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COMPORTAMENTO
Sagrado estudo
Diego largou a namorada para ser padre; Gihad vai ser xeque e se casará com quem seus pais escolherem; Felipe troucou a farra por um futuo como pastor; Allyne ensina espiritismo, mas escondia sua religião na escola; Ione é proibida de tocar pessoas em períodos de aprendizado do candomblé; Prana mudou de nome ao virar monge hare Krishna e Aron estudou em dois continente para ser rabino; saiba por que esses sete jovens querem ser líderes religiosos
Catolicismo
Diego Macedo, 19
A turma do primeiro ano do Seminário
Nossa Senhora da Assunção, que forma
padres em São Paulo, tem 11 alunos. Pela
média da instituição, quatro deles devem
desistir antes de completarem o curso. O
percurso é longo, soma oito anos: um ano
de propedêutico (introdução religiosa),
mais três anos de graduação de filosofia e
quatro anos de faculdade de teologia.
Diego Macedo, 19, diz que não será um
dos desistentes, pois já passou pela crise
com a escolha. Certo de sua vocação desde pequeno, ele decidiu, aos 13, que queria ser mais do que coroinha. Foi estudar
em um colégio preparatório da igreja.
De lá, passou para o centro vocacional
da igreja e pelo bispo, que o aprovou para
começar a formação para ser padre.
Aos 18 anos, porém, Diego se apaixonou
por Tati e os planos divinos cessaram por
três meses. O casal sonhava com o casamento e com filhos, "a Sara e o Miguel".
Percebendo que deveria subir ao altar
sozinho, disse à namorada que queria ser
padre. "Ela aceitou, né? Ia fazer o quê?"
Hoje, Diego mora no seminário, onde
tem quarto próprio e é responsável por
cuidar da casa e por preparar as missas.
Ganha uma bolsa em dinheiro da igreja,
que paga seus estudos. E é celibatário.
Islamismo
Gihad Mazloum, 17
Gihad Mazloum, 17, está no primeiro
ano do curso para se tornar um xeque
-líder religioso do islamismo.
Tem mais três anos pela frente, durante os quais vai precisar saber de cor
as muitas centenas de páginas do Alcorão, livro sagrado para os muçulmanos,
e os ensinamentos do profeta Maomé
(também conhecido como Muhammad).
A tarefa não começou agora. Desde os
12 anos o garoto estuda em escolas islâmicas de São Paulo, onde mora. Está seguindo os passos do pai, que é libanês e
também estudou a religião.
"É comum as pessoas me perguntarem se sou feliz assim", diz o garoto.
"Mas a questão não é ser feliz, é servir a
Deus, como minha família me ensinou."
Além de terem tido papel fundamental em despertar nele o interesse pela
religião, seus pais vão cuidar de outra
parte importante de sua vida: a escolha
de sua futura esposa -situação que, segundo Gihad, não o incomoda.
Mas há chateações que vêm de fora,
como o preconceito de quem imediatamente relaciona sua religião com o terrorismo. "Quando digo que sou muçulmano, sempre tem alguém que acha que
sou parente do Osama bin Laden", diz.
Igreja Batista
Felipe Pereira, 17
Quando Felipe Pereira, 17, terminou o
ensino médio, pensava em ser veterinário
ou administrador. Desistiu da primeira
carreira quando o cachorro de um amigo
o mordeu. A segunda saiu de perspectiva
quando o pastor da igreja batista que frequenta há cinco anos disse que a comunidade, em Guarulhos (SP), precisava de
um sacerdote jovem.
Prestou, então, vestibular para teologia.
Hoje, é o calouro mais novo da classe, na
Universidade Metodista. A turma, que começou com 60 alunos, se reduziu a 45
pessoas -das quais só quatro são mulheres, que também podem ser pastoras.
Felipe ainda não trabalha. Diz que está
ansioso para entrar no Exército e prestar
o ano de serviço militar obrigatório. Assim, poderá bancar a parte da mensalidade que a igreja não subsidia e que seus
pais pagam -com muito gosto.
Dentro de casa, a decisão pelo caminho
sagrado foi um orgulho. Fora, nem tanto.
"Alguns parentes disseram que não tem
nada a ver comigo." Os amigos, a maioria
de não evangélicos, não opinam, ele diz.
Mas ajudam na hora em que ele tem
desejos que precisa reprimir, como o de
ir para a noitada. E Felipe não sucumbe:
"O que vem adiante é a vontade de Deus".
Espiritismo
Allyne Lopes, 19
Há sete anos, Allyne Lopes, 19, não
contava para nenhum colega de escola
que ia a um centro espírita. Tinha medo
de sofrer preconceito, caso eles pensassem que ela tinha o dom de ver e de receber espíritos. "Receava que dissessem
que eu era macumbeira", conta, rindo.
Apesar de, no espiritismo, haver a
possibilidade de uma pessoa entrar em
contato com os espíritos, esse não é o
caso da garota, que não é médium. O
papel que ela desempenha na comunidade espírita é o de coordenar o ensino
do espiritismo a crianças e o de ajudar a
administrar o centro que frequenta.
Aos 12 anos, depois de participar de
diversos cursos, ela própria dava aulas
aos pequenos. "A caridade é, para mim,
o fundamento mais bonito e forte do espiritismo, e é por isso que eu me dedico
aos alunos carentes."
Atualmente, seus amigos conhecem
sua fé e a respeitam, mesmo quando ela
opta por beber água quando saem à noite para a ir a bares e boates.
Evitar o álcool, porém, não é uma regra imposta pela religião, mas por si
mesma. "Lidamos com o livre arbítrio.
Você sabe o que faz com o seu corpo e
eu sei o que eu faço com o meu."
Candomblé
Ione de Souza, 23
Aos quatro anos de idade, Ione de
Souza não pronunciava quase nenhuma
palavra. Depois de ir, em vão, à fonoaudióloga, foi com a mãe a uma casa de
santo, onde ouviu que precisava de uma
"cura espiritual". Iniciou-se no candomblé e saiu de lá falando.
Passados 13 anos, ela decidiu se tornar
mãe de santo: foi morar com uma ialorixá e ficou 21 dias reclusa, começando o
período de sete anos para aprender a tomar contato com os orixás.
O diálogo com as entidades, que "descem" (incorporam) nos fiéis, é essencial
para um líder da religião afro-brasileira.
Hoje, Ione pode sair de casa: trabalha
como auxiliar de enfermagem e vai a
barzinhos e a noitadas com os amigos.
Só não pode falar palavrões ou ter
contato físico ou sexual se está "de preceito" -período de aprendizado intenso
e de rituais, que podem envolver sacrifício de animais. Ela diz que o namorado,
católico, entende as restrições sagradas.
Da religião, ganhou calma para lidar
com o preconceito. "Um dia, estava na
padaria e gritaram: "Olha lá a macumbeira!". Eu fiquei calada, aprendi que não
posso responder, mas fico triste, pois as
pessoas não sabem o que falam."
Hare Krishna
Prana Natha, 25
É difícil crer que a voz calma de Prana
Natha Das, 25, cantou ska em uma banda
antes de entoar mantras hare Krishna.
Pedro Ramos (seu nome original) já era
vegetariano aos 16 e tinha questões como
"para que estou vivo?". Buscou respostas
na filosofia, mas só as achou no "Bhagavad
Gita", livro-guia da religião oriental.
Em meses, Pedro adotou o templo como
nova casa, raspou os cabelos e incorporou
um novo nome -o dele significa "servo do
senhor do ar sagrado". Fez tudo como é de
praxe entre os novos monges e monjas.
Outra mudança foi instrumental: trocou
a guitarra e o sax por instrumentos indianos como o harmônio e a miridanga. E foi
três vezes à Índia tocar seu som para louvar Krishna, Deus em sua crença.
Com doações de pessoas que frequentam os jantares e rezas do templo, também já conheceu os EUA, parte da Europa,
a Argentina, o Uruguai e o México. Tudo à
custa de um trabalho que dura o dia todo.
Às 3h45, ele se levanta da esteira estendida no chão do templo onde vive para rezar e dar aulas, e só dorme às 22h30.
Hoje, a vida de Prana está tão ligada à
religião -sua mãe se mudou para o templo
há três anos- que ele precisa pegar calças
emprestadas quando quer sair do templo.
Judaísmo
Aron Kurc, 25
A barba longa, sem aparar, esconde a
pouca idade do rabino Aron Kurc, 25. A
maturidade que ele demonstra enquanto
explica à reportagem porque decidiu seguir a vida religiosa, também.
Mas o rabinato nem sempre foi uma
certeza na vida do rapaz. Aos 16, ele desistiu de estudar em uma escola judaica
(ou "yeshivá"). "Eu não punha em dúvida
se eu era judeu ou não, e sim se deveria
seguir as regras do judaísmo."
A vida longe da religião durou pouco.
"O que não me deixava em paz era pensar que não havia nenhum objetivo na vida, sem religião." Voltou para a escola.
A essa altura do campeonato, Aron já
tinha 17 anos e a barba começava a aparecer em seu rosto. Deixou-a crescer,
mesmo que essa tradição não fosse adotada em casa. "Estudei as razões místicas
para isso, não tenho vontade de cortar."
Foram três anos de estudos em Israel e
mais dois nos Estados Unidos. Aos 23
anos, retornou ao Brasil como rabino -e
fluente em hebraico, condição para receber o título. Com a ajuda da família, encontrou uma noiva e se casou. "No judaísmo, o casamento é aconselhável, e
cabe à comunidade ajudar para que duas
pessoas parecidas se encontrem", explica.
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