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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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HOMENS NA MIRA

Integrante de organização acredita no mérito de correr riscos em favor da paz

Escudos humanos protegem alvos estratégicos

ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

"Morrer pela paz tem mais mérito do que morrer pela guerra." Assim pensa o ativista canadense Nicolas Thibodeau, 25, que na semana passada estava em Amã, na Jordânia, tentando entrar no Iraque para servir de escudo humano. "Mas meu objetivo não é morrer."
Como os outros cem membros da ONG Human Shields (Escudos Humanos) que já estão em Bagdá, ele quer ficar em locais estratégicos da cidade para evitar que sejam bombardeados pelas tropas dos EUA e do Reino Unido.
Thibodeau contou, por telefone, ao Folhateen que os escudos estão em três lugares da capital iraquiana: uma estação de tratamento de água, uma usina de eletricidade e uma refinaria de petróleo, alvos cujo bombardeio poderia causar mais transtornos para a população.
Antes de se postarem nesses lugares, a localização dos escudos é informada para o comando da coalizão anglo-americana. Segundo o ativista, haveria um acordo de que os lugares em que eles estão não serão bombardeados. Há mais de 30 ativistas em cada local.
"São pessoas de todas as partes do mundo, jovens, velhos, que vêm para cá com seu próprio dinheiro. Também recebemos doações. O movimento é descentralizado, horizontal, não há um chefe, um líder", diz.
Outros 25 escudos humanos do Human Shields estão em Amã, esperando uma oportunidade para ir a Bagdá.

Brasileiro
Além do Human Shields, há diversas outras organizações que também estão com escudos humanos em Bagdá, como o Iraq Peace Team e o TJP (Trust, Justice and Peace), com o qual o gaúcho Glauco Caruso, 29, quase chegou lá.
Caruso, que é modelo da agência Elite e ex-baterista da banda De Falla, resolveu subitamente virar escudo humano quando foi se despedir do amigo Flávio Ravara, 31, que estava indo de Londres para o Iraque na tarde do dia 25 de janeiro.
A caravana do TJP, formada por três típicos ônibus londrinos de dois andares, ia partir dentro de três horas. Foi o tempo de Caruso passar em casa, pegar uma mochila e ir a um hospital, onde tomou três das sete vacinas que se deve tomar antes de ir para lá -cólera, tifo e malária. "Fui por um motivo bem simples, eu quero paz." As outras vacinas ele fez pelo caminho, na França e na Itália.
Na partida, eram 48 pessoas dispostas a servir de escudo humano. No dia 7 de fevereiro, quando chegaram à Turquia, eles já eram 150 pessoas, que haviam se juntado no caminho à TJP, fundada pelo ex-fuzileiro naval norte-americano Ken Nichols O'Keefe, que, depois de lutar na Guerra do Golfo em 1991, rasgou seu passaporte e renunciou à cidadania dos EUA por se desiludir com o seu país.
Istambul, na Turquia, país que faz fronteira com o Iraque, foi o ponto final da jornada do ativista gaúcho. Além do seu dinheiro ter acabado (200 libras esterlinas, cerca de R$ 1.000), Caruso se decepcionou com o ex-fuzileiro.
"Eles disseram que iam financiar nossas despesas, mas depois do segundo dia não pagaram mais nada. E nas reuniões só o Ken queria falar, só ele podia dar entrevista. Essa postura centralizadora é bem coisa de americano", disse. No final de fevereiro, Caruso voltou ao Brasil.

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