São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002
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HISTÓRIA

Interesses políticos e econômicos nas "guerras de religião"

CLAUDIO B. RECCO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Durante os séculos 16 e 17, perseguições e guerras foram estimuladas por grupos religiosos. Porém será que por trás dos movimentos religiosos existiam outros interesses? Essa é uma questão tanto para o passado como para o presente.
Em nome de Deus, as guerras promoveram destruição e mortalidade. Os conflitos ocorridos na França são tradicionalmente explicados pela existência de dois grupos rivais, com duas religiões opostas, católica e calvinista.
O grupo católico, ou o "partido papista", era formado por membros da família real e por setores da nobreza e do alto clero; encastelados no poder, defendiam o absolutismo a partir do modelo predominante na Europa, em que a nobreza e o clero controlavam as estruturas políticas e militares.
O grupo calvinista, ou o "partido huguenote", reunia setores da burguesia francesa, com uma política oposta à da corte, pois estavam fora da estrutura de poder.
Os calvinistas não eram contra o absolutismo. Eles estavam contra o absolutismo dos católicos; contra um governo em que eram alijados do poder e, pior, em que as estruturas estavam sob controle de grupos sociais com interesses opostos. Os huguenotes reuniam setores importantes da burguesia, em um país onde o desenvolvimento capitalista foi bastante retardado, devido à Guerra dos Cem Anos e a peste, e que necessitava eliminar a influência política dos setores tradicionais.
Assim, percebemos por que setores da burguesia aderiram ao calvinismo. Não foi a teoria calvinista, explicitamente vinculada ao capitalismo, que produziu essa adesão? Não. Primeiro, porque isso é uma generalização, que pode ser notada ao percebermos que a maioria da burguesia permaneceu católica em toda a Europa. Segundo, porque, na França, a burguesia ainda era fraca -principalmente se comparada à burguesia ibérica, à holandesa e mesmo à inglesa- e percebeu que a expansão comercial dependia da conquista de colônias, em uma política amparada pelo Estado.
Nos séculos 16 e 17, importantes contradições nos permitem perceber os interesses não-religiosos nos conflitos europeus, como a Guerra dos Três Henriques ou a Guerra dos 30 Anos, na qual o cardeal Richelieu apoiou os luteranos do Sacro Império contra a Espanha católica.
Dica: faça uma comparação com movimentos atuais. Muçulmanos e cristãos são sempre adversários? Católicos e protestantes no mundo têm a mesma relação que na Irlanda nas últimas décadas?


Claudio B. Recco é coordenador do site www.historianet.com.br, professor do Objetivo e autor do livro "História em Manchete - Na Virada do Século"


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