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HISTÓRIA
Interesses políticos e econômicos nas "guerras de religião"
CLAUDIO B. RECCO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Durante os séculos 16 e 17, perseguições e guerras foram estimuladas por grupos religiosos.
Porém será que por trás dos movimentos religiosos existiam outros interesses? Essa é uma questão tanto para o passado como
para o presente.
Em nome de Deus, as guerras
promoveram destruição e mortalidade. Os conflitos ocorridos na
França são tradicionalmente explicados pela existência de dois
grupos rivais, com duas religiões
opostas, católica e calvinista.
O grupo católico, ou o "partido
papista", era formado por membros da família real e por setores
da nobreza e do alto clero; encastelados no poder, defendiam o absolutismo a partir do modelo predominante na Europa, em que a
nobreza e o clero controlavam as
estruturas políticas e militares.
O grupo calvinista, ou o "partido huguenote", reunia setores da
burguesia francesa, com uma política oposta à da corte, pois estavam fora da estrutura de poder.
Os calvinistas não eram contra o
absolutismo. Eles estavam contra
o absolutismo dos católicos; contra um governo em que eram alijados do poder e, pior, em que as
estruturas estavam sob controle
de grupos sociais com interesses
opostos. Os huguenotes reuniam
setores importantes da burguesia,
em um país onde o desenvolvimento capitalista foi bastante retardado, devido à Guerra dos
Cem Anos e a peste, e que necessitava eliminar a influência política
dos setores tradicionais.
Assim, percebemos por que setores da burguesia aderiram ao
calvinismo. Não foi a teoria calvinista, explicitamente vinculada ao
capitalismo, que produziu essa
adesão? Não. Primeiro, porque isso é uma generalização, que pode
ser notada ao percebermos que a
maioria da burguesia permaneceu católica em toda a Europa. Segundo, porque, na França, a burguesia ainda era fraca -principalmente se comparada à burguesia ibérica, à holandesa e mesmo à
inglesa- e percebeu que a expansão comercial dependia da conquista de colônias, em uma política amparada pelo Estado.
Nos séculos 16 e 17, importantes
contradições nos permitem perceber os interesses não-religiosos
nos conflitos europeus, como a
Guerra dos Três Henriques ou a
Guerra dos 30 Anos, na qual o
cardeal Richelieu apoiou os luteranos do Sacro Império contra a
Espanha católica.
Dica: faça uma comparação com
movimentos atuais. Muçulmanos e
cristãos são sempre adversários?
Católicos e protestantes no mundo
têm a mesma relação que na Irlanda nas últimas décadas?
Claudio B. Recco é coordenador do site www.historianet.com.br, professor do
Objetivo e autor do livro "História em Manchete - Na Virada do Século"
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