São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004
  Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

É PRECISO HABILIDADE?

Para alguns professores, testes medem capacidade de acompanhar parte das disciplinas

Provas de aptidão não são consenso

Sérgio Zacchi/Folha Imagem
Paula Passanante Castiglioni, que vai prestar música e se matriculou em um curso preparatório para a prova de habilidade específica


MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma preocupação adicional para os candidatos que vão prestar vestibular para cursos que a exigem, a prova de habilidades específicas não é consenso entre os professores de graduação.
Esse é o caso, por exemplo, do curso de arquitetura. Na grande maioria das faculdades, a prova de aptidão é exigida há muito tempo, mas o recém-criado curso de arquitetura e urbanismo da Unesp de Presidente Prudente é contra a exigência do exame.
Criado em agosto, o curso em Presidente Prudente não teve a prova específica no primeiro vestibular (no meio de 2003) em razão do curto prazo em que teve de ser realizado. Mas no vestibular do fim do ano foi cobrada a prova específica, já que no campus de Bauru o exame é exigido.
"Divergimos sobre a necessidade e a validade da prova específica por dois motivos principais: primeiro, porque acreditamos que uma prova que consiste apenas em desenho não mede as habilidades necessárias para formar um arquiteto urbanista hoje em dia, já que há outras formas de representação além do desenho. Segundo, porque o foco da nossa graduação é o urbanismo, e isso significa que quem escolhe cursar aqui quer uma visão diferente, que é pensar a cidade, ir além de projetos", diz o professor Everaldo Melazzo, coordenador do curso de Presidente Prudente.
Já Léa Cristina de Souza, coordenadora do curso de arquitetura da Unesp de Bauru, afirma que a prova específica é importante porque o desenho é o instrumento básico de informação do projeto arquitetônico e urbanístico.
"O desenho é a linguagem universal do arquiteto e uma das formas de expressão mais representativas. Por meio do desenho, podem ser expressas as questões estéticas e tecnológicas. Por isso o candidato ao curso de arquitetura deve demonstrar afinidade com a expressão gráfica, mostrando criatividade, noção de proporção, harmonia etc. Um domínio mínimo sobre esses pontos é essencial para o aluno ter perfeito aproveitamento do curso."
Educação física e esportes também geram divergências. A maioria das faculdades não tem nenhuma prova específica no vestibular, mas, na USP, há um exame médico que tem caráter eliminatório. Já o vestibular para o curso de esportes testa também as habilidades físicas do candidato com provas de velocidade, circuito e salto em distância.
"Acredita-se que boas condições de saúde e um condicionamento físico mínimo são necessários para o bom acompanhamento de parte de nossas disciplinas e, conseqüentemente, do exercício da profissão. A prova específica tem por objetivo primordial avaliar a aptidão física do candidato", diz o coordenador do curso de esportes da USP, Valmor Tricoli.
O professor destaca, no entanto, que para este ano estão sendo estudadas modificações nas duas etapas do exame, mas que ainda não há nada definido.
O coordenador do curso da Unicamp, Paulo César Montagner, diz que a faculdade não apenas não exige prova específica e exame médico como também é contra. "Defendemos que o profissional da área precisa ter uma base muito forte de conhecimentos teóricos e saber ensinar, mas não necessita ter excelência na prática. Os profissionais de educação física têm muitos campos de atuação além das escolas."

Coordenação motora
A Unicamp é a única faculdade que exige teste de habilidades específicas no vestibular de odontologia. Segundo o coordenador do curso, Fausto Berzin, o objetivo do exame é filtrar os casos extremos de candidatos que não têm condições motoras
"Quando temos dúvida da capacidade do aluno de aprender durante o curso, damos a nota mínima e, com isso, a possibilidade de ele tentar", diz Berzin.
Segundo números divulgados pela Unicamp em relação às provas específicas de odontologia de 2003, de 349 alunos, 29 -ou seja, 8,3%- foram eliminados.
A porcentagem mais alta de eliminação em provas específicas na universidade é 62,7%, para o curso de música com habilitação em regência. O índice de arquitetura também á alto: 49,5%.


Texto Anterior: Química: Fósforo: luz e calor na sua vida
Próximo Texto: Manuais e sites informam como é o exame
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.