São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

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entrevista

Personagem cruel deprimiu Javier Bardem

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

"Cara ou coroa?", pergunta Anton Chigurh, personagem de Javier Bardem, ao dono de uma mercearia de beira de estrada. "Hã?", retruca o homem, sem imaginar que joga por sua vida, simplesmente porque Chigurh decidiu. É assim que o público é apresentado ao assassino que o espanhol vive no longa dos irmãos Coen.
Se o personagem convive em harmonia com armas e assassinatos, o inverso se dá com o ator. "Tenho uma aflição física de armas, como algumas pessoas têm de barata ou rato. Sinto a morte por perto quando vejo uma arma. Não senti nenhum poder em segurar um revólver, só desconforto", disse Bardem. A produção contratou um especialista em armas para ensiná-lo a empunhar, montar, desmontar e, principalmente, atirar. "O cara me apelidou de "a bailarina espanhola", porque eu nem olhava para as armas, dei os primeiros tiros de olhos fechados."
A violência de Chigurh teve efeitos colaterais em seu intérprete. "Não sou um ator que, quando o diretor grita "corta", vai para casa como se nada tivesse acontecido. Fiquei deprimido por semanas. Estava tomado pelo personagem", contou Bardem.
O que quer que tenha acontecido nos bastidores, o fato é que, na tela, vê-se um homem com gana de matar. E, afinal, é outro aspecto do personagem que não sua destreza com as armas ou sua falta de expressão o que mais impressiona na criação de Bardem.
Inesquecível é seu corte de cabelo, estilo coroinha, mas que, somado ao rosto marcado, faz concluir que aquele é um homem que não liga para terceiros. "Passar três meses com aquele cabelo foi outro pesadelo", disse Bardem. "E a culpa é do Tommy Lee Jones, que trouxe um livro de fotos de mexicanos pobres no Texas nos anos 60 para os Coen. E o cabelo estava lá."


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