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PORTUGUÊS
Arte moderna convida à reflexão
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A arte moderna a muitos parece
hermética ou mesmo desprovida de um sentido. Tal impressão, entretanto, talvez nasça de
uma espécie de vício interpretativo, segundo o qual a obra sempre
"quer dizer" algo além de si mesma e interpretá-la é descobrir o
que ela oculta.
Essa aparente dificuldade de entender a arte moderna revela um
observador preso a cânones inadequados para a apreensão de um
novo padrão.
O que se chama de arte moderna nasceu nos primórdios do século 20, quando eclodiram na Europa os chamados movimentos
de vanguarda (futurismo, cubismo, dadaísmo etc.), que significaram, à época, uma ruptura radical
com o conceito de arte vigente. O
elemento figurativo, de representação da realidade, cedeu espaço
ao traço metalingüístico, por
meio do qual a arte se voltou para
si mesma e pôs em marcha a reavaliação de suas potencialidades.
No quadro cubista "O Bilhar",
de Braque, aquilo que, à primeira
vista, parece um objeto deformado, é, na verdade, a fusão de diferentes pontos de vista numa mesma tela. No dadaísmo, os artistas
retiravam objetos de seu contexto
de utilidade e, dessa maneira,
conferiam-lhes o estatuto de arte.
É o caso da "Roda de Bicicleta",
assinada por Marcel Duchamp.
Gestos radicais apontaram novos
caminhos para a arte, que incorporou o conceito de intenção.
Se a tradição ocultou a forma e
privilegiou o conteúdo da obra de
arte, a modernidade fez exatamente o inverso. A harmonia das
imagens ou a perícia do artista na
reprodução da realidade deram
vez à explicitação dos elementos e
das técnicas, num processo de recombinação de informações e de
constante diálogo com a tradição.
Assim, a arte contemporânea,
como a arte moderna, fechada à
fruição espontânea, convida o espectador à reflexão.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha.
E-mail:tnicoleti@folhasp.com.br
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