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ATUALIDADES
Para não esquecer Vladimir Herzog
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Corria o ano de 1975. Num cenário dominado pela Guerra Fria
e pela bipolarização político-militar, o Brasil vivia sob a ditadura
militar. Na Ásia, os comunistas
decretavam o fim da Guerra do
Vietnã. Sob Ernesto Geisel, o Brasil acabara de assinar o acordo
nuclear com a Alemanha e ensaiava os primeiros passos rumo à flexibilização do regime.
No entanto, nos cárceres, a repressão aos militantes de esquerda, os comunistas, ainda era intensa. Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura
de São Paulo, fora intimado a
comparecer ao DOI-Codi (Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de
Defesa Interna) para depor sobre
sua ligação com o PCB (Partido
Comunista Brasileiro).
Sob interrogatório, redigiu a
confissão confirmando sua militância. Na noite de 25 de outubro,
em nota oficial, o Exército declarou que o jornalista havia se suicidado. Mobilizadas num protesto
contra a repressão, mais de 10 mil
pessoas participaram do culto
ecumênico na catedral da Sé.
O assassinato de Herzog foi decisivo para a abertura política e a
democracia. Passados quase 30
anos, o caso ressurge com a publicação de imagens de um prisioneiro político, fotografado nu. Os
ânimos se exaltaram com uma
nota oficial do Exército declarando que "as medidas tomadas pelas Forças Legais foram uma legítima resposta à violência (...) contra aqueles que recusaram o diálogo". Inútil a reparação posterior, a nota havia reacendido a
memória do período militar.
Soam anacrônicas e fora de lugar as palavras contidas no comunicado do Exército. Em tempos
de liberdade e de democracia, reverberam como provocação. Afinal, como nos diz a letra de "O Bêbado e o Equilibrista", ainda
"choram Marias e Clarisses no solo do Brasil", lembrando-nos de
que a ferida continua aberta.
Roberto Candelori é professor do Colégio Móbile e do Objetivo. E-mail:
rcandelori@uol.com.br
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