Uma boa argumentação requer fundamento na realidade e articulação do pensamento

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
CONSULTORA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Os vestibulandos que leem o "Fovest" tiveram a oportunidade de refletir criticamente sobre a agressão sofrida pela estudante Geisy Arruda nas dependências de uma universidade paulista. Para tanto, foi-lhes oferecida uma seleção de textos com diferentes análises do fato.
Na redação escolhida (e em muitas outras), há crítica à mídia, que deveria ocupar-se "de assuntos mais importantes".
Para o autor do texto, o foco da mídia foi o "tamanho do vestido". É evidente que o interesse da imprensa teve origem no tumulto provocado por centenas de estudantes que insultaram e ameaçaram de estupro uma colega, fato que só chegou a termo com a intervenção da polícia.
Sempre é possível criticar exageros, abuso da exposição da pessoa, mas o discurso de diversos estudantes foi o de cobrar da mídia atenção a outros temas, que, na verdade, estão todos os dias nas páginas de jornais e na TV ou na internet.
Uma boa argumentação requer fundamento na realidade e articulação do pensamento.
A contradição entre o culto à nudez feminina, tão propalado pela própria mídia, sobretudo pela TV e pela internet, e o conservadorismo dos jovens é uma ideia boa, que merecia ter sido desenvolvida.
Na conclusão, o redator arrolou vários termos de caráter positivo (ética, democracia, evolução etc.), mas aparentemente os jogou na página sem muito compromisso com a expressão de um pensamento organizado. A imprecisão do vocabulário também prejudicou a fluência das ideias.
Falta o treino da leitura e da reflexão, o verdadeiro desafio.

thais.nicoleti@grupofolha.com.br


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