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02 NEURÔNIO
>> Jô Hallack >>Nina Lemos >> Raq Affonso
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http://02neuronio.blog.uol.com.br/
Em defesa da cólica
A GENTE APRENDE no colégio que existem diferenças entre homens e mulheres. Por exemplo, mulheres têm
útero. Homens não. E quem tem útero sangra. Por isso é que mulheres têm cólicas
menstruais. Homens não. Recentemente,
assistíamos a um programa jornalístico da
noite de domingo e.... entre a abordagem
sensacionalista sobre a morte da menina seqüestrada e um quadro animal-lúdico sobre
a vida dos tigres, vimos uma certa reportagem. Era uma pesquisa sobre as cólicas femininas e, segundo os médicos pesquisadores,
elas eram ruins, pois afetavam a produtividade das funcionárias. Isso mesmo, a produtividade. Não a funcionária!
Para ilustrar a reportagem, eram mostrados três exemplos. Em um, numa firma de telemarketing, mulheres enfileiradas eram submetidas à estressante rotina de telefonemas. A gerente coordenadora dizia que o problema da cólica
foi resolvido com remédios e palestras. E que a produtividade aumentou!
Na outra, uma fábrica de biquínis que funcionava num
galpão, o chefe dizia que inventou um método inovador. As
mulheres que não reclamavam na cólica participavam de
um sorteio quinzenal de brindes. E o resultado é que elas,
mesmo com cólica, fingiam que nada sentiam para poderem ganhar os tais brindes.
No último, a caixa de supermercado contava que, quando
estava com cólica, fazia a única coisa possível: cantava um
samba. São mulheres que, obviamente, são exploradas, trabalham em troca de um salário de fome para que o mundo
possa rodar. Nos sentimos no século 19. Deu vontade de
queimar sutiãs.
Vivemos em tempos neoliberais em que assistimos ao
mundo afundar em uma crise por causa de negociatas e do
capitalismo selvagem. Mas parece que o problema da economia é outro: a cólica feminina. Nas entrelinhas de tais
pesquisas e reportagens, parece que chegamos a ouvir: "Ei,
mulher, não era você que queria ser tratada com igualdade?
Pois então, não venha estragar nossa produtividade".
Essa é uma carta aberta em defesa da cólica, pois somos
mulheres que sangram.
Nosso úteros se contraem,
sentimos dor, e vivam com
isso. E mesmo as que não
sentem dor são solidárias
com as outras. Como somos solidárias com os homens, quando eles têm alguma doença "grave", tipo
uma gripe. Afinal, senhores
pesquisadores, é graças aos
úteros que vocês existem.
Momento de histeria
Úteros em fúria!!!!
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