pães, torradas ou biscoitos), proteínas
(leite, queijo ou iogurte) e vitaminas e minerais (frutas e vegetais). O ideal é fazer de cinco
a seis refeições por dia.
Obesidade
A preocupação com a alimentação também
é importante para prevenir a obesidade, hoje
considerada uma epidemia mundial, inclusive entre adolescentes. O excesso de gordura é
uma das causas de doenças como arteriosclerose, hipertensão e diabetes.
Segundo a professora Jocelen, a incidência
de câncer de próstata, mama e útero é 35%
maior em obesos. E apenas 2% dos casos de
obesidade se devem a algum problema de
saúde: o restante é por vida sedentária e alimentação errada mesmo.
A quantidade de jovens em busca de uma
reeducação alimentar é tão grande que os Vigilantes do Peso criaram há três anos reuniões
exclusivas para eles, diz Olinda Fernandes, a
gerente nacional do grupo.
A campanha contra a obesidade levou a
Kraft, segunda maior empresa do setor alimentício do mundo, a anunciar no ano passado várias medidas, como a redução do tamanho das porções e a suspensão de ações de
marketing em escolas. Já a rede Burger King
está vendendo hambúrguer sem pão, e o
McDonald's do Brasil incorporou definitivamente ao seu cardápio as saladas, que agora
são servidas em uma porção mais generosa.
A estudante Paola Riccó, 12, costuma comer
pelo menos duas vezes por semana em fast
foods. "Depois, eu me sinto uma baleia. Queria perder uns cinco quilos", exagera Paola,
que é magrinha como as amigas Julia Busch,
13, e Amanda Nogueira, 12.
Julia, por sua vez, resolveu há uma semana
se preocupar com a alimentação. "Comecei a
comer salada no almoço e parei de tomar refrigerante. Eu só comia porcaria", conta.
Já Amanda diz que só come salada porque a
mãe "fica pegando no pé". "O que eu mais
gosto mesmo é de batata frita."
A pressão social pela magreza vem provocando o aumento no número de adolescentes
sofrendo de anorexia e bulimia. Uma pesquisa recente do Núcleo de Tratamento de Transtornos Alimentares e Obesidade da Santa Casa do Rio mostrou que 75% dos estudantes cariocas entrevistados não estão satisfeitos com
o próprio corpo.
"Você é o que você come. Quando a gente
está doente, a primeira coisa que o médico faz
é pedir um exame de sangue. Está tudo lá, circulando nas veias", lembra a professora.
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