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HISTÓRIA
A imprensa, o poder e as suas relações
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
As relações entre a imprensa e o
poder variaram bastante ao
longo do século 20.
No Brasil, Getúlio Vargas foi o
primeiro presidente a ter uma noção precisa do papel estratégico
dos meios de comunicação para a
viabilização de um projeto de poder. Com a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), durante a ditadura do Estado Novo, Vargas pretendia a
um só tempo censurar os meios
de comunicação em geral, divulgar em escala nacional as realizações de seu governo e uniformizar
a opinião dos brasileiros.
Com o fim do Estado Novo, em
1945, iniciou-se um período de relativa liberdade de expressão que
se estendeu até o golpe de 1964. O
poder dos meios de comunicação
naquela época não era suficiente
para eleger presidentes, mas tinha
papel decisivo na sua queda. A
crise que precipitou o suicídio de
Getúlio Vargas, em 1954, foi "turbinada" pelo jornal "Tribuna da
Imprensa", de Carlos Lacerda, e
pela rádio e pelo jornal "O Globo", de Roberto Marinho. O golpe
de 1964, que depôs João Goulart,
contou com a conivência dos
principais órgãos de imprensa.
Com a implantação do regime
militar, a generalização das medidas repressivas não tardou a atingir a imprensa, que acabou se dividindo. Alguns veículos de comunicação tenderam a apoiar o
regime em troca de condições favoráveis para a expansão de sua
rede. Outros se opuseram à aniquilação da liberdade de expressão e demonstravam isso publicando receitas de bolo em substituição às matérias censuradas ou
com manchetes insólitas que evidenciavam a ação dos censores.
Com o enceramento do ciclo
militar e a consolidação da liberdade de expressão, o poder dos
meios de comunicação não parou
de crescer, como bem demonstra
a trajetória de Fernando Collor de
Mello. Em pouco mais de oito
meses, os mais influentes meios
de imprensa transformaram o
obscuro governador em candidato favorito à Presidência.
Roberson de Oliveira é professor e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora
FTD). E-mail: roberson.co@uol.com.br
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