São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

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POLÍTICA

Governo institui amanhã, em cerimônia em Brasília, secretaria e conselho da Juventude, mas participantes de entidades que trabalham com jovens criticam alguns pontos do projeto

Pedra fundamental

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um ano de muita discussão, finalmente a Política Nacional de Juventude vai sair do papel. Está prevista para amanhã, em Brasília, a cerimônia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar uma medida provisória instituindo a Secretaria Nacional de Juventude, o Conselho Nacional de Juventude e um programa para beneficiar jovens carentes das capitais, chamado Pró-Jovem.
Até o final da semana passada, ainda não estava decidido quem iria ocupar a secretaria nem se o conselho iria ser deliberativo (com o poder de decidir) ou apenas consultivo (para dar idéias ao governo). Mas, apesar de ainda faltarem muitas definições, a assinatura da Política Nacional de Juventude é como a pedra fundamental de uma construção: sem ela, nada começa de fato.
"Acho que é um avanço. A questão agora é saber como isso vai ser construído. Esperamos que o processo seja o mais democrático possível e que exista um diálogo com o Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis", disse a socióloga Maria Carla Corrochano, que trabalha na área de juventude da ONG Ação Educativa, em São Paulo. "A data do lançamento, colada no Fórum Social Mundial, é que não foi muito legal. Poderia ter sido outra, para que mais organizações pudessem participar."
Essa também é a opinião do professor Juarez Dayrell, coordenador do Observatório da Juventude da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). "A data foi meio infeliz, pois qualquer questão relacionada à juventude deveria ser uma oportunidade de interlocução com os jovens. Mas não quero já começar batendo no programa. A gente tem que tomar cuidado para não massacrar a criança antes de ela nascer."
Para Lucas Guerriei Vilas-Bôas, 24, do Instituto da Juventude do Baixo Sul da Bahia, o ponto fraco do projeto do governo é o conselho. "Eu acho importante criar organismos e espaços concretos de construção de políticas públicas de juventude. Porém acho que o conselho deveria ser mais discutido e constituído por meio de conferências, com eleição de delegados. Discordo do jeito que está sendo feito."
Já Fábio Pena, 25, que coordena os programas de juventude do Projeto Saúde e Alegria, em Santarém (PA), critica a opção por atender apenas jovens de capitais no Pró-Jovem. "A gente entende que o jovem da zona urbana está mais vulnerável do que o da zona rural, mas é importante ter a dimensão de que uma coisa está relacionada à outra. Os jovens da zona rural, sem trabalho e estudo, acabam indo para a cidade e aumentando os problemas. As políticas precisam ser integradas", afirma.
Patrícia Cristiane de Oliveira, 21, do grupo D-Ver.Cidade Cultural, de Belo Horizonte, defende o Pró-Jovem. "A idéia do programa é boa, porque uma das coisas que mais pega para o jovem que procura emprego é a falta de experiência. Mas é aquela coisa, no papel é tudo muito bonito, mas na hora de praticar precisa ver se quem vai participar é quem mais precisa."
O subsecretário de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência, Beto Cury, afirma que uma das idéias em discussão é que os beneficiados pelo programa sejam escolhidos por meio de um sorteio pelas loterias da Caixa Econômica Federal.
Sobre o conselho, ele disse que "o objetivo é que ele seja instituído da forma mais pactuada possível, com um caráter de pluralidade regional e de temáticas, mas é evidente que não vai caber todo mundo".

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