EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em "Olhar Estrangeiro", a cineasta Lúcia Murat investiga, com bom humor, os disparates cometidos no cinema, sobretudo em Hollywood, mas também na França, ao retratar o Brasil. No documentário, cuja versão televisiva o canal da Rede SescSenac exibe hoje, às 18h30, a diretora conta mais de 220 filmes em que o país é personagem e vai atrás de diretores, produtores e elenco, para comentar não só os estereótipos -o trinômio samba, futebol e sensualidade-, mas também equívocos culturais, como a cerimônia de casamento com caricatura de candomblé da comédia "Blame it on Rio" (1984).
A lista de enganos não pára: o ator Jon Voigt se lembra do drama "O Campeão" (1979), em que seu personagem fala em dançar o cha-cha-chá no Brasil. O mesmo Voigt conta que, em "Anaconda" (1997), se inspirou numa massagista argentina para fazer o sotaque de seu personagem, que vive na Amazônia. O diretor Zalman King diz que Salvador aparece como o Rio em "Orquídea Selvagem" (1990) porque era assim que ele tinha a cidade em mente.
Enquanto os atores tentam se defender, dizendo que muitas vezes não tinham idéia dos equívocos que envolviam o roteiro e seus personagens, diretores e produtores explicam suas escolhas com justificativas estapafúrdias. O francês Gérard Lauzier, por exemplo, conta que optou por "filmar o Brasil" na Venezuela em "Le Fils du Français" porque o real estava caro em 1999.
Um dos momentos mais divertidos do documentário fica por conta do comentário irônico do ator Michael Caine, protagonista de "Blame it on Rio": para evitar que apenas clichês do Brasil sejam mostrados no cinema, Caine sugere que os brasileiros dancem menos e sejam menos bonitos. Como é o caso dos ingleses como ele, que, sustenta o ator, são levados mais a sério.