São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009
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DEU NA MÍDIA

Dois séculos de hegemonia dos EUA na América Latina

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O fato de eu ser paranoico não significa que não esteja sendo perseguido"
Millôr Fernandes

Em meio à polêmica que agita os países da América do Sul com o anúncio das bases militares norte-americanas na Colômbia, não há como não se recordar da máxima criada pelo ex-presidente dos EUA James Monroe (1817-1825): "A América para os americanos".
Na época, o recado era dirigido à Europa. Qualquer ingerência no Novo Mundo seria vista como uma ameaça à paz, por essa razão melhor que a América ficasse a cargo dos (norte) americanos. Mais adiante, o presidente Franklin Roosevelt (1933-1945) decidiu substituir a prática intervencionista pela "política de boa vizinhança", uma forma mais diplomática de manter a hegemonia.
Através de negociações, colaboração econômica e militar, os EUA impediam a interferência nas nações europeias, e, assim, atravessaram o século 20 dando as coordenadas na América.
Com o fim da Guerra Fria e a crescente globalização após a queda do muro de Berlim (1989), a economia passou a predominar num cenário antes comandado pela política. No vácuo do mundo bipolar comandado por EUA e URSS, surgia a força da União Europeia, e o dragão chinês começava a avançar com voracidade sobre novos mercados.
Nesse contexto, marcado pelas disputas econômicas, os EUA propuseram a criação de uma Área de Livre Comércio das Américas, a Alca. De acordo com essa nova estratégia hegemônica, seria criado um mercado continental com um PIB superior a US$ 13 trilhões e uma população de 830 milhões.
Mesmo com o empenho de sucessivos governos, a proposta naufragou na gestão do presidente George W. Bush (2001-2009). A presença dos EUA na região tem sofrido alguns reveses, como o fim do acordo que determinou a devolução da soberania do canal -ligação entre o Pacífico e o Atlântico- ao Panamá em 1999, após um século de domínio.
Nessa mesma época, os EUA assinaram um contrato com o Equador para a utilização da base de Manta, no Pacífico. Rafael Correa, atual presidente, alinhado a Hugo Chávez, afirmou que não renovará o contrato. Sob efeito dessa negativa, só restou aos EUA a ampliação do Plano Colômbia (2000) e o estabelecimento de bases militares no país que luta contra as Farc e o narcotráfico.
Apresenta-se para Obama um desafio: sepultar a tese do velho James ou será cobrado por uma retórica estéril quando se trata de soberania e desmilitarização.

ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.

rcandelori@uol.com.br


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