|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PORTUGUÊS
Discurso retórico tenta minorar a tragédia da guerra
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Muito já se falou sobre o poder
da linguagem, sobre a força
das palavras. Neste momento, em
que os EUA invadem o Iraque, ignorando os clamores de paz do
mundo inteiro, é lançado na mídia norte-americana um discurso
que, exportado para o resto do
planeta, busca legitimar a guerra.
As palavras-chave do discurso
oficial norte-americano são "liberdade" e "democracia", os supostos fins que justificariam os
meios. São termos de conotação
positiva, verdadeiros axiomas.
O presidente George W. Bush
declarou sua "luta do bem contra
o mal", bipartindo o mundo -os
EUA e seus aliados personificariam o bem e, como heróis, assumiriam a tarefa de combater o
mal (os outros). Claramente maniqueísta, o arrazoado visa à adesão do mundo à causa dos EUA.
Batizada de "guerra preventiva"
-alegaram que Saddam Hussein
se preparava para usar armas de
destruição em massa-, a ação
militar no Iraque mais uma vez
ganha conotação positiva na retórica oficial. E os EUA reforçam -
ainda que paradoxalmente- seu
papel de guardiões da paz. Em suma: fazem a guerra em nome da
paz. A intervenção militar, denominada "guerra pacífica", seria o
passaporte para a liberdade e para
a democracia.
A morte de civis e a falta de rumo das bombas "inteligentes"
(que deveriam atingir com precisão os alvos militares) não passam de "efeitos colaterais", decorrentes do remédio que cura o mal.
O discurso dos EUA, no mínimo,
vale por uma aula de eufemismos.
Segundo uma autoridade do
Pentágono, o termo "batalha" é
inadequado para descrever o cerco de Bagdá por ser uma "hipérbole". Será um exagero dizer que
há uma batalha em Bagdá?
Faz parte dos objetivos dos
EUA, sejam eles quais forem, evitar que sua reputação de "paladinos do bem" saia do episódio abalada. Resta saber se a retórica do
presidente vai minorar o impacto
das imagens de desolação a que o
mundo assiste em tempo real.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de português da Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
Texto Anterior: Física: O computador e os bits, os bytes e os pixels Próximo Texto: Geografia: Conflito pode ser pretexto para questão Índice
|