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HISTÓRIA
As vias da Independência
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A Independência do Brasil às vezes é apresentada como um
processo que evoluiu em linha reta a ponto de parecer inevitável.
Segundo essa visão dos acontecimentos, no período colonial, teria
surgido um sentimento nacional
que se desenvolveu e ganhou impulso com a instalação da família
real no Brasil em 1808. Daí em
diante, o país teria ganhado uma
autonomia crescente até se tornar
independente, no dia 7 de setembro de 1822.
Na verdade, a colônia não estava "condenada" à independência,
nem o caminho que ela percorreu
era o único. Havia outros e há
muita relação entre a via que o
Brasil seguiu para obter a sua independência e os demais movimentos de libertação que estavam
ocorrendo na América.
Em algumas colônias, a luta pela
independência evoluiu para uma
luta verdadeiramente revolucionária, como ocorreu em Santo
Domingo (atual Haiti) no final do
século 18. Nessa colônia da França, os negros, liderados por Toussaint-Louverture e Dessalines, assumiram o controle do processo
político, expulsaram as tropas
metropolitanas, libertaram os escravos e extirparam as imposições do sistema colonial.
Já na América Espanhola, a luta
começou em 1808 e encerrou-se
em 1825, período durante o qual o
argentino San Martin e o venezuelano Simon Bolivar lideraram
a campanha contra a Espanha e
venceram as tropas metropolitanas. Nos vários países que se formaram após a independência da
América Espanhola, adotou-se o
regime republicano, e a escravidão praticamente desapareceu.
O espectro da revolução de escravos, dos movimentos republicanos e das tensões separatistas
projetava sombras assustadoras
sobre o cenário político do Brasil.
A aristocracia escravista brasileira, desejosa de preservar as vantagens políticas, administrativas e
econômicas que a transferência
da corte lhe proporcionara, temia
que se repetissem aqui violentas
convulsões sociais que colocassem em risco o seu poder e a sua
riqueza.
Esse contexto ajuda a compreender por que a nossa independência evoluiu por um caminho monárquico, centralizado,
relativamente pacífico e que manteve intactos os privilégios, a estrutura econômica e as relações
de poder no interior da sociedade
brasileira, constituindo-se assim
na via de transição mais conservadora do continente americano.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC. Email:
roberson.co@uol.com.br
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