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entrevista
Personagem cruel deprimiu Javier Bardem
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
"Cara ou coroa?", pergunta Anton Chigurh, personagem de Javier Bardem, ao
dono de uma mercearia de
beira de estrada. "Hã?", retruca o homem, sem imaginar que joga por sua vida,
simplesmente porque Chigurh decidiu. É assim que o
público é apresentado ao assassino que o espanhol vive
no longa dos irmãos Coen.
Se o personagem convive
em harmonia com armas e
assassinatos, o inverso se dá
com o ator. "Tenho uma aflição física de armas, como algumas pessoas têm de barata
ou rato. Sinto a morte por
perto quando vejo uma arma. Não senti nenhum poder
em segurar um revólver, só
desconforto", disse Bardem.
A produção contratou um especialista em armas para ensiná-lo a empunhar, montar,
desmontar e, principalmente, atirar. "O cara me apelidou de "a bailarina espanhola", porque eu nem olhava para as armas, dei os primeiros
tiros de olhos fechados."
A violência de Chigurh teve efeitos colaterais em seu
intérprete. "Não sou um ator
que, quando o diretor grita
"corta", vai para casa como se
nada tivesse acontecido. Fiquei deprimido por semanas.
Estava tomado pelo personagem", contou Bardem.
O que quer que tenha
acontecido nos bastidores, o
fato é que, na tela, vê-se um
homem com gana de matar.
E, afinal, é outro aspecto do
personagem que não sua
destreza com as armas ou
sua falta de expressão o que
mais impressiona na criação
de Bardem.
Inesquecível é seu corte de
cabelo, estilo coroinha, mas
que, somado ao rosto marcado, faz concluir que aquele é
um homem que não liga para
terceiros. "Passar três meses
com aquele cabelo foi outro
pesadelo", disse Bardem. "E
a culpa é do Tommy Lee Jones, que trouxe um livro de
fotos de mexicanos pobres
no Texas nos anos 60 para os
Coen. E o cabelo estava lá."
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