|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
música
Portas abertas
Discografia completa dos Doors é relançada em CDs cheios de bônus
PAULO RICARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
As Portas. Eu sempre
me perguntei que
raio de nome era este, que soava bem
em inglês mas não
fazia o menor sentido em português. Até que conheci William Blake. E Rimbaud, Baudelaire, Ginsberg, Timothy Leary, caras que, se você nunca
ouviu falar, meu caro teenager,
pode começar a pesquisar.
Foi aí que descobri que o nome The Doors foi tirado de um
poema do tal William Blake,
"The Doors of Perception".
"Abra as portas da percepção,
etc...". "As Portas da Percepção" também foi o título que Aldous Huxley deu, em 1954, para
o livro em que narra suas experiências com a mescalina.
A WEA relança de uma vez,
com encartes cheios de fotos,
comentários, todas as letras e
várias bonus tracks, a coleção
completa dos Doors, uma das
maiores bandas de rock de todos os tempos, seis CDs gravados em inacreditáveis cinco
anos, entre 67 e 71, sem dúvida
um dos períodos mais férteis e
produtivos do século 20. Não
por acaso James Douglas Morrison conheceu Ray Manzarek
no curso de cinema da UCLA.
Realmente, o que se viu/ouviu
quando eles abriram as "portas" foi cinema transcendental
da melhor qualidade.
A poesia delirante de Morrison, serpenteando sobre o
blues surrealista da banda, expandiu as fronteiras da música
pop como muito poucos. E não
só, Jim viveu intensamente cada canção, protagonista alucinado 24/7 de sua própria loucura, o Rei Lagarto em pessoa.
Ninguém sai daqui vivo.
"The Doors", o primeiro, é
um dos mais poderosos álbuns
de estréia de todos os tempos.
Chega a ser irônico abrir os
trabalhos com um petardo do
calibre de "Break on Through
(To the Other Side)", verdadeiro hino ao rock'n'roll. Não
bastasse, ainda traz "Light My
Fire" e termina com a edipiana "The End". Fala sério...
Os caras mantiveram o nível
com "Strange Days". "People
Are Strange", "Love Me Two
Times" e "When the Music's
Over" são algumas das atrações dessa viagem. "Waiting
for the Sun", o terceiro, não é
páreo para os anteriores, mas
"Hello, I Love You" vale o CD.
No quarto, "The Soft Parade", Jim já está pra lá de Kashmir, como se pode perceber
pelas fotos. "Touch me", ele
diz, mas prefiro tocar o próximo, "Morrison Hotel", um dos
meus favoritos, que abre com
o clássico "Roadhouse Blues"
e recupera o pique inicial dos
Portas. A despedida fica por
conta de "L.A. Woman", que
além da faixa-título também
cravou "Riders On The Storm"
no mármore da história.
Jim Morrison é hoje um dos
maiores ícones do rock. Sua
imagem dionisíaca em camisetas espalhadas pelo mundo,
um dos poucos eruditos dessa
cultura pagã, um poeta do primeiro time, um quase cineasta
que fez de sua vida seu blockbuster. Morreu de overdose de
tudo aos 27 anos, gordo, barbudo, numa banheira de hotel
em Paris, onde vivia. Maiores
detalhes no excelente filme de
Oliver Stone, "The Doors".
Close the windows, open
the doors, light my fire, let it
roll, baby, roll, all night long!
PAULO RICARDO DE MEDEIROS , 44, foi jornalista musical nos anos 80, antes de se tornar
astro do rock
Texto Anterior: Galã-cantor Jared Leto vai "apagar" John Lennon no cinema Próximo Texto: Sobrevivi a Morrison Índice
|