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HOMENS NA MIRA
Integrante de organização acredita no mérito de correr riscos em favor da paz
Escudos humanos protegem alvos estratégicos
ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA
"Morrer pela paz tem mais mérito do
que morrer pela guerra." Assim
pensa o ativista canadense Nicolas Thibodeau, 25, que na semana passada estava em Amã, na Jordânia, tentando entrar
no Iraque para servir de escudo humano.
"Mas meu objetivo não é morrer."
Como os outros cem membros da
ONG Human Shields (Escudos Humanos) que já estão em Bagdá, ele quer ficar
em locais estratégicos da cidade para evitar que sejam bombardeados pelas tropas dos EUA e do Reino Unido.
Thibodeau contou, por telefone, ao Folhateen que os escudos estão em três lugares da capital iraquiana: uma estação
de tratamento de água, uma usina de eletricidade e uma refinaria de petróleo, alvos cujo bombardeio poderia causar
mais transtornos para a população.
Antes de se postarem nesses lugares, a
localização dos escudos é informada para o comando da coalizão anglo-americana. Segundo o ativista, haveria um
acordo de que os lugares em que eles estão não serão bombardeados. Há mais
de 30 ativistas em cada local.
"São pessoas de todas as partes do
mundo, jovens, velhos, que vêm para cá
com seu próprio dinheiro. Também recebemos doações. O movimento é descentralizado, horizontal, não há um chefe, um líder", diz.
Outros 25 escudos humanos do Human Shields estão em Amã, esperando
uma oportunidade para ir a Bagdá.
Brasileiro
Além do Human Shields, há diversas
outras organizações que também estão
com escudos humanos em Bagdá, como
o Iraq Peace Team e o TJP (Trust, Justice
and Peace), com o qual o gaúcho Glauco
Caruso, 29, quase chegou lá.
Caruso, que é modelo da agência Elite e
ex-baterista da banda De Falla, resolveu
subitamente virar escudo humano quando foi se despedir do amigo Flávio Ravara, 31, que estava indo de Londres para o
Iraque na tarde do dia 25 de janeiro.
A caravana do TJP, formada por três típicos ônibus londrinos de dois andares,
ia partir dentro de três horas. Foi o tempo
de Caruso passar em casa, pegar uma
mochila e ir a um hospital, onde tomou
três das sete vacinas que se deve tomar
antes de ir para lá -cólera, tifo e malária.
"Fui por um motivo bem simples, eu
quero paz." As outras vacinas ele fez pelo
caminho, na França e na Itália.
Na partida, eram 48 pessoas dispostas a
servir de escudo humano. No dia 7 de fevereiro, quando chegaram à Turquia, eles
já eram 150 pessoas, que haviam se juntado no caminho à TJP, fundada pelo ex-fuzileiro naval norte-americano Ken Nichols O'Keefe, que, depois de lutar na
Guerra do Golfo em 1991, rasgou seu passaporte e renunciou à cidadania dos EUA
por se desiludir com o seu país.
Istambul, na Turquia, país que faz fronteira com o Iraque, foi o ponto final da
jornada do ativista gaúcho. Além do seu
dinheiro ter acabado (200 libras esterlinas, cerca de R$ 1.000), Caruso se decepcionou com o ex-fuzileiro.
"Eles disseram que iam financiar nossas despesas, mas depois do segundo dia
não pagaram mais nada. E nas reuniões
só o Ken queria falar, só ele podia dar entrevista. Essa postura centralizadora é
bem coisa de americano", disse. No final
de fevereiro, Caruso voltou ao Brasil.
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