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      São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003
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HISTÓRIA

As vias da Independência

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Independência do Brasil às vezes é apresentada como um processo que evoluiu em linha reta a ponto de parecer inevitável. Segundo essa visão dos acontecimentos, no período colonial, teria surgido um sentimento nacional que se desenvolveu e ganhou impulso com a instalação da família real no Brasil em 1808. Daí em diante, o país teria ganhado uma autonomia crescente até se tornar independente, no dia 7 de setembro de 1822.
Na verdade, a colônia não estava "condenada" à independência, nem o caminho que ela percorreu era o único. Havia outros e há muita relação entre a via que o Brasil seguiu para obter a sua independência e os demais movimentos de libertação que estavam ocorrendo na América.
Em algumas colônias, a luta pela independência evoluiu para uma luta verdadeiramente revolucionária, como ocorreu em Santo Domingo (atual Haiti) no final do século 18. Nessa colônia da França, os negros, liderados por Toussaint-Louverture e Dessalines, assumiram o controle do processo político, expulsaram as tropas metropolitanas, libertaram os escravos e extirparam as imposições do sistema colonial.
Já na América Espanhola, a luta começou em 1808 e encerrou-se em 1825, período durante o qual o argentino San Martin e o venezuelano Simon Bolivar lideraram a campanha contra a Espanha e venceram as tropas metropolitanas. Nos vários países que se formaram após a independência da América Espanhola, adotou-se o regime republicano, e a escravidão praticamente desapareceu.
O espectro da revolução de escravos, dos movimentos republicanos e das tensões separatistas projetava sombras assustadoras sobre o cenário político do Brasil. A aristocracia escravista brasileira, desejosa de preservar as vantagens políticas, administrativas e econômicas que a transferência da corte lhe proporcionara, temia que se repetissem aqui violentas convulsões sociais que colocassem em risco o seu poder e a sua riqueza.
Esse contexto ajuda a compreender por que a nossa independência evoluiu por um caminho monárquico, centralizado, relativamente pacífico e que manteve intactos os privilégios, a estrutura econômica e as relações de poder no interior da sociedade brasileira, constituindo-se assim na via de transição mais conservadora do continente americano.


Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC. Email: roberson.co@uol.com.br


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