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QUÍMICA
Uma reação que pode salvar a sua vida
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Pânico. Gritos de desespero. Um
vento fortíssimo invade o
avião. É quase impossível respirar. Uma máscara de oxigênio cai
à sua frente. Você a coloca e espera por um milagre.
Parece cena de cinema, mas pode acontecer de verdade. As máscaras são necessárias porque, em
grandes altitudes, a pressão atmosférica é muito baixa para que
o oxigênio chegue eficazmente até
os pulmões. Então de onde vem
esse oxigênio (O2) que entra pelas
máscaras e salva os passageiros? A
química explica.
Tudo começou em Londres, no
ano de 1624, quando surgiram os
primeiros submarinos. Foi nesse
ano que, pela primeira vez, um
deles ficou algumas horas submerso com dezenas de pessoas a
bordo. Hoje, acredita-se que seu
criador, Cornelius Drebbel, sabia
produzir o "alimento aéreo da vida" (O2, é claro) por aquecimento
de salitre (nitrato de potássio,
KNO3). De outra forma, os passageiros sufocariam. Detalhe: o oxigênio ainda não havia sido oficialmente descoberto por Joseph
Priestley, o que só aconteceria 150
anos depois!
Nas modernas máscaras de O2,
o funcionamento não é lá muito
diferente. O passageiro do avião é
instruído a puxar a máscara em
sua direção. Esse puxão tem como conseqüência uma reação
bem exotérmica entre limalha de
ferro e o sal clorato de sódio
.
O calor liberado aquece mais um
pouco do sal, que se decompõe
rapidamente:
É dessa segunda reação que vem
praticamente todo o O2 que salva
os passageiros.
Como a decomposição do
NaClO3 é muito lenta em temperatura ambiente, esse sal pode ser
armazenado nos aviões por um
longo tempo. Muito mais prático
que os pesados tanques de O2, que
exigiriam constante manutenção
contra vazamentos, além de ocuparem muito mais espaço.
Agora, um desafio (respostas
via e-mail): considere que cada recipiente de armazenagem de
NaClO3 contenha 177,5 g desse sal.
Por problemas de manutenção,
20% do sal armazenado já se decompôs. Além disso, só metade
do O2 produzido acaba sendo absorvida pelos três passageiros servidos pelo sistema. Quanto tempo
o avião tem para descer até uma
altitude em que se possa respirar
sem máscara antes que essas três
pessoas fiquem sem O2 (uma pessoa absorve, em média, 0,8 kg de
O2 por dia)?
É isso aí: sem química, não há
vida!
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail:
lula5@ig.com.br
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