Atriz Déborah François é o destaque de "Ao Lado da Pianista", de Denis Dercourt

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há os filmes que deixam o espectador à deriva, como os "high art" de Jean-Luc Godard (pelo menos para aqueles que acreditam que o cinema só deve contar histórias), e os que apresentam personagens e situações sem a menor empatia com a platéia. Este é o caso do thriller "Ao Lado da Pianista", de Denis Dercourt.
Temos aqui uma história de vingança, mas sem qualquer motivação ou legitimação concretas que justifiquem a ação da protagonista.
No filme, Mélanie (Déborah François) é uma aplicada menina de dez anos que é reprovada num teste de música por uma importante pianista, Ariane (Catherine Frot).
Anos depois, já adulta, de corpo formado e bem torneado -e após abandonar seu evidente talento para o teclado branco-e-preto-, ela conhece a família de Ariane e logo começa a ajudá-la em suas apresentações de piano.
É motivo suficiente para a bela e talentosa Mélanie sabotar a bacana família da pianista, incluindo marido e filho?
Parece que não, e o filme também parece concordar com isso, pois mostra, sem grande simpatia, Mélanie como uma obsessiva psicótica -por coincidência, uma mulher cheia de introspecções como outra pianista do cinema francês recente, a de "A Professora de Piano", de Michael Haneke.
Haneke é uma referência pelo registro um tanto frio e distante utilizado em "Ao Lado da Pianista", mas Dercourt pretende um suspense de sutilezas, e não um estudo "científico" da natureza humana como faz o diretor austríaco.
Maior emulação pode ser encontrada em outras musas do cinema francês, como, por exemplo, a Vanessa Paradis de "Boda Branca" (1989), de Jean-Claude Brisseau.
Essa referência às lolitas fatais do cinema francês faz o filme dar áurea atenção à sua atriz, Déborah François, que é um belíssimo sol na tela.
Com aproximação cinicamente sacra preferindo a face, porém mostrando parte e outra do corpo da moça, "Ao Lado da Pianista" acaba confrontando a vingança besta de Mélanie com a presença da intérprete, separando personagem e atriz, o que sempre é pesadelo para os atores, mas grande sorte desse diretor que salvou seu filme pela escalação do elenco.