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mundo
Eu também vou reclamar!
Jovens do Camboja usam blogs para lutar por liberdade política e de informação
JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Eles vivem no Camboja, um dos países
mais corruptos do
mundo, que enfrentou anos de guerra
civil e de golpes de Estado e onde um terço da população ganha menos de R$ 1,50 por dia.
Liderados pelo escritor e fotógrafo Bun Tharum, 26, eles
são os chamados "cloggers"
-jovens blogueiros cambojanos que têm conseguido, mesmo com conexões lentas e equipamentos limitados, dar alguma voz a uma população acostumada a ter suas discussões
políticas restritas ao lar.
"O Camboja é um país muito
conservador. Aqui, as pessoas,
principalmente as mulheres,
precisam de uma oportunidade
para discutirem as coisas e os
seus sentimentos", disse a blogueira Sreng Nearirath, 22, em
entrevista ao techradar.com.
Seu blog -My World vs. Real
Scary World (blackandwhiter.blogspot.com)- é um dos mais conhecidos, na contramão do cenário tecnológico dominado por homens.
Blogando com medo
Outra garota que se destaca é
Chak Sopheap, 24, tida como a
blogueira mais polêmica do
país, até porque é uma das únicas a tratar de questões como
corrupção e direitos das mulheres em um blog não anônimo (sopheapfocus.com).
O medo de represálias faz
com que a maior parte dos
blogs políticos do país seja anônima, como o popular detailsaresketchy.wordpress.com.
Até o momento, não há registro de repressão por parte do
governo, mas os "cloggers" temem que isso comece a ocorrer
à medida que o acesso aos blogs
aumente -hoje, menos de 2%
dos cambojanos possuem banda larga e computador pessoal.
A prisão política de blogueiros já é uma realidade em vizinhos como a Tailândia.
Como a maior parte dos
cambojanos não tem acesso à
rede, a influência política dos
"cloggers" ainda é reduzida.
Para Sopheap, o episódio em
que ela se mostrou mais forte
foi em 2007, quando os blogueiros apoiaram a Revolução
Açafrão contra a ditadura de
Mianmar e denunciaram o
apoio do Camboja ao regime.
"Diversos blogs postaram sobre o assunto, que estava sendo
praticamente ignorado pela
imprensa. Foi um exemplo de
mobilização para garantirmos
nosso direito à informação",
disse, em entrevista à Folha.
Os "cloggers" também se fazem notar no mundo real por
meio de conferências que incluem convidados internacionais. Nelas, aproveitam para
dar oficinas que ensinam a usar
ferramentas como podcasts,
blogs e redes sociais. Existe,
também, um grupo de voluntários que visita universidades e
ensina estudantes a postarem.
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