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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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"Que dia para fazer 13 anos!"

RAMZI KYSIA
DO "ELECTRONICIRAQ.NET"

Amal Shamuri é a quinta filha de uma família de oito e vive em um pequeno apartamento próximo ao bairro comercial de Karrada em Bagdá. Irrepreensível e precoce, Amal, em janeiro deste ano, brincou, dizendo que não se importaria com uma guerra se George W. Bush bombardeasse apenas a sua escola.
Hoje a história é diferente. Hoje, Amal comemora o seu 13º aniversário no quarto dia de ataques aéreos norte-americanos em Bagdá rodeada pela fumaça negra que envolve a cidade e escurece o céu, produzida por petróleo incendiado por forças iraquianas para defender a capital.
Para marcar a ocasião, sua família e amigos se reuniram com ativistas do Iraq Peace Team em um jardim próximo ao rio Tigre. Eles encheram bexigas, sopraram bolinhas de sabão, penduraram bandeirinhas de festa e comeram frango assado, salada de batata, "devilled eggs" (ovo cozido temperado) e bolo de chocolate. Como de costume, a garotada comeu o bolo primeiro, antes que o restante da refeição fosse servida aos adultos presentes.
Mísseis de cruzeiro explodindo ao sul e ao leste ocasionamente interrompiam a festa. Um deles foi forte o suficiente para chacoalhar não só a mesa como os convidados. As explosões só silenciavam a festa temporariamente. Em instantes, o jardim era tomado por gargalhadas, gritos e tumultuadas brincadeiras infantis, que aconteciam abaixo das colunas de destroços e de fumaça que se formavam à distância.
"A vida é mais poderosa do que a morte", disse Shane Claiborne, 27, da Filadélfia. "Como George W. Bush bombardeia essas crianças?" ele perguntou.
Lisa Ndejuru, 32, observou baixinho: "Que dia para fazer 13 anos!".
A mãe de Amal, Kareema, estava de lado, sentada em silêncio, vendo seus filhos brincarem. Seu marido morreu em um acidente de carro há oito anos, deixando-a sozinha para criar os oito filhos. Graças a ela, nenhum deles está mendigando nas ruas e todos, menos o mais velho, continuam na escola. Amal sonha em se tornar uma advogada um dia.
Quando perguntaram a ela o que queria de presente de aniversário, Amal -cujo nome significa "esperança" em árabe- sorriu e simplesmente respondeu: "Tudo o que eu quero é paz".


Este texto foi publicado originalmente no dia 23/3 no site electroniciraq.net, produzido pelo Iraq Peace Team, um projeto da organização Voices in the Wilderness.

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