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A FAVOR
Cotas para promover a igualdade
EDNA ROLAND
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mais de 200 anos depois da Revolução Francesa, a idéia da
igualdade continua a ser revolucionária, especialmente quando
se trata de medidas concretas para realizá-la. Não chega a surpreender que as cotas para negros
nas universidades venham causando tanta celeuma. Vejamos alguns argumentos utilizados:
1) Cotas para negros combatem
uma injustiça com outra, pois
suspendem o sistema de mérito
do candidato.
O primeiro equívoco desse argumento é considerar que o atual
vestibular tenha a capacidade de
medir o "mérito do candidato". O
que o vestibular mede é principalmente a qualidade do ensino oferecido aos candidatos e as suas
condições de estudo e de vida. O
vestibular mede principalmente o
mérito do sistema escolar, das
condições sociais e a desigualdade
de oportunidades.
Todavia a proposta de cotas não
abole a competição. O sistema de
cotas estabelece que a competição
deve se dar entre candidatos com
igualdade de condições para que
se possa medir o mérito dos estudantes, e não a diferença de oportunidades.
2) Cotas para negros são discriminatórias e ofensivas, pois os negros também são capazes e não
precisam disso.
Os proponentes das cotas não
têm nenhuma dúvida da capacidade dos negros e têm certeza de
que o pequeno número de negros
nas universidades deve-se não à
incapacidade, mas às barreiras
sociais concretas, que não são removidas espontaneamente. Em
mais de cem anos no Brasil, temos
menos negros na universidade do
que na África do Sul sob o apartheid. Para acelerar o processo,
são necessárias medidas especiais
já previstas na Convenção Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, ratificada pelo
Brasil desde 1968.
3) Como definir quem é negro
no Brasil?
Exatamente como o IBGE faz:
perguntando aos sujeitos.
4) As cotas vão resultar num rebaixamento dos padrões da universidade brasileira.
Pelo contrário, as cotas vão resultar num enriquecimento da
universidade, que terá a oportunidade de conviver com a diversidade cultural e a criatividade de parcela significativa do povo brasileiro. Eventuais falhas de formação
acadêmica deverão ser superadas
com programas de acompanhamento. Ou será que os oponentes
das cotas acreditam que os negros
sejam cronicamente inviáveis?
Edna Roland é psicóloga, doutoranda
do Programa de Psicologia Social da
PUC-SP, presidente da Fala preta! Organização de Mulheres Negras e foi relatora-geral da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo
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