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      São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003
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QUÍMICA

Brilho azul descobre o sangue da morte

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 25 de agosto, Chan Kim Chang foi preso no aeroporto internacional do Rio. Seu crime: tentar embarcar para os EUA com US$ 30 mil não declarados à Receita Federal. Sua pena: a morte. Ao que tudo indica, Chan foi espancado no presídio Ary Franco. Uma reportagem do "Fantástico" mostrou: os peritos borrifaram um líquido na sala onde Chan foi encontrado sem sentidos. Apagaram as luzes e um brilho azul indicou traços do sangue da vítima.
A substância usada pelos investigadores é o luminol (C8H7N3O2). É só dissolver esse composto em uma solução aquosa básica, adicionar um pouco de água oxigenada (H2O2) e ir à cena do crime. A reação que produz o brilho azul acontece entre o luminol e o H2O2. Só que essa reação é lenta e precisa de um catalisador para ser acelerada. Assim o brilho fica mais intenso e o sangue pode ser facilmente encontrado.
Mas como é que um catalisador acelera uma reação? Para entender, imagine uma corrida de 400 metros com barreiras. No Pan-Americano de Santo Domingo, o dominicano Félix Sánchez ganhou a medalha de ouro, com 48s19. Se diminuíssemos a altura das barreiras para um mísero centímetro, sem dúvida Félix chegaria mais rápido ao final da prova, não é? Claro, pois as barreiras atrapalham! É isso o que os catalisadores fazem -diminuem a altura das barreiras, nesse caso energéticas (chamadas de energia de ativação), que os reagentes têm de "pular" para virar produtos. Fica tudo mais fácil e rápido!
E quem serão os catalisadores dessa reação? Diversos metais de transição, como o cobre e o ferro. E não é que existe ferro na hemoglobina do sangue? Resultado: borrifar luminol em uma mancha de sangue, ainda que invisível a olho nu, produzirá um brilho intenso, já que o ferro acelera consideravelmente essa reação, chamada quimiluminescente.
Mas de onde vem esse brilho? Essa é difícil, vamos simplificar. Como explicou o químico Erick Leite Bastos a esta coluna, o produto dessa reação (um tal 3-aminoftalato) é formado em um estado excitado, isto é, a molécula tem alguns de seus elétrons em um nível energético acima do normal. Ao voltarem para seus estados originais, eles se livram desse excesso de energia na forma de uma emissão luminescente, nesse caso, azul. A química já fez sua parte. Agora, é a vez da Justiça.


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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