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PORTUGUÊS
Posição do pronome pode alterar sentido da frase
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A disposição das palavras na frase pode estar a serviço tanto da
clareza da expressão como da ênfase. Aparentemente, não há diferença entre as seqüências "olhos
verdes" e "verdes olhos", já que ao
substantivo "olhos" se apõe um
atributo de cor. Mas é certo que a
anteposição do adjetivo -por ser
menos corriqueira- confere
subjetividade à expressão.
O mesmo se pode dizer de certas construções em que a função
adjetiva é exercida por pronomes
possessivos. Para indicar meramente a posse, o pronome aparece anteposto ao substantivo
("seus discos"), mas, em construções como: "Deus meu!" ou "Filho meu, que fazes?", a posposição
do possessivo empresta tom solene à expressão, que ganha ênfase.
A posposição, entretanto, nem
sempre confere solenidade à formulação. O professor vaidoso que
diz "Aluno meu não tem dúvida
nesse assunto" está dizendo que
nenhum de seus alunos tem tais
dúvidas. Note-se a ausência do artigo antes do substantivo, fundamental para que o sentido genérico seja preservado (afinal, não se
trata de um aluno em particular,
mas de qualquer um deles). Estrutura semelhante, desta vez
com anteposição de artigo indefinido, está presente no conhecido
verso do Hino Nacional Brasileiro: "Verás que um filho teu não
foge à luta...".
Há casos, porém, em que a mudança de posição do possessivo
altera, de fato, o sentido da expressão. Por exemplo: "Minhas
lembranças" são aquelas que eu
tenho, mas "lembranças minhas"
são as que os outros têm de mim.
Situação semelhante se dá com o
substantivo "fotografia": em "Você viu minhas fotografias?", as fotografias pertencem a mim ou foram tiradas por mim, mas, em
"Você viu fotografias minhas?",
as fotografias são aquelas em que
eu apareço. O mesmo se dá com
"receber sua carta"(que pertence
a você) e "receber carta sua"(enviada por você -aqui o possessivo designa o alvo de uma ação).
Esse é também o uso que faz Camões na comovente fala de Inês
de Castro ("Os Lusíadas", canto
3º), quando os possessivos indicam seres que são alvo de um sentimento: "Mova-te a piedade sua
e minha" (entenda-se a piedade
das criancinhas e de mim).
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha. E-mail:
tnicoleti@folhasp.com.br
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