São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2006

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TELEVISÃO

O diretor David Chase e o ator James Gandolfini falam sobre a série, sucesso nos EUA há sete anos e que acabará em 2007

"Família Soprano" anuncia seu final

BILL CARTER
DO "NEW YORK TIMES"

Na parede de uma sala nos escritórios de produção de "A Família Soprano" há uma foto de um homem com o rosto semicoberto por um chapéu.
Passando a seu lado com seu andar desajeitado, mais lento em função de um machucado na perna, James Gandolfini parou e perguntou: "Quem é esse?". "Fellini", respondeu David Chase.
Federico Fellini pode parecer uma escolha inesperada para adornar uma sala onde é planejado um seriado da TV americana -mas por que não? Essa televisão já teve algum seriado mais rico nas complexidades da vida familiar -em todas as suas conotações- e mais italiano em seu ambiente (ou, no caso, ítalo-americano) do que "Família Soprano"?
"É um processo de descoberta", diz Chase, criador e produtor executivo da série, resumindo como tudo ocorreu. "Acho que Fellini falou que criar um filme é como fazer uma viagem."
A viagem de "Família Soprano" vem sendo uma das mais elogiadas na história da televisão. O seriado mais popular da TV a cabo americana, "Família Soprano" é uma força a ser levada em conta em toda a paisagem do meio televisivo e até mesmo da cultura mais ampla. Não existem duas pessoas mais importantes em conduzir essa viagem do que Chase, que participou de todos os episódios dos sete anos do seriado, e Gandolfini, três vezes premiado com o Emmy de melhor ator, que infundiu vida visceral e pungente ao personagem Tony Soprano.
Em entrevista concedida nos estúdios Silvercup, no Queens, onde são rodadas cenas de "Família Soprano", os dois analisaram o homem fascinante, volátil e repleto de conflitos que criaram. Tão lacônico em pessoa quanto é volúvel no seriado, Gandolfini falou: "Odeio dizer isto, mas neste momento existe uma certa indefinição". Chase interveio: "O interessante é que ser você mesmo é uma espécie de indefinição".
Uma coisa que os dois já sabem ao certo é que a viagem de "A Família Soprano" está chegando ao fim. Após anos de especulação, Chase e os executivos da HBO concordaram que a próxima temporada de 12 episódios, que começará a ser exibida nos EUA em 12/3, seria a última -mas renegociaram e inseriram uma minitemporada de oito capítulos, que irá ao ar a partir de janeiro de 2007.
James Gandolfini descreveu os episódios adicionais como "prorrogação", algo que lhe permitiu adiar por algum tempo a reflexão sobre o que esse fim irá significar.
Embora não aparentem ser especialmente íntimos, fica claro que Chase e Gandolfini se sentem à vontade um com o outro, fazendo piadas sobre momentos desses últimos sete anos de trabalho criativo conjunto. A colaboração não foi do tipo que se ouve falar com freqüência na televisão, em que o astro começa a ditar tramas e traços do personagem. "Alguns atores fazem sugestões sem nem saber porque as estão fazendo", disse Gandolfini. "Se começasse a impor minhas idéias, seria o pandemônio total."
Chase esteve a maior parte de sua carreira pré-"Família Soprano" em seriados de TV, por isso falou com base em anos de experiência quando explicou: "Os atores às vezes dizem "meu personagem não diria tal coisa". Quem falou que é seu personagem?" Gandolfini riu, e Chase acrescentou: "Jim nunca disse algo assim".
Entretanto, Gandolfini já fez contribuições importantes -em especial, observou Chase, ao transmitir apenas com seus olhos, a sensação da profundidade emocional existente por trás da presença física ameaçadora de Tony.
Então como "Família Soprano" vai terminar? Chase não revelou nada, é claro, exceto por reafirmar que "será o fim absoluto". Mas, acrescentou: "Não posso prometer que a gente não volte e ainda faça um filme. Pode ser que dentro de três ou quatro anos eu esteja sentado em algum lugar e tenha uma idéia para um filme fantástico. Não imagino que isso vá acontecer. Mas, se um dia alguém acordasse e dissesse que isso daria uma história "Sopranos" ótima, não excluiria essa possibilidade."
Gandolfini tem planos tênues para seu primeiro trabalho pós-"soprano". Ele pensa em protagonizar um filme sobre a vida de Ernest Hemingway na meia-idade.


Tradução Clara Allain


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