São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004
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PORTUGUÊS

Fuvest pede a candidatos reflexão de cunho filosófico

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O tema de redação da Fuvest de 2004 exigiu do aluno uma reflexão de cunho filosófico. O candidato deveria analisar as diferentes concepções do tempo apresentadas pela banca examinadora e desenvolver um raciocínio abstrato em defesa daquela com a qual mais se identificasse.
O primeiro texto, extraído de obra do historiador Eric Hobsbawn, defende a importância de conhecer o passado para compreender o presente, apontando criticamente para o fato de os tecnocratas ("resolvedores de problemas") de hoje não reconhecerem o valor da história. Segundo o autor, essa atitude de menoscabo pela história é mais uma prova de que devemos conhecê-la para entender o mundo atual.
É difícil discordar do historiador, pois o conhecimento sistemático do passado e, sobretudo, a análise dos fatos, dos comportamentos e das transformações com o olhar distanciado permitem-nos compreender melhor o que somos e por que o somos.
O segundo texto é um depoimento de alguém que acredita que, para entender o mundo moderno, em constante processo de transformação, é preciso ater-se ao que está acontecendo no momento. Desse texto se depreende que mais importante que o conhecimento do passado é a capacidade de perceber o presente. A quantidade de informações disponíveis no mundo atual é tão vasta que, paradoxalmente, se torna inacessível. É preciso selecioná-las, acompanhar as mudanças e viver o tempo presente. O problema desse ponto de vista talvez esteja no fato de que, a viver assim, imerso na velocidade das transformações, o homem corre o risco de perder a consciência do processo em que está inserido.
O terceiro texto, uma canção de Chico Buarque, opõe-se ao anterior. Segundo o autor, não é preciso ter pressa, pois as coisas acontecem a seu tempo. Apresenta desprendimento de valores imediatistas ("Futuros amantes quiçá/ Se amarão, sem saber,/ Com o amor que eu um dia/ Deixei pra você."), ao contrário do segundo texto, que, se levado ao limite, desemboca numa atitude individualista ante a realidade. Se só existe o presente, por que preservar o ambiente, produzir conhecimento ou mesmo procriar? A idéia de humanidade parece estar intimamente ligada tanto à memória como à capacidade de sonhar e de projetar a vida futura.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br


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