São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009

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mundo

Eu também vou reclamar!

Jovens do Camboja usam blogs para lutar por liberdade política e de informação

JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles vivem no Camboja, um dos países mais corruptos do mundo, que enfrentou anos de guerra civil e de golpes de Estado e onde um terço da população ganha menos de R$ 1,50 por dia.
Liderados pelo escritor e fotógrafo Bun Tharum, 26, eles são os chamados "cloggers" -jovens blogueiros cambojanos que têm conseguido, mesmo com conexões lentas e equipamentos limitados, dar alguma voz a uma população acostumada a ter suas discussões políticas restritas ao lar.
"O Camboja é um país muito conservador. Aqui, as pessoas, principalmente as mulheres, precisam de uma oportunidade para discutirem as coisas e os seus sentimentos", disse a blogueira Sreng Nearirath, 22, em entrevista ao techradar.com.
Seu blog -My World vs. Real Scary World (blackandwhiter.blogspot.com)- é um dos mais conhecidos, na contramão do cenário tecnológico dominado por homens.

Blogando com medo
Outra garota que se destaca é Chak Sopheap, 24, tida como a blogueira mais polêmica do país, até porque é uma das únicas a tratar de questões como corrupção e direitos das mulheres em um blog não anônimo (sopheapfocus.com).
O medo de represálias faz com que a maior parte dos blogs políticos do país seja anônima, como o popular detailsaresketchy.wordpress.com.
Até o momento, não há registro de repressão por parte do governo, mas os "cloggers" temem que isso comece a ocorrer à medida que o acesso aos blogs aumente -hoje, menos de 2% dos cambojanos possuem banda larga e computador pessoal.
A prisão política de blogueiros já é uma realidade em vizinhos como a Tailândia.
Como a maior parte dos cambojanos não tem acesso à rede, a influência política dos "cloggers" ainda é reduzida. Para Sopheap, o episódio em que ela se mostrou mais forte foi em 2007, quando os blogueiros apoiaram a Revolução Açafrão contra a ditadura de Mianmar e denunciaram o apoio do Camboja ao regime.
"Diversos blogs postaram sobre o assunto, que estava sendo praticamente ignorado pela imprensa. Foi um exemplo de mobilização para garantirmos nosso direito à informação", disse, em entrevista à Folha.
Os "cloggers" também se fazem notar no mundo real por meio de conferências que incluem convidados internacionais. Nelas, aproveitam para dar oficinas que ensinam a usar ferramentas como podcasts, blogs e redes sociais. Existe, também, um grupo de voluntários que visita universidades e ensina estudantes a postarem.


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