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LIVRO LANÇAMENTOS
Procópio escreve um documento de si mesmo
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
"Cheguei a este mundo no
dia 8 de julho de
1898. Não decretaram feriado nem ponto
facultativo, coisa que em nada me
aborreceu. Sou modesto demais
para não fazer caso de pompas e
honrarias."
Isso é Procópio Ferreira, numa
das primeiras passagens de "Procópio Ferreira Apresenta Procópio", livro que tem como subtítulo "Um Depoimento para a História do Teatro no Brasil". Não se
trata de uma biografia, de fato. É
uma coletânea irregular sobre um
ator nada modesto e que certamente não tinha razão para isso.
Outra passagem: "Os motivos
aqui encerrados referem-se a um
ciclo teatral do qual eu sou o símbolo, ou melhor, um ciclo em que
avulta a figura inconfundível de
um compositor de individualidades artísticas. Fui eu, em 50 anos
de atividade ininterrupta, o único
que manteve à altura de seus verdadeiros desígnios a arte cênica
objetiva entre nós".
Ele completa: "Em que pese todas as opiniões em contrário para
negar-me ou destruir-me". Para
quem se interessa pela trajetória
de Procópio, visto invariavelmente como o maior ator do teatro
brasileiro, o livro se revela, uma
vez mais, uma resposta aos críticos, àqueles que não o compreenderam, não entenderam o valor
da comédia e da consagração popular -acima do gosto, como ele
escreve, da "elite".
Já não era outra coisa "O Ator
Vasques", conhecida biografia do
ator cômico Francisco Corrêa
Vasques, de êxito popular no século 19 e que Procópio, naquele livro, contrapõe ao trágico consagrado -e sem público- João
Caetano.
O grande ator, que morreu em
1979, tinha consciência das limitações deste "Procópio Ferreira
Apresenta Procópio" -aliás, um
manuscrito só descoberto poucos
anos atrás, quando sua filha, a
atriz e diretora Bibi Ferreira, iniciou as pesquisas para o centenário de nascimento do pai, marcado por exposições e pela remontagem de "Deus lhe Pague".
São "subsídios", escreve Procópio, "para quem pretende amanhã tecer um verdadeiro livro sobre o teatro no Brasil". Como subsídio, como um documento, o livro tem muito a oferecer, ainda
que não se encontrem novidades.
São três livros num só, pode-se
dizer. O primeiro, de pouco mais
de 50 páginas, é uma pequena
biografia do início da vida e da
carreira -com a formação na Escola Dramática, muito questionada pelo ator por fechar-se na teoria; a estréia e os primeiros espetáculos; os modelos, como Leopoldo Fróes e Ítala Fausta; o sucesso
do personagem do Fogueteiro,
em "A Juriti", de Viriato Corrêa.
O segundo, de mais de 150 páginas, não é muito além de uma tediosa coleção de textos críticos,
publicados em jornais até 1936.
Mas também aqui encontram-se
qualidades documentais, como
nos textos do modernista Antônio de Alcântara Machado, o precursor da crítica paulista. Seu tratamento a Procópio é impiedoso.
Para o ator, A. de A.M., como
Machado assinava no "Jornal do
Commercio", iniciou uma "odiosa campanha" de "injustas e descabíveis desforras do despeito, da
má-fé, da maldade, ou que qualquer outro nome tenha". Eram os
primeiros passos da Cia. Procópio Ferreira, nos anos 20, o que
ajuda a entender a obsessiva autodefesa do ator, dali em diante.
O terceiro e último "livro" de
"Procópio Ferreira Apresenta
Procópio" é o que mais promete e
é o mais frustrante. Diz o ator:
"Fiz da memória o meu arquivo.
Conforme ela for ditando, irei escrevendo. Não há método, não há
ordem cronológica, nada. É o que
vier". Não vem muita coisa. As
passagens sobre o autor Joracy
Camargo e sua "Deus lhe Pague",
por exemplo, perdem para qualquer entrevista, em detalhes e revelações. As observações sobre
Molière, de quem Procópio montou diversas peças; o relato sobre
sua ligação com Vargas; sobretudo os registros das velhas paixões:
é tudo muito superficial.
Salvam-se curiosidades, frases
de efeito, equívocos engraçados,
como considerar "Deus lhe Pague" uma "peça vanguardista".
Salva-se também a visão de Procópio sobre o teatro que o suplantaria, desde as primeiras experiências de Flávio de Carvalho até
Os Comediantes, todos combatidos por Procópio.
Avaliação:
Livro: Procópio Ferreira Apresenta
Procópio
Autor: Procópio Ferreira
Editora: Rocco
Quanto: R$ 35 (416 págs.)
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