São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004
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PRISIONEIRO DOS LIVROS

Atividades de lazer e esportes são essenciais para aliviar o estresse do candidato

Dosar saídas é melhor do que proibir

Ciete Silvério/Folha Imagem
Melissa Amano Ogata, que só deve ir ao cinema no final do ano


MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Ingrid Lima, 21, hoje ri ao lembrar das vezes em que chorou em cima dos livros por perder festas. Ela está no segundo ano do curso de moda e estilismo e foi proibida pelo pai de sair no ano do vestibular.
"Foi horrível. Eu ficava em casa pensando no que estava perdendo e não conseguia estudar", diz. Ela assume que era "baladeira" e que, por isso, sofreu tanto. "Minha irmã era mais tranqüila e não achava tão ruim não poder sair."
O ano de vestibular é um período complicado para os estudantes em diversos sentidos. Há o estresse, a indecisão, a cobrança e as abdicações, que são, para alguns, a parte mais sofrida.
É o caso, por exemplo, de quem ouviu do pai a proibição de sair com os amigos e de ir a festas até que acabem as provas.
Melissa Amano Ogata, 19, está passando por isso, mas afirma entender os motivos dos pais. Ela faz o segundo ano de cursinho para tentar ingressar em medicina -vai prestar USP, Unesp, Unicamp e Unifesp. "Meus pais acham que sair vai me desconcentrar. Entendo a preocupação deles, pois já é a segunda vez que vou prestar vestibular", diz.
"É claro que eu sinto falta de sair. Adoro encontrar os amigos, mas este não é um ano normal, então não posso querer ter uma vida normal", afirma Melissa, que foi ao cinema pela última vez há dois meses e prevê que a próxima sessão será só no final do ano.

Moderação
Tanta privação, no entanto, pode ser negativa, de acordo com a psicóloga Mariângela Savoya, do ambulatório de ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
"Momentos de lazer são essenciais para aliviar o estresse do vestibulando. Ir ao cinema ou sair para jantar com os amigos depois de nove ou dez horas de estudo é positivo para o rendimento."
A psicóloga Cintia Freller, especialista em adolescentes e em estresse, concorda e diz acreditar que até as baladas podem acontecer, desde que sem exageros.
"Os adolescentes têm a necessidade de sair. Isso os ajuda a retomar as energias. Acredito que a melhor solução, em vez da proibição, seja a dosagem das saídas. Uma vez por semana, aos sábados, quando há o domingo para descansar, é aceitável", diz, lembrando que o adolescente tem de saber usufruir esse momento com responsabilidade. "O jovem também não deve beber demais na festa e chegar a sua casa de manhã. Tem de haver ponderação."
Para o psicólogo especialista em relacionamentos familiares e em adolescentes e professor do Instituto de Psiquiatria da PUC-Campinas Hipólito Carretone Filho, o ano de vestibular é um período de alta concentração, e o estudante deve focar a atenção para atingir as suas metas.
"Não é a proibição do pai que vai ajudar o aluno a passar no vestibular. É o estudante que precisa estabelecer uma meta e se esforçar para alcançá-la. A ajuda do pai tem de vir antes, no primeiro ou no segundo ano do ensino médio, com o trabalho de conscientização e de criação do senso de responsabilidade. Se isso for feito, não serão necessárias interferências drásticas", afirma Carretone.
Os especialistas destacaram, além do lazer, a importância dos esportes na vida do vestibulando. "A atividade física é essencial para a produção de endorfina, hormônio responsável pela sensação de bem-estar", afirma Cintia.
Melissa, apesar de ter abdicado de sua vida social, não excluiu os esportes de sua rotina. Ela joga vôlei todos os fins de semana. "É essencial para mim. No ano passado, parei com todos os esportes [ela praticava vôlei, futebol e ia à academia no colégio] e vi que foi muito ruim. Fiquei muito mais tensa e estressada."
Elisa Cintra dos Santos, 20, que hoje está no segundo ano de turismo, lembra ter negociado que os esportes teriam de continuar quando o pai a proibiu de sair. Ela faz aula de dança e natação desde criança e afirma que, durante o ano do vestibular, essas atividades foram a válvula de escape.
"É muita pressão. Meu pai achava que eu não podia tirar a cara dos livros, mas o convenci a me deixar pelo menos continuar com os esportes."


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