São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004
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HISTÓRIA

A imprensa, o poder e as suas relações

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

As relações entre a imprensa e o poder variaram bastante ao longo do século 20.
No Brasil, Getúlio Vargas foi o primeiro presidente a ter uma noção precisa do papel estratégico dos meios de comunicação para a viabilização de um projeto de poder. Com a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), durante a ditadura do Estado Novo, Vargas pretendia a um só tempo censurar os meios de comunicação em geral, divulgar em escala nacional as realizações de seu governo e uniformizar a opinião dos brasileiros.
Com o fim do Estado Novo, em 1945, iniciou-se um período de relativa liberdade de expressão que se estendeu até o golpe de 1964. O poder dos meios de comunicação naquela época não era suficiente para eleger presidentes, mas tinha papel decisivo na sua queda. A crise que precipitou o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, foi "turbinada" pelo jornal "Tribuna da Imprensa", de Carlos Lacerda, e pela rádio e pelo jornal "O Globo", de Roberto Marinho. O golpe de 1964, que depôs João Goulart, contou com a conivência dos principais órgãos de imprensa.
Com a implantação do regime militar, a generalização das medidas repressivas não tardou a atingir a imprensa, que acabou se dividindo. Alguns veículos de comunicação tenderam a apoiar o regime em troca de condições favoráveis para a expansão de sua rede. Outros se opuseram à aniquilação da liberdade de expressão e demonstravam isso publicando receitas de bolo em substituição às matérias censuradas ou com manchetes insólitas que evidenciavam a ação dos censores.
Com o enceramento do ciclo militar e a consolidação da liberdade de expressão, o poder dos meios de comunicação não parou de crescer, como bem demonstra a trajetória de Fernando Collor de Mello. Em pouco mais de oito meses, os mais influentes meios de imprensa transformaram o obscuro governador em candidato favorito à Presidência.


Roberson de Oliveira é professor e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD). E-mail: roberson.co@uol.com.br


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