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ATUALIDADES
Samuel Huntington e o choque de civilizações
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em recente pronunciamento no
Vaticano, João Paulo 2º exortou os cristãos a trabalhar para
evitar um "choque de civilizações". Preocupado com a violência e o crescimento do terrorismo,
o papa fez um alerta: "É importante que, no mundo atual, os
cristãos sejam homens inclinados
ao diálogo". Segundo o pontífice,
o grande desafio deste século será
encontrar formas de evitar conflitos e guerras no mundo.
A expressão "choque de civilizações", à qual o papa se refere, foi
apresentada por Samuel Huntington, professor da Universidade Harvard que publicou em
meados dos anos 90 um polêmico
artigo em que defendia que os
conflitos globais do novo século
teriam como motivação desavenças não entre Estados nacionais,
mas entre civilizações. "Uma civilização é uma entidade cultural",
assinala Huntington, pois expressa o estilo de vida de um povo,
seus valores, sua religião, sua língua etc. A disputa ideológica entre
americanos e soviéticos ou entre
capitalistas e comunistas, que
marcou o período da Guerra Fria,
sucumbiu sob as ruínas do Muro
de Berlim no final dos anos 80.
Com a desintegração da URSS,
rompeu-se o modelo bipolar e reforçou-se a supremacia dos Estados Unidos no papel de liderança
política, econômica e militar do
mundo ocidental.
Os atentados de 11 de setembro
e a declaração de guerra contra o
terror, liderada por Washington,
recolocam na pauta dos temas internacionais a tese de Huntington. Analistas alertam para o perigo de transformar o combate ao
terrorismo num choque entre civilizações, opondo o mundo islâmico ao Ocidente. Portanto a
ameaça de invasão unilateral ao
Iraque e a intensificação do uso da
força contra os palestinos, resultantes da falta de moderação da
dupla Bush-Sharon, podem ser
vistas com preocupação.
Roberto Candelori é coordenador da
Cia. de Ética, professor da Escola Móbile
e do Objetivo.
E-mail: rcandelori@uol.com.br
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