São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

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NAS RUAS

Grafiteiros tentam dar status de arte para suas pinturas e ganham espaço em exposições e galerias

Grafite do bem

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles começaram pela subversiva pichação, mas aos poucos foram se rendendo aos encantos do grafite, as pinturas em spray ou tinta feitas na cidade.
Hoje, estudam história da arte e participam de exposições, com a intenção de dar ao trabalho realizado nos muros da cidade uma consistência artística.
Marcelo Savioli Gutierrez, 19, o Mea, faz parte do grupo de grafiteiros engajados. Ele conheceu o grafite por intermédio dos amigos do bairro, com quem costumava ouvir rap. Logo, começou a se interessar pelo movimento hip hop, que tem no grafite um dos seus fundamentos (os outros são a dança break e a música).
No início, era tudo uma curtição. Eles saíam em grupo pela cidade, pintavam os muros, ouviam música. "Comecei pela adrenalina", conta.
Com o tempo, ele passou a se interessar por história da arte e o grafite virou um trabalho solitário. Hoje, ele só sai para pintar sozinho e sempre planeja as criações que vai deixar na cidade, desenhando croquis ou rascunhos de seus trabalhos em casa.
"Para mim, o grafite é um momento de meditação, eu esqueço do mundo e me concentro nas cores e nas formas", diz.
A escolha do local onde a pintura vai ser feita é tomada nas andanças pela cidade. Geralmente são muros de prédios abandonados. Quando se interessa pelo muro de alguma casa, pede autorização para pintar. Até os amigos já encomendaram grafites personalizados.
O trabalho já lhe rendeu a primeira participação em uma exposição coletiva, "Varal", realizada no ano passado na galeria Grafiteria, em Pinheiros. Mea grafitou uma gravata e um boné para o evento, que trazia criações de vários outros grafiteiros em peças de roupas.
Neste ano, ele vai fazer vestibular para o curso de design.
Aos 22 anos, Isaac de Oliveira Szebeny, o Dev, já acumula dez anos de história no grafite. Atualmente, apesar de continuar pintando muros, ele não se considera mais grafiteiro. É artista visual. "Hoje, para fazer arte, não é preciso pintar uma tela. O grafite é uma nova arte, contemporânea", diz.
Seu trabalho com grafite, ele considera "underground", pois prefere locais com pouca visibilidade, como casas abandonadas e terrenos baldios.
Dev já começa a perceber o reconhecimento de seu trabalho. A experiência na cidade lhe rendeu propostas em outras áreas. Hoje, ele também faz cenografia para comerciais, já grafitou painéis para grandes empresas e trabalha na galeria de arte urbana Grafiteria, a mesma que realizou a exposição de Mea.
Se você achou estranho a existência de uma galeria dedicada exclusivamente à arte urbana e ao grafite, saiba que esta não é a única. Em São Paulo, a Choque Cultural, em Pinheiros, também divulga a arte das ruas.


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