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      São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003
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QUÍMICA

Em caso de congestionamento, desligue o motor

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Itália, março de 1944. Um trem enguiçado dentro do túnel Armi resultou em mais de 500 mortos. Em questão de minutos, todos perderam os sentidos e morreram. O que teria acontecido?
Enquanto os carros geralmente queimam gasolina, esse trem italiano queimava carvão (C+O2 CO2). Até aí, nada de mais. Acontece que nenhuma queima é ideal. Uma parte é sempre incompleta, isto é, utiliza menos oxigênio (O2) do que deveria. Resultado: formação de fuligem e de monóxido de carbono (CO) no lugar do CO2. Por ser incolor e inodoro, o CO não avisa que está chegando. Sonolência, tonturas... morte! O problema é que esse gás se combina com a hemoglobina (Hb) do sangue no lugar do O2. Sem absorver O2, a pessoa morre. Como a ligação entre o CO e o ferro (da Hb do sangue) é muito mais estável que a ligação O2-Fe, baixíssimas concentrações do veneno já podem ser letais. Foi o que aconteceu no túnel italiano e o que pode acontecer em qualquer outro.
É fácil reconhecer uma vítima dessa intoxicação. Sua pele fica rosada, já que essa é a cor da substância Hb-CO. O tratamento é simples: exposição da vítima ao ar fresco ou, melhor ainda, O2 puro. Lentamente, o O2 vai recuperando o seu lugar e expulsa o CO.
E, por falar em CO, vale lembrar o seu "primo": o íon cianeto (CN-). Eles apresentam o mesmo número de elétrons (28) e, por isso, são quimicamente semelhantes. O CN- também mata. Durante a Segunda Guerra Mundial, o gás HCN -que apresenta um suave cheiro de amêndoas- foi utilizado pelos nazistas nas câmaras de gás. Sua produção é, infelizmente, bem simples: basta adicionar umas pastilhas de cianeto de sódio em ácido sulfúrico: NaCN(s) + H2SO4(aq) HCN(g) + NaHSO4(aq).
E não é assustador saber que podemos encontrar o CN- nas sementes de algumas frutas, como cerejas e pêssegos? Calma, preso na amidalina (substância presente nessas sementes), ele não é perigoso. Só quando elas são esmagadas é que pode haver liberação de um pouquinho de HCN. Na Antigüidade, os romanos já sabiam disso, e era assim que preparavam os seus venenos.
Antídoto? Claro que há! Altas dosagens de um outro íon: o tiossulfato (S2O32-). Quer saber como isso funciona? Simples, é para isso que o meu e-mail está aí embaixo!


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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