São Paulo, terça-feira, 20 de outubro de 2009
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ATUALIDADES

Nobel da Paz, um golpe na era Bush


O prêmio a Obama possibilita a abertura de uma nova perspectiva para as relações internacionais


ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Surpreendente. Foi o comentário geral com o anúncio de que Barack Obama, presidente dos EUA, havia conquistado o Nobel da Paz de 2009. O Comitê Norueguês justificou a escolha ao reconhecer os esforços extraordinários de Obama para "fortalecer a cooperação entre os povos". Destacou também que o presidente dos EUA "criou um novo clima na política internacional. A diplomacia multilateral assumiu de volta uma posição central, com ênfase no papel da ONU".
Visivelmente honrado com o prêmio -que, aliás, chega em boa hora, visto que sua popularidade despenca entre os norte-americanos-, Obama aproveitou a oportunidade para reafirmar o protagonismo dos EUA no mundo: "Não vejo isso como reconhecimento dos meus feitos, mas como uma afirmação da liderança americana em nome das aspirações dos povos de todas as nações".
É inegável que o prêmio de 2009 reforça as iniciativas de Obama recompensando a Casa Branca pelo notável esforço de romper com os paradigmas do passado. Diferentemente de George W. Bush, que insistiu na instalação de um sistema antimísseis no Leste Europeu, Obama decidiu interromper sua construção, além de defender um mundo livre de armas nucleares.
O chefe da Casa Branca advoga um século 21 sem unilateralismo ou guerras preventivas, mas estruturado a partir do diálogo e do fortalecimento da ação diplomática. Se Bush era refratário aos alertas sobre o aquecimento global, Obama, em seu recente discurso na ONU, admitiu a responsabilidade dos EUA com o tema ambiental e se comprometeu a buscar alternativas relacionadas à matriz energética.
Há nove meses no comando dos EUA, Obama tomou a iniciativa de enviar uma mensagem de diálogo ao mundo árabe-muçulmano, propôs um "novo começo" aos aiatolás de Teerã e advertiu Israel de que a paz na região passa necessariamente pela criação de um Estado palestino.
Anunciou a desativação da prisão de Guantánamo, além de flexibilizar as regras para a visita de norte-americanos à ilha dos irmãos Castro. E mais, para o desapontamento dos golpistas de Honduras e dos republicanos que ainda acreditam que o país é uma "república das bananas", Obama condenou o golpe e pressiona por uma solução diplomática.
Contra a convicção dos mais céticos, o prêmio ao presidente norte-americano possibilita a abertura de uma nova perspectiva para as relações internacionais. Se Obama dobrará os seguidores da Doutrina Bush, empenhados em impor a paz e a democracia ao mundo, o tempo dirá. Como revela o Nobel, seu estilo conta ainda com muitos simpatizantes dispostos a engrossar o refrão "Yes, we can!".

ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.

rcandelori@uol.com.br


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