São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004
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QUÍMICA

Água oxigenada garante dentes mais brancos

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Carvão, mel, sangue, vinagre, ossos moídos de coelho, urina e olhos de caranguejo. Parece coisa de feitiçaria, mas não é. Isso é o que os romanos do século 1º chamavam de pasta de dente. Mas as coisas mudaram e atualmente os nossos dentes devem sua boa saúde e aparência branquinha principalmente ao flúor (das pastas) e à água oxigenada (dos clareadores dentais). Para entender a ação dessas substâncias, precisamos conhecer um pouco da química de um dente. Vamos lá?
O esmalte dos dentes é constituído da translúcida e muito pouco solúvel hidroxiapatita (Ca5(PO4)3OH). Mas, numa reação chamada desmineralização, um pouquinho dela pode se dissolver: Ca5(PO4)3OH(s) 5 Ca2+ (aq) + 3 PO43-(aq) + OH-(aq). Isso explica porque o meio ácido -formado após a ingestão de açúcares- não é bem recebido pelos dentes. Acontece que os responsáveis pela acidez são os cátions H+, que adoram os ânions OH-! Eles acabam reagindo, o que acelera a desmineralização. Isto é, adeus esmalte! É a hora de o flúor entrar no jogo. Presente nas pastas na forma de, por exemplo, MFP (monoflúorfosfato de sódio), ele altera a composição do esmalte para Ca5(PO4)3F. Sem os íons OH-, a acidez deixa de ser tão ameaçadora para os dentes, e as cáries tornam-se menos freqüentes.
Mas a grande novidade são os clareadores dentais. Não é segredo que vinho tinto, café e cigarro escurecem os dentes. Isso porque eles contêm substâncias coloridas que se infiltram no esmalte. Abrasivos como o carbonato de cálcio das pastas dão um jeito nas manchas mais superficiais. Mas e as mais profundas?
Foi na década de 70 que os dentistas perceberam que a água oxigenada (H2O2), utilizada para curar lesões nas bocas de seus pacientes, "coincidentemente" clareava seus dentes. O que estava acontecendo?
A química explica: muitos pigmentos devem sua coloração a moléculas com uma seqüência de carbonos unidos por ligações simples (C-C) e duplas (C=C), alternadamente. As frágeis ligações presentes nas duplas (consulte o seu professor!) são alvos fáceis para o poderoso ataque oxidante do H2O2, que encaixa o seu "átomo extra" de oxigênio na molécula colorida, transformando-a em um epóxido (veja quadro acima).
Com a destruição das duplas, os pigmentos têm suas constituições alteradas e sua cor desaparece! Resultado: sorrisos mais brancos! Ficou claro?


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula7@terra.com.br


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