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COMIDA
¡Vamos tapear!
Enganar, iludir?
Nada disso, "tapear", em espanhol,
é o ato de
comer tapas, os tira-gostos que ganham nova casa em São Paulo, o Eñe, dos gêmeos catalães Sergio e Javier Torres
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ir de bar em bar, "picando"
pequenos bocados de comida.
A divertida tradição "del tapeo", cultura que leva os espanhóis a uma infinidade de bares
de tapas na mesma noite, já pode ser reproduzida por aqui. Isso porque a oferta de restaurantes e bares de tapas aumentou consideravelmente em São
Paulo nos últimos anos.
As tapas nada mais são que
pequenas porções, quentes ou
frias, de diferentes alimentos
salgados. Na Espanha, costumam ser servidas com Jerez
-o vinho fortificado espanhol.
Daqui a duas semanas, os tira-gostos espanhóis ganharão o
reforço de uma casa de peso: o
Eñe -o restaurante abrirá aos
clientes no próximo dia 20.
Tendo à frente os chefs catalães Sergio e Javier Torres, conhecidos como os "gêmeos de
ouro" da moderna gastronomia
espanhola, o Eñe terá espaço
tanto para tapas mais elaboradas quanto para receitas clássicas, como a paella e o fideuá,
mas atualizadas. Na carta de vinhos, só rótulos espanhóis.
"A linha da cozinha é a espanhola, com raízes da Catalunha. É um conceito de tapas
bastante cuidado", diz à Folha
Javier Torres, que divide com o
irmão o cargo de chef-consultor -ambos são sócios do ex-executivo Arcadio Martinez.
Por tapas cuidados, entendam-se bocados bem montados que, pela beleza, despertam
um temor de levá-los à boca.
Mas, na essência, são simples.
Podem ser ovinhos de codorna
fritos sobre fatias de batata, ou
almôndegas adornadas com lula, ou fatias de polvo com alho e
louro.
"O importante é que, respeitando os produtos e dando-lhes
uma estética, venha-lhe à memória a infância, ou recordações de uma comida", diz Javier Torres. "O mérito do cozinheiro não está em saber manipular uma lagosta com caviar.
Eu, como consumidor, quero
que me surpreendam com uma
batata, com um legume. Às vezes, o simples é o melhor."
O conceito da simplicidade,
no entanto, não necessariamente dispensa o uso da tecnologia quando esta pode extrair
dos alimentos o que há de melhor neles. O gastrovac, um
equipamento criado pelos gêmeos, permite, entre outras
coisas, que as comidas sejam
cozidas à vácuo, em baixas
temperaturas, sem que as fibras sejam rompidas e com
realce no sabor. Sucesso na Europa, nos EUA e no Japão, o
equipamento, por enquanto,
não será usado no Eñe. Mas há
a intenção de incorporar depois pratos elaborados com ele.
Tampa de taça
Em meio a várias teorias sobre a origem das tapas, a mais
factível é a de que os espanhóis
usavam fatias de presunto, de
chorizo ou de queijo para tapar
as taças de vinho e, assim, protegê-las das moscas.
A idéia das tapas, de comer
pouco e de maneira variada,
sem necessariamente ter de pedir um prato principal, ainda é
nova por aqui, mas não intimida o chef catalão.
"Estou seguro de que os brasileiros vão gostar. Primeiro
porque é uma forma de comer
muito mais divertida, que não é
a de pedir uma entrada, o prato
principal e pronto. Te dá mais
informação", opina Javier.
A diversidade de tapas do
Eñe poderá ser apreciada em
um misto de menu-degustação
com menu-confiança. Quem fizer essa opção, experimentará,
às cegas, oito tapas e duas sobremesas escolhidas pelo chef.
No balcão
Instalado no número 213 da
rua Dr. Mario Ferraz (esquina
com a rua Artur Ramos, no Jardim Paulistano, tel. 0/xx/11/
3816-4333), o Eñe dará lugar de
honra àquele que na Espanha é
o protagonista de qualquer bar
de tapas: o balcão. Talvez esteja
aí o segundo tabu a ser quebrado no Brasil: embora a maioria
das casas de tapas tenham balcão, eles raramente são usados.
"Sou fascinado por balcões.
Prefiro o balcão à mesa. O encontro é mais divertido."
É nítida a intenção de que o
Eñe, apesar do inevitável requinte da alta gastronomia, seja um lugar mais descontraído,
mas o couvert médio não é dos
mais baratos, estimado entre
R$ 60 e R$ 80 (sem vinho).
A cozinha, toda envidraçada,
permitirá ao cliente acompanhar o vai-e-vem à beira do fogão. Se a visão a partir do salão
ainda não for suficiente, pode-se optar por sentar numa mesa... dentro da cozinha. A cada
noite, quatro pessoas poderão
desfrutar essa experiência.
E, dentro ou fora da cozinha,
é bom ficar atento a um princípio das tapas: o de usar as mãos
para comê-las sempre que possível. "Se vejo alguém comer
com talheres, dou minha opinião. Digo: "Perdão, mas pegue
o camarão com as mãos e o chupe". O restaurante tem de ser
descontraído para que todos se
sintam à vontade para comer
com as mãos e desfrutem sem a
barreira das boas maneiras."
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