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PORTUGUÊS
Fuvest pede a candidatos reflexão de cunho filosófico
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O tema de redação da Fuvest de
2004 exigiu do aluno uma reflexão de cunho filosófico. O candidato deveria analisar as diferentes concepções do tempo apresentadas pela banca examinadora
e desenvolver um raciocínio abstrato em defesa daquela com a
qual mais se identificasse.
O primeiro texto, extraído de
obra do historiador Eric Hobsbawn, defende a importância de
conhecer o passado para compreender o presente, apontando
criticamente para o fato de os tecnocratas ("resolvedores de problemas") de hoje não reconhecerem o valor da história. Segundo o
autor, essa atitude de menoscabo
pela história é mais uma prova de
que devemos conhecê-la para entender o mundo atual.
É difícil discordar do historiador, pois o conhecimento sistemático do passado e, sobretudo, a
análise dos fatos, dos comportamentos e das transformações com
o olhar distanciado permitem-nos compreender melhor o que
somos e por que o somos.
O segundo texto é um depoimento de alguém que acredita
que, para entender o mundo moderno, em constante processo de
transformação, é preciso ater-se
ao que está acontecendo no momento. Desse texto se depreende
que mais importante que o conhecimento do passado é a capacidade de perceber o presente. A
quantidade de informações disponíveis no mundo atual é tão
vasta que, paradoxalmente, se
torna inacessível. É preciso selecioná-las, acompanhar as mudanças e viver o tempo presente.
O problema desse ponto de vista
talvez esteja no fato de que, a viver
assim, imerso na velocidade das
transformações, o homem corre o
risco de perder a consciência do
processo em que está inserido.
O terceiro texto, uma canção de
Chico Buarque, opõe-se ao anterior. Segundo o autor, não é preciso ter pressa, pois as coisas acontecem a seu tempo. Apresenta
desprendimento de valores imediatistas ("Futuros amantes quiçá/ Se amarão, sem saber,/ Com o
amor que eu um dia/ Deixei pra
você."), ao contrário do segundo
texto, que, se levado ao limite, desemboca numa atitude individualista ante a realidade. Se só existe o
presente, por que preservar o ambiente, produzir conhecimento
ou mesmo procriar? A idéia de
humanidade parece estar intimamente ligada tanto à memória como à capacidade de sonhar e de
projetar a vida futura.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
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