|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA
Governo institui amanhã, em cerimônia em Brasília, secretaria e conselho da Juventude, mas participantes de entidades que trabalham com jovens criticam alguns pontos do projeto
Pedra fundamental
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de um ano de muita discussão, finalmente a Política Nacional
de Juventude vai sair do papel. Está
prevista para amanhã, em Brasília, a cerimônia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar uma medida provisória instituindo a Secretaria Nacional de
Juventude, o Conselho Nacional de Juventude e um programa para beneficiar jovens
carentes das capitais, chamado Pró-Jovem.
Até o final da semana passada, ainda não
estava decidido quem iria ocupar a secretaria nem se o conselho iria ser deliberativo
(com o poder de decidir) ou apenas consultivo (para dar idéias ao governo). Mas, apesar de ainda faltarem muitas definições, a
assinatura da Política Nacional de Juventude é como a pedra fundamental de uma
construção: sem ela, nada começa de fato.
"Acho que é um avanço. A questão agora
é saber como isso vai ser construído. Esperamos que o processo seja o mais democrático possível e que exista um diálogo com o
Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis", disse a socióloga Maria
Carla Corrochano, que trabalha na área de
juventude da ONG Ação Educativa, em São
Paulo. "A data do lançamento, colada no
Fórum Social Mundial, é que não foi muito
legal. Poderia ter sido outra, para que mais
organizações pudessem participar."
Essa também é a opinião do professor
Juarez Dayrell, coordenador do Observatório da Juventude da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais). "A data foi meio
infeliz, pois qualquer questão relacionada à
juventude deveria ser uma oportunidade
de interlocução com os jovens. Mas não
quero já começar batendo no programa. A
gente tem que tomar cuidado para não
massacrar a criança antes de ela nascer."
Para Lucas Guerriei Vilas-Bôas, 24, do
Instituto da Juventude do Baixo Sul da Bahia, o ponto fraco do projeto do governo é o
conselho. "Eu acho importante criar organismos e espaços concretos de construção
de políticas públicas de juventude. Porém
acho que o conselho deveria ser mais discutido e constituído por meio de conferências, com eleição de delegados. Discordo do
jeito que está sendo feito."
Já Fábio Pena, 25, que coordena os programas de juventude do Projeto Saúde e
Alegria, em Santarém (PA), critica a opção
por atender apenas jovens de capitais no
Pró-Jovem. "A gente entende que o jovem
da zona urbana está mais vulnerável do que
o da zona rural, mas é importante ter a dimensão de que uma coisa está relacionada
à outra. Os jovens da zona rural, sem trabalho e estudo, acabam indo para a cidade e
aumentando os problemas. As políticas
precisam ser integradas", afirma.
Patrícia Cristiane de Oliveira, 21, do grupo D-Ver.Cidade Cultural, de Belo Horizonte, defende o Pró-Jovem. "A idéia do
programa é boa, porque uma das coisas
que mais pega para o jovem que procura
emprego é a falta de experiência. Mas é
aquela coisa, no papel é tudo muito bonito,
mas na hora de praticar precisa ver se quem
vai participar é quem mais precisa."
O subsecretário de Articulação Social da
Secretaria Geral da Presidência, Beto Cury,
afirma que uma das idéias em discussão é
que os beneficiados pelo programa sejam
escolhidos por meio de um sorteio pelas loterias da Caixa Econômica Federal.
Sobre o conselho, ele disse que "o objetivo é que ele seja instituído da forma mais
pactuada possível, com um caráter de pluralidade regional e de temáticas, mas é evidente que não vai caber todo mundo".
Texto Anterior: Sexo & saúde - Jairo Bouer: Carnaval também é para pensar Próximo Texto: O sonho não acabou Índice
|