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DEU NA MÍDIA
Dois séculos de hegemonia dos EUA na América Latina
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O fato de eu ser paranoico
não significa que não esteja
sendo perseguido"
Millôr Fernandes
Em meio à polêmica que
agita os países da América do
Sul com o anúncio das bases
militares norte-americanas
na Colômbia, não há como
não se recordar da máxima
criada pelo ex-presidente
dos EUA James Monroe
(1817-1825): "A América para
os americanos".
Na época, o recado era dirigido à Europa. Qualquer ingerência no Novo Mundo seria vista como uma ameaça à
paz, por essa razão melhor
que a América ficasse a cargo
dos (norte) americanos.
Mais adiante, o presidente
Franklin Roosevelt (1933-1945) decidiu substituir a
prática intervencionista pela
"política de boa vizinhança",
uma forma mais diplomática
de manter a hegemonia.
Através de negociações, colaboração econômica e militar,
os EUA impediam a interferência nas nações europeias,
e, assim, atravessaram o século 20 dando as coordenadas na América.
Com o fim da Guerra Fria e
a crescente globalização
após a queda do muro de
Berlim (1989), a economia
passou a predominar num
cenário antes comandado
pela política. No vácuo do
mundo bipolar comandado
por EUA e URSS, surgia a
força da União Europeia, e o
dragão chinês começava a
avançar com voracidade sobre novos mercados.
Nesse contexto, marcado
pelas disputas econômicas,
os EUA propuseram a criação de uma Área de Livre Comércio das Américas, a Alca.
De acordo com essa nova estratégia hegemônica, seria
criado um mercado continental com um PIB superior
a US$ 13 trilhões e uma população de 830 milhões.
Mesmo com o empenho de
sucessivos governos, a proposta naufragou na gestão do
presidente George W. Bush
(2001-2009). A presença dos
EUA na região tem sofrido
alguns reveses, como o fim
do acordo que determinou a
devolução da soberania do
canal -ligação entre o Pacífico e o Atlântico- ao Panamá
em 1999, após um século de
domínio.
Nessa mesma época, os
EUA assinaram um contrato
com o Equador para a utilização da base de Manta, no
Pacífico. Rafael Correa, atual
presidente, alinhado a Hugo
Chávez, afirmou que não renovará o contrato. Sob efeito
dessa negativa, só restou aos
EUA a ampliação do Plano
Colômbia (2000) e o estabelecimento de bases militares
no país que luta contra as
Farc e o narcotráfico.
Apresenta-se para Obama
um desafio: sepultar a tese
do velho James ou será cobrado por uma retórica estéril quando se trata de soberania e desmilitarização.
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.
rcandelori@uol.com.br
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