São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002
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QUÍMICA

Dos elefantes às bolas de futebol: parte 1

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Azteca, Etrusco, Questra e Tricolore. São esses os nomes das bolas usadas nas últimas Copas do Mundo. Rápidas, impermeáveis e resistentes, elas são feitas de plástico. Mas nem sempre foi assim. Até a Copa de 1982 usavam-se bolas de couro, que na chuva ficavam pesadas, tornando o jogo lento. A partir da Copa de 1986, esse problema acabou. As bolas de plástico entraram em campo! A história das bolas também é, de certo modo, uma viagem pela história da química. Vamos nessa?
Os plásticos surgiram na segunda metade do século 19. Até então, pentes, botões, bolas de bilhar etc. eram feitos com o marfim dos cascos e das presas dos elefantes. Aos poucos, os bichos, caçados sem dó, foram desaparecendo. O marfim se tornou escasso e mais caro. Para fugir da falência, uma empresa inglesa de bolas de bilhar lançou uma gincana científica: daria US$ 10 mil a quem inventasse um substituto do marfim.
O americano John Hyatt aceitou o desafio. Ele e seu irmão logo descobriram que nitrato de celulose, cânfora e álcool, aquecidos sob pressão, produziam um plástico bom para fazer bolas de bilhar. Hoje, o nome desse "vovô" dos plásticos é celulóide.
Foi um sucesso imediato. O celulóide ganhou dezenas de usos: de armações de óculos a teclas de piano -sorte dos elefantes. Mas, como nada é perfeito, Hyatt não ganhou o prêmio: o celulóide era inflamável! Em bares do Velho Oeste americano, o bilhar pegava fogo, literalmente, quando as bolas de celulóide explodiam numa tacada mais forte.
Como você já sabe, o celulóide é um plástico. Mas o que é um plástico? Em linguagem técnica, plásticos são polímeros (do grego "poli", muitas, e "meros", partes). Para entender os polímeros, imagine milhares de pessoas em um parque. Numa certa hora, todas se dão as mãos, formando uma longa corrente humana. Se cada uma delas fosse uma molécula (por exemplo, o etileno, C2H4), teria-se formado um polímero (nesse caso, chamado polietileno).
Polímeros são moléculas muito grandes. Apresentam longas cadeias de átomos, normalmente carbono, em que uma unidade química se repete muitas vezes -como na corrente humana, em que cada pessoa é essa unidade química. John Hyatt pode não ter levado o prêmio, mas sem dúvida deu a partida para uma nova era, a era dos polímeros. Não perca a continuação dessa história!


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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