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PORTUGUÊS
Tanto os gestos como as palavras podem ofender
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na semana passada, foi notícia o
gesto obsceno perpetrado por
um piloto norte-americano, em
flagrante desacato aos funcionários da Polícia Federal que procediam ao fichamento de estrangeiros em aeroporto de São Paulo.
Embora, para muitos, o gesto
pudesse passar despercebido
-até mesmo sob o incômodo argumento de que se trata de uma
banalidade e de que há coisas piores etc.-, o cidadão dirigiu-o a
autoridades e, assim, a situação
adquiriu outro status: de desavença pessoal passou a ofensa ao país.
Ora, se é verdade que um gesto
vale por mil palavras, também é
certo que, às vezes, vale por um
palavrão! E foi o que desencadeou
o incidente da semana passada,
devidamente encerrado com um
pedido de desculpas, uma declaração de amor ao Brasil e o pagamento de uma multa.
Infelizmente, todo mundo
aprende a ofender os outros sem
precisar tomar aulas. Será essa
uma capacidade inata do ser humano? Aprendemos que pessoas
educadas não dizem palavrões,
mas, se fosse só esse o problema, a
solução seria simples: bastaria arrolar uma lista de termos e expressões proibidas... O palavrão,
às vezes, é dito de forma tão amistosa entre amigos que ganha ares
de elogio.
Há, porém, certas construções
bastante apropriadas a quem pretende insultar o outro sem perder
a compostura. Esse é o caso das
tão corriqueiras ironias -como
aquela de que foi vítima o rapaz
que era sabatinado pela futura sogra e, lá pelas tantas, ouviu dela:
"Você não é fino...". Ao negar o
contrário do que queria afirmar
(usou uma figura de linguagem
chamada "lítotes"), a senhora fez
sua "avaliação" do candidato e
possivelmente o deixou um pouco chateado.
Nem sempre, contudo, a lítotes
é usada com o intuito de ofender.
Pelo contrário. Se dissermos a alguém que "não é dos mais feios",
estaremos elogiando a pessoa.
Mas, até para fazer elogios, é
preciso tomar cuidado: exaltar as
virtudes do funcionário no momento da demissão, por exemplo,
é expediente dos mais comuns
para evitar constrangimentos,
mas as palavras em desarmonia
com o gesto -eufemismos à parte- podem soar indigestas.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
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