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QUÍMICA
Brilho azul descobre o sangue da morte
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em 25 de agosto, Chan Kim
Chang foi preso no aeroporto
internacional do Rio. Seu crime:
tentar embarcar para os EUA com
US$ 30 mil não declarados à Receita Federal. Sua pena: a morte.
Ao que tudo indica, Chan foi espancado no presídio Ary Franco.
Uma reportagem do "Fantástico"
mostrou: os peritos borrifaram
um líquido na sala onde Chan foi
encontrado sem sentidos. Apagaram as luzes e um brilho azul indicou traços do sangue da vítima.
A substância usada pelos investigadores é o luminol (C8H7N3O2).
É só dissolver esse composto em
uma solução aquosa básica, adicionar um pouco de água oxigenada (H2O2) e ir à cena do crime.
A reação que produz o brilho azul
acontece entre o luminol e o H2O2.
Só que essa reação é lenta e precisa de um catalisador para ser acelerada. Assim o brilho fica mais
intenso e o sangue pode ser facilmente encontrado.
Mas como é que um catalisador
acelera uma reação? Para entender, imagine uma corrida de 400
metros com barreiras. No Pan-Americano de Santo Domingo, o
dominicano Félix Sánchez ganhou a medalha de ouro, com
48s19. Se diminuíssemos a altura
das barreiras para um mísero centímetro, sem dúvida Félix chegaria mais rápido ao final da prova,
não é? Claro, pois as barreiras
atrapalham! É isso o que os catalisadores fazem -diminuem a altura das barreiras, nesse caso
energéticas (chamadas de energia
de ativação), que os reagentes têm
de "pular" para virar produtos.
Fica tudo mais fácil e rápido!
E quem serão os catalisadores
dessa reação? Diversos metais de
transição, como o cobre e o ferro.
E não é que existe ferro na hemoglobina do sangue? Resultado:
borrifar luminol em uma mancha
de sangue, ainda que invisível a
olho nu, produzirá um brilho intenso, já que o ferro acelera consideravelmente essa reação, chamada quimiluminescente.
Mas de onde vem esse brilho?
Essa é difícil, vamos simplificar.
Como explicou o químico Erick
Leite Bastos a esta coluna, o produto dessa reação (um tal 3-aminoftalato) é formado em um estado excitado, isto é, a molécula tem
alguns de seus elétrons em um nível energético acima do normal.
Ao voltarem para seus estados
originais, eles se livram desse excesso de energia na forma de uma
emissão luminescente, nesse caso,
azul. A química já fez sua parte.
Agora, é a vez da Justiça.
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail:
lula5@ig.com.br
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