São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004
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PORTUGUÊS

Tanto os gestos como as palavras podem ofender

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na semana passada, foi notícia o gesto obsceno perpetrado por um piloto norte-americano, em flagrante desacato aos funcionários da Polícia Federal que procediam ao fichamento de estrangeiros em aeroporto de São Paulo.
Embora, para muitos, o gesto pudesse passar despercebido -até mesmo sob o incômodo argumento de que se trata de uma banalidade e de que há coisas piores etc.-, o cidadão dirigiu-o a autoridades e, assim, a situação adquiriu outro status: de desavença pessoal passou a ofensa ao país.
Ora, se é verdade que um gesto vale por mil palavras, também é certo que, às vezes, vale por um palavrão! E foi o que desencadeou o incidente da semana passada, devidamente encerrado com um pedido de desculpas, uma declaração de amor ao Brasil e o pagamento de uma multa.
Infelizmente, todo mundo aprende a ofender os outros sem precisar tomar aulas. Será essa uma capacidade inata do ser humano? Aprendemos que pessoas educadas não dizem palavrões, mas, se fosse só esse o problema, a solução seria simples: bastaria arrolar uma lista de termos e expressões proibidas... O palavrão, às vezes, é dito de forma tão amistosa entre amigos que ganha ares de elogio.
Há, porém, certas construções bastante apropriadas a quem pretende insultar o outro sem perder a compostura. Esse é o caso das tão corriqueiras ironias -como aquela de que foi vítima o rapaz que era sabatinado pela futura sogra e, lá pelas tantas, ouviu dela: "Você não é fino...". Ao negar o contrário do que queria afirmar (usou uma figura de linguagem chamada "lítotes"), a senhora fez sua "avaliação" do candidato e possivelmente o deixou um pouco chateado.
Nem sempre, contudo, a lítotes é usada com o intuito de ofender. Pelo contrário. Se dissermos a alguém que "não é dos mais feios", estaremos elogiando a pessoa.
Mas, até para fazer elogios, é preciso tomar cuidado: exaltar as virtudes do funcionário no momento da demissão, por exemplo, é expediente dos mais comuns para evitar constrangimentos, mas as palavras em desarmonia com o gesto -eufemismos à parte- podem soar indigestas.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br


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