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música
Indies do Irã
Sob a ameaça de chicotadas em
praça pública por tocar rock, a banda iraniana Hypernova excursiona pelos Estados Unidos e fala ao Folhateen
THIAGO BRONZATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Era uma vez "Quatro
garotos vagabundos/ Sem nada pra
fazer/ Nenhum lugar pra ir/ Nada pra
provar/ Vivendo suas vidas no
coração do Irã..."
Eles, então, resolveram formar uma banda punk em Teerã, capital do Irã. O resultado?
Foram obrigados a tocar escondidos nos porões de casas noturnas e em aldeias distantes.
"Era engraçado. Quando subíamos ao palco, dava uma sensação de liberdade. A gente se
sentia rockstars...", contou ao
Folhateen King Raam, 25,
frontman da banda Hypernova.
"Queríamos sacudir o mundo,
mostrar para as pessoas que,
sim!, é possível fazer rock de
qualidade no Irã", entusiasma-se o guitarrista Kodi, 17.
Em 2005, época em que o
presidente do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad, proibia todo tipo
de música "imperialista" no
país, os dois mais Kami (bateria) e Jam (baixo) compartilhavam com os fãs influências de
"grupos gringos" como Arctic
Monkeys, Franz Ferdinand,
Interpol, Kasabian e, principalmente, The Strokes.
Não demorou muito para que
os adolescentes de Teerã ganhassem a simpatia do Ocidente. Depois de algumas apresentações na Europa, eles foram
chamados para participar do
South by Southwest, megafestival de música que rolou no
mês passado no Texas, EUA.
Mas um imprevisto pôs tudo
a perder. "Tivemos que esperar
pelo visto em Nova York. Demorou muito e perdemos o festival... Foi a deixa pra darmos
shows em NY", diz Kodi.
O grupo pretende aproveitar
o visto de turista pra se apresentar em vários lugares. Caso
dê certo e firme algum patrocínio em NY, a volta do Hypernova a Teerã será adiada.
Punição: chicote
Afinal, tocar rock por lá não é
fácil. Segundo King Raam, uma
vez os policiais invadiram o
show do Hypernova, colocando
todo mundo pra correr.
Perguntado sobre a punição
de ser chicoteado em público
caso toque rock no Irã, Raam
responde: "Essa é uma questão
complicada. Queremos falar
somente sobre a nossa música,
só isso". Raam saiu pela tangente porque sabe que, quando
voltar ao Irã, poderá sofrer alguma punição devido a suas declarações. "Um amigo de lá já
me alertou: "Tome cuidado com
o que você fala, Raam"."
O Hypernova divulga seu trabalho no MySpace, onde é possível baixar duas canções do EP
"Who Says You Can't Rock in
Iran" (quem disse que não é
possível fazer rock no Irã?).
Uma delas é "No One", que traz
os versos do início deste texto.
"A internet tem nos ajudado
de diversas maneiras. Tanto no
Irã como no mundo inteiro, é a
maneira mais fácil de mostrar
canções e enviar as últimas notícias da banda", comenta o baterista Kami, 25, que ainda patina no inglês. Todos os integrantes falam entre si em farsi,
língua original de seu país.
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