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NAS RUAS
Grafiteiros tentam dar
status de arte para suas pinturas e ganham espaço
em exposições e galerias
Grafite do bem
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles começaram pela subversiva pichação, mas aos poucos foram se
rendendo aos encantos do grafite, as
pinturas em spray ou tinta feitas na cidade.
Hoje, estudam história da arte e participam de exposições, com a intenção de dar
ao trabalho realizado nos muros da cidade
uma consistência artística.
Marcelo Savioli Gutierrez, 19, o Mea, faz
parte do grupo de grafiteiros engajados. Ele
conheceu o grafite por intermédio dos amigos do bairro, com quem costumava ouvir
rap. Logo, começou a se interessar pelo
movimento hip hop, que tem no grafite um
dos seus fundamentos (os outros são a
dança break e a música).
No início, era tudo uma curtição. Eles
saíam em grupo pela cidade, pintavam os
muros, ouviam música. "Comecei pela
adrenalina", conta.
Com o tempo, ele passou a se interessar
por história da arte e o grafite virou um trabalho solitário. Hoje, ele só sai para pintar
sozinho e sempre planeja as criações que
vai deixar na cidade, desenhando croquis
ou rascunhos de seus trabalhos em casa.
"Para mim, o grafite é um momento de
meditação, eu esqueço do mundo e me
concentro nas cores e nas formas", diz.
A escolha do local onde a pintura vai ser
feita é tomada nas andanças pela cidade.
Geralmente são muros de prédios abandonados. Quando se interessa pelo muro de
alguma casa, pede autorização para pintar.
Até os amigos já encomendaram grafites
personalizados.
O trabalho já lhe rendeu a primeira participação em uma exposição coletiva, "Varal", realizada no ano passado na galeria
Grafiteria, em Pinheiros. Mea grafitou uma
gravata e um boné para o evento, que trazia
criações de vários outros grafiteiros em peças de roupas.
Neste ano, ele vai fazer vestibular para o
curso de design.
Aos 22 anos, Isaac de Oliveira Szebeny, o
Dev, já acumula dez anos de história no
grafite. Atualmente, apesar de continuar
pintando muros, ele não se considera mais
grafiteiro. É artista visual. "Hoje, para fazer
arte, não é preciso pintar uma tela. O grafite
é uma nova arte, contemporânea", diz.
Seu trabalho com grafite, ele considera
"underground", pois prefere locais com
pouca visibilidade, como casas abandonadas e terrenos baldios.
Dev já começa a perceber o reconhecimento de seu trabalho. A experiência na cidade lhe rendeu propostas em outras áreas.
Hoje, ele também faz cenografia para comerciais, já grafitou painéis para grandes
empresas e trabalha na galeria de arte urbana Grafiteria, a mesma que realizou a exposição de Mea.
Se você achou estranho a existência de
uma galeria dedicada exclusivamente à arte
urbana e ao grafite, saiba que esta não é a
única. Em São Paulo, a Choque Cultural,
em Pinheiros, também divulga a arte das
ruas.
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