São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2007

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música

Indies do Irã

Sob a ameaça de chicotadas em praça pública por tocar rock, a banda iraniana Hypernova excursiona pelos Estados Unidos e fala ao Folhateen

THIAGO BRONZATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Era uma vez "Quatro garotos vagabundos/ Sem nada pra fazer/ Nenhum lugar pra ir/ Nada pra provar/ Vivendo suas vidas no coração do Irã..."
Eles, então, resolveram formar uma banda punk em Teerã, capital do Irã. O resultado? Foram obrigados a tocar escondidos nos porões de casas noturnas e em aldeias distantes.
"Era engraçado. Quando subíamos ao palco, dava uma sensação de liberdade. A gente se sentia rockstars...", contou ao Folhateen King Raam, 25, frontman da banda Hypernova. "Queríamos sacudir o mundo, mostrar para as pessoas que, sim!, é possível fazer rock de qualidade no Irã", entusiasma-se o guitarrista Kodi, 17.
Em 2005, época em que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, proibia todo tipo de música "imperialista" no país, os dois mais Kami (bateria) e Jam (baixo) compartilhavam com os fãs influências de "grupos gringos" como Arctic Monkeys, Franz Ferdinand, Interpol, Kasabian e, principalmente, The Strokes.
Não demorou muito para que os adolescentes de Teerã ganhassem a simpatia do Ocidente. Depois de algumas apresentações na Europa, eles foram chamados para participar do South by Southwest, megafestival de música que rolou no mês passado no Texas, EUA.
Mas um imprevisto pôs tudo a perder. "Tivemos que esperar pelo visto em Nova York. Demorou muito e perdemos o festival... Foi a deixa pra darmos shows em NY", diz Kodi.
O grupo pretende aproveitar o visto de turista pra se apresentar em vários lugares. Caso dê certo e firme algum patrocínio em NY, a volta do Hypernova a Teerã será adiada.

Punição: chicote
Afinal, tocar rock por lá não é fácil. Segundo King Raam, uma vez os policiais invadiram o show do Hypernova, colocando todo mundo pra correr.
Perguntado sobre a punição de ser chicoteado em público caso toque rock no Irã, Raam responde: "Essa é uma questão complicada. Queremos falar somente sobre a nossa música, só isso". Raam saiu pela tangente porque sabe que, quando voltar ao Irã, poderá sofrer alguma punição devido a suas declarações. "Um amigo de lá já me alertou: "Tome cuidado com o que você fala, Raam"."
O Hypernova divulga seu trabalho no MySpace, onde é possível baixar duas canções do EP "Who Says You Can't Rock in Iran" (quem disse que não é possível fazer rock no Irã?). Uma delas é "No One", que traz os versos do início deste texto.
"A internet tem nos ajudado de diversas maneiras. Tanto no Irã como no mundo inteiro, é a maneira mais fácil de mostrar canções e enviar as últimas notícias da banda", comenta o baterista Kami, 25, que ainda patina no inglês. Todos os integrantes falam entre si em farsi, língua original de seu país.


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