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QUÍMICA
Em caso de congestionamento, desligue o motor
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Itália, março de 1944. Um trem
enguiçado dentro do túnel Armi resultou em mais de 500 mortos. Em questão de minutos, todos perderam os sentidos e morreram. O que teria acontecido?
Enquanto os carros geralmente
queimam gasolina, esse trem
italiano queimava carvão
(C+O2 CO2). Até aí, nada de
mais. Acontece que nenhuma
queima é ideal. Uma parte é sempre incompleta, isto é, utiliza menos oxigênio (O2) do que deveria.
Resultado: formação de fuligem e
de monóxido de carbono (CO) no
lugar do CO2. Por ser incolor e
inodoro, o CO não avisa que está
chegando. Sonolência, tonturas...
morte! O problema é que esse gás
se combina com a hemoglobina
(Hb) do sangue no lugar do O2.
Sem absorver O2, a pessoa morre.
Como a ligação entre o CO e o ferro (da Hb do sangue) é muito
mais estável que a ligação O2-Fe,
baixíssimas concentrações do veneno já podem ser letais. Foi o que
aconteceu no túnel italiano e o
que pode acontecer em qualquer
outro.
É fácil reconhecer uma vítima
dessa intoxicação. Sua pele fica
rosada, já que essa é a cor da substância Hb-CO. O tratamento é
simples: exposição da vítima ao ar
fresco ou, melhor ainda, O2 puro.
Lentamente, o O2 vai recuperando
o seu lugar e expulsa o CO.
E, por falar em CO, vale lembrar
o seu "primo": o íon cianeto
(CN-). Eles apresentam o mesmo
número de elétrons (28) e, por isso, são quimicamente semelhantes. O CN- também mata. Durante
a Segunda Guerra Mundial, o gás
HCN -que apresenta um suave
cheiro de amêndoas- foi utilizado pelos nazistas nas câmaras de
gás. Sua produção é, infelizmente,
bem simples: basta adicionar
umas pastilhas de cianeto de sódio em ácido sulfúrico:
NaCN(s) + H2SO4(aq)
HCN(g) + NaHSO4(aq).
E não é assustador saber que
podemos encontrar o CN- nas sementes de algumas frutas, como
cerejas e pêssegos? Calma, preso
na amidalina (substância presente nessas sementes), ele não é perigoso. Só quando elas são esmagadas é que pode haver liberação
de um pouquinho de HCN. Na
Antigüidade, os romanos já sabiam disso, e era assim que preparavam os seus venenos.
Antídoto? Claro que há! Altas
dosagens de um outro íon: o tiossulfato (S2O32-). Quer saber como
isso funciona? Simples, é para isso
que o meu e-mail está aí embaixo!
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail:
lula5@ig.com.br
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