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TELEVISÃO
O diretor David Chase e o ator James Gandolfini falam sobre a série, sucesso nos EUA há sete anos e que acabará em 2007
"Família Soprano" anuncia seu final
BILL CARTER
DO "NEW YORK TIMES"
Na parede de uma sala nos escritórios de produção de "A Família Soprano" há uma foto de
um homem com o rosto semicoberto por um chapéu.
Passando a seu lado com seu andar desajeitado, mais lento em
função de um machucado na perna, James Gandolfini parou e perguntou: "Quem é esse?". "Fellini",
respondeu David Chase.
Federico Fellini pode parecer
uma escolha inesperada para
adornar uma sala onde é planejado um seriado da TV americana
-mas por que não? Essa televisão já teve algum seriado mais rico nas complexidades da vida familiar -em todas as suas conotações- e mais italiano em seu ambiente (ou, no caso, ítalo-americano) do que "Família Soprano"?
"É um processo de descoberta",
diz Chase, criador e produtor executivo da série, resumindo como
tudo ocorreu. "Acho que Fellini
falou que criar um filme é como
fazer uma viagem."
A viagem de "Família Soprano"
vem sendo uma das mais elogiadas na história da televisão. O seriado mais popular da TV a cabo
americana, "Família Soprano" é
uma força a ser levada em conta
em toda a paisagem do meio televisivo e até mesmo da cultura
mais ampla. Não existem duas
pessoas mais importantes em
conduzir essa viagem do que Chase, que participou de todos os episódios dos sete anos do seriado, e
Gandolfini, três vezes premiado
com o Emmy de melhor ator, que
infundiu vida visceral e pungente
ao personagem Tony Soprano.
Em entrevista concedida nos estúdios Silvercup, no Queens, onde são rodadas cenas de "Família
Soprano", os dois analisaram o
homem fascinante, volátil e repleto de conflitos que criaram. Tão
lacônico em pessoa quanto é volúvel no seriado, Gandolfini falou:
"Odeio dizer isto, mas neste momento existe uma certa indefinição". Chase interveio: "O interessante é que ser você mesmo é uma
espécie de indefinição".
Uma coisa que os dois já sabem
ao certo é que a viagem de "A Família Soprano" está chegando ao
fim. Após anos de especulação,
Chase e os executivos da HBO
concordaram que a próxima temporada de 12 episódios, que começará a ser exibida nos EUA em
12/3, seria a última -mas renegociaram e inseriram uma minitemporada de oito capítulos, que irá
ao ar a partir de janeiro de 2007.
James Gandolfini descreveu os
episódios adicionais como "prorrogação", algo que lhe permitiu
adiar por algum tempo a reflexão
sobre o que esse fim irá significar.
Embora não aparentem ser especialmente íntimos, fica claro
que Chase e Gandolfini se sentem
à vontade um com o outro, fazendo piadas sobre momentos desses
últimos sete anos de trabalho
criativo conjunto. A colaboração
não foi do tipo que se ouve falar
com freqüência na televisão, em
que o astro começa a ditar tramas
e traços do personagem. "Alguns
atores fazem sugestões sem nem
saber porque as estão fazendo",
disse Gandolfini. "Se começasse a
impor minhas idéias, seria o pandemônio total."
Chase esteve a maior parte de
sua carreira pré-"Família Soprano" em seriados de TV, por isso
falou com base em anos de experiência quando explicou: "Os atores às vezes dizem "meu personagem não diria tal coisa". Quem falou que é seu personagem?" Gandolfini riu, e Chase acrescentou:
"Jim nunca disse algo assim".
Entretanto, Gandolfini já fez
contribuições importantes -em
especial, observou Chase, ao
transmitir apenas com seus olhos,
a sensação da profundidade emocional existente por trás da presença física ameaçadora de Tony.
Então como "Família Soprano"
vai terminar? Chase não revelou
nada, é claro, exceto por reafirmar
que "será o fim absoluto". Mas,
acrescentou: "Não posso prometer que a gente não volte e ainda
faça um filme. Pode ser que dentro de três ou quatro anos eu esteja sentado em algum lugar e tenha
uma idéia para um filme fantástico. Não imagino que isso vá acontecer. Mas, se um dia alguém
acordasse e dissesse que isso daria
uma história "Sopranos" ótima,
não excluiria essa possibilidade."
Gandolfini tem planos tênues
para seu primeiro trabalho pós-"soprano". Ele pensa em protagonizar um filme sobre a vida de Ernest Hemingway na meia-idade.
Tradução Clara Allain
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