São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003
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ATUALIDADES

Samuel Huntington e o choque de civilizações

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em recente pronunciamento no Vaticano, João Paulo 2º exortou os cristãos a trabalhar para evitar um "choque de civilizações". Preocupado com a violência e o crescimento do terrorismo, o papa fez um alerta: "É importante que, no mundo atual, os cristãos sejam homens inclinados ao diálogo". Segundo o pontífice, o grande desafio deste século será encontrar formas de evitar conflitos e guerras no mundo.
A expressão "choque de civilizações", à qual o papa se refere, foi apresentada por Samuel Huntington, professor da Universidade Harvard que publicou em meados dos anos 90 um polêmico artigo em que defendia que os conflitos globais do novo século teriam como motivação desavenças não entre Estados nacionais, mas entre civilizações. "Uma civilização é uma entidade cultural", assinala Huntington, pois expressa o estilo de vida de um povo, seus valores, sua religião, sua língua etc. A disputa ideológica entre americanos e soviéticos ou entre capitalistas e comunistas, que marcou o período da Guerra Fria, sucumbiu sob as ruínas do Muro de Berlim no final dos anos 80. Com a desintegração da URSS, rompeu-se o modelo bipolar e reforçou-se a supremacia dos Estados Unidos no papel de liderança política, econômica e militar do mundo ocidental.
Os atentados de 11 de setembro e a declaração de guerra contra o terror, liderada por Washington, recolocam na pauta dos temas internacionais a tese de Huntington. Analistas alertam para o perigo de transformar o combate ao terrorismo num choque entre civilizações, opondo o mundo islâmico ao Ocidente. Portanto a ameaça de invasão unilateral ao Iraque e a intensificação do uso da força contra os palestinos, resultantes da falta de moderação da dupla Bush-Sharon, podem ser vistas com preocupação.


Roberto Candelori é coordenador da Cia. de Ética, professor da Escola Móbile e do Objetivo.
E-mail: rcandelori@uol.com.br


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